Reinaldo Azevedo
Há muito tempo o governo
federal e as estatais são a principal fonte de financiamento (em alguns casos,
a única) de um troço parecido com jornalismo, mas que é outra coisa. E que
coisa é essa? Trata-se de uma central de difamação e de desqualificação de políticos
da oposição, de figuras do Judiciário e da própria imprensa. O dinheiro público
é usado com o objetivo de atender aos interesses do governo, mas mais
particularmente de um partido: o PT.
Participam dessa rede de difamação sites, blogs, jornais, revistas e, se querem saber, até uma emissora de televisão, que é uma concessão pública. O PSDB pediu que a Procuradoria-Geral Eleitoral investigue o caso. E a turma, alimentada com o capilé oficial, saiu gritando: “Censura!” Censura uma ova! Alguns espertalhões, apostando na idiotia de seus próprios leitores, tentaram se defender: “As estatais patrocinam também páginas que apoiam outros partidos”. Eles escolhem a chicana. Nós escolhemos os fatos. Vamos lá.
Participam dessa rede de difamação sites, blogs, jornais, revistas e, se querem saber, até uma emissora de televisão, que é uma concessão pública. O PSDB pediu que a Procuradoria-Geral Eleitoral investigue o caso. E a turma, alimentada com o capilé oficial, saiu gritando: “Censura!” Censura uma ova! Alguns espertalhões, apostando na idiotia de seus próprios leitores, tentaram se defender: “As estatais patrocinam também páginas que apoiam outros partidos”. Eles escolhem a chicana. Nós escolhemos os fatos. Vamos lá.
Em primeiríssimo lugar, há uma
grande, gigantesca mesmo!, diferença entre expressar uma opinião, um ponto de
vista, um conjunto de valores — de direita, de centro, de esquerda, alinhada
apenas com a estrelas — e existir com o propósito único de difamar este ou
aquele. Era fatal que os mixurucas tentassem usar o meu blog como uma espécie
de contraexemplo: “Vejam lá, de vez em quando, há anúncios de estatais no blog
do Reinaldo Azevedo”. Há, sim! Só que não cuido disso e são anúncios da VEJA
Online. Depois que fechei a revista Primeira Leitura, nunca mais falei com
representantes da área de publicidade de empresas ou de agências. Mas ainda que
fossem anúncios exclusivos no meu blog, será que estaríamos falando da mesma
coisa?
Faço análise política segundo
um ponto de vista. Recorro à ironia, sim, mas não ao deboche sob encomenda. Sou
muito duro na defesa de alguns pontos de vista, mas nunca vou além dos fatos;
sou judicioso a respeito deles, o que é coisa bem distinta. Argumento,
argumento, argumento a mais não poder, de forma, às vezes, exaustiva. Acabo de
botar o ponto final no livro “O País dos Petralhas II”, uma seleção de textos
deste blog. Trata-se de um livro sobre
política. Não há xingamentos ali, como não há em “O País dos Petralhas I”.
“Ah, mas você só fala mal do
governo”. Ainda que fosse absolutamente legítimo alguém “só falar mal do
governo” (ou da oposição, diga-se), nem isso é verdade. Elogiei há dois dias
uma decisão da Advocacia Geral da União sobre as terras indígenas, que certamente
contou com o apoio da presidente Dilma Rousseff. Quando começou aquela onda
bucéfala contra a construção de Belo Monte, não entrei na chacrinha — porque
nem tudo o que não é PT me interessa. Quando o Banco Central decidiu cortar a
taxa de juros, fui dos poucos que aplaudiram a decisão — embora Guido Mantega
não esteja entre as figuras públicas que excitam a minha imaginação (e, creio,
a de ninguém). No caso do Código Florestal, as minhas posições não se
distinguiram muito das do Planalto. Escrevi ontem um texto sobre a greve dos
professores das universidades federais. Sou um crítico severo das escolhas
feitas por Fernando Haddad. Mas basta ler o que escrevi para deixar claro que
não aderi à pauta dos grevistas só porque, afinal, o governo está numa situação
difícil… Eu não peço licença para gostar disso ou daquilo. E também não peço
licença para não gostar.
À diferença do que dizem os
promotores da esgotosfera — afinal, eu sou um dos seus alvos permanentes, como
fica claro mais uma vez —, a área de comentários do meu blog não se confunde
com a baixaria que eles promovem. Os leitores expressam, sim, o seu ponto de
vista com muita clareza, mas os excessos são cortados. Se escapam uma
inconveniência ou outra — é muita gente opinando —, advertido pelos próprios leitores,
eu as excluo. Vocês sabem, no entanto, do que eles são capazes os leitores
“deles”. Não têm limites! Patrocinados com dinheiro público, os responsáveis
por aquelas páginas deixam que prosperem a calúnia, a injúria, a difamação, o
deboche, o achincalhe puro e simples.
Acima, escrevo alguns
parágrafos fazendo a distinção entre a sujeira e um trabalho de análise
política, pautada por um conjunto de valores. É importante porque, reitero, o
joio tenta se fazer trigo para igualar o vicioso ao virtuoso. Mas ainda falta
uma questão essencial, definidora mesmo do que é o quê e de quem é quem. E
começo a tratar dela com um princípio, um fundamento. Fosse pelo meu gosto, não
haveria estatais no Brasil — nos EUA, por exemplo, esse debate seria impossível
—, a não ser um ente ou outro ligados à segurança do estado e da sociedade, que
dispensariam a propaganda. Nos EUA, por exemplo, esse debate seria ocioso.
Também pelo meu gosto, o governo federal — neste governo ou em qualquer outro —
jamais seria o maior anunciante do país, o que é uma distorção da democracia
brasileira. Isso tudo, no entanto, existe.
Sendo assim, o centro do
debate é outro. EXISTEM VEÍCULOS QUE TÊM ESTATAIS EM SUA CARTEIRA DE
ANUNCIANTES. DADAS AS LEIS BRASILEIRAS, NÃO HÁ NADA DE ERRADO NISSO. POR QUE
RENUNCIARIAM A UMA RECEITA QUE ESTÁ DISPONÍVEL E QUE É DISPUTADA POR MUITOS?
Isso é da natureza do jogo. Como não dependem do governo federal ou das
estatais para existir, esses veículos podem, então, fazer um jornalismo
independente, que não se subordina à vontade desse ou daquele. Suas
reportagens, análises e opiniões são pautadas, pelo interesse público e,
claro!, pela linha editorial que adotam e pelo público com o qual querem manter
o diálogo mais estreito. Dediquem-se à economia, à política, à cultura ou ao
entretenimento, disputam o que chamo mercado de ideias, e ninguém lhe impõe a
pauta. Quantas vezes vocês já leram na VEJA e nos demais veículos da grande
imprensa críticas aos bancos ou à indústria automobilística, embora se possam
ver em suas páginas anúncios dos bancos e da indústria automobilística? Esse é
o mundo livre!
Mas há aqueles — e é disso que
se cuida aqui — QUE SÓ EXISTEM PORQUE SÃO FINANCIADOS PELO DINHEIRO PÚBLICO.
Sem a grana oficial ou sem o emprego numa estatal, não existiriam, não teriam
como se financiar. SÃO, EM SUMA, DEPENDENTES DE QUEM OS FINANCIA E PASSAM A
EXERCER, POIS, UM TRABALHO A SOLDO, SOB MANDO, SOB ENCOMENDA.
“Ah, Reinaldo, isso não pode
ser feito também com empresas privadas? Não existem pistoleiros que estão a
serviço de seus financiadores privados?” Claro que sim! E o fato é igualmente
lamentável no que concerne à ética jornalística, mas mesmo aqui se note uma
diferença: não estão lidando com dinheiro público. A verba de anúncio de
governos e de estatais, meus caros, em última instância, pertence a todos os
brasileiros — àqueles que apoiam e àqueles que não apoiam o governo; àqueles
que votaram e àqueles que não votaram no PT.
Eis o caráter deletério dessa
gente. Quando o governo federal e as estatais financiam páginas ou revistas que
só existem em razão do dinheiro oficial; quando o governo federal e as estatais
financiam páginas ou revistas que se dedicam à difamação de figuras da
oposição, do Judiciário e da própria imprensa; quando o governo federal e as
estatais sustentam essas redes de desqualificação, é evidente que assistimos a
uma forma de privatização do estado, a serviço de um grupo.
Alguns oportunistas gritam
agora: “Censura! Censura! Fulano quer censura!” É a tática de sempre! Recorrem
às Santas Escrituras da liberdade de imprensa para defender o Asmodeus de todos
os vícios, de todas as licenciosidades, de todas as baixarias.
Há, em suma, uma diferença
entre os veículos que contam TAMBÉM com governos e estatais na sua carteira de
anunciantes e aqueles que SÓ existem porque financiados por governos e
estatais. Os anunciantes, minhas caras, meus caros, são o esteio da opinião
livre. Sem eles, ficaríamos todos reféns do estado e de seus entes. Quanto
mais, melhor! A liberdade de imprensa deve, sim, depender de todos os
anunciantes para que não precise depender de nenhum em particular. É o segredo
dos países livres. A subimprensa, a rede suja, não é nem quer ser livre. Existe
para prestar serviço a quem paga as contas. Ocorre que estamos falando de
dinheiro público. Vamos ver o que vai dizer o Ministério Público Eleitoral. Se
não vir nada demais do que está em curso, então tudo é permitido.
Título e Texto: Reinaldo
Azevedo, 24-7-2012
Reinaldo, vem pra Portugal, vem!
Vou citar a "última": ontem, o primeiro-ministro português, num discurso para deputados do seu partido, disse "Que se lixe as eleições, o que interessa é Portugal", uma figura de retórica, sem dúvida! Meu irmão, o mundo caíu. E os insultos e as ofensas não param. Eu disse, insultos e ofensas. Eles estão deseperados com a possibilidade de Portugal se reerguer, sob a batuta de um governo de "direita", "neoliberal", "ultraliberal"...
Vou citar a "última": ontem, o primeiro-ministro português, num discurso para deputados do seu partido, disse "Que se lixe as eleições, o que interessa é Portugal", uma figura de retórica, sem dúvida! Meu irmão, o mundo caíu. E os insultos e as ofensas não param. Eu disse, insultos e ofensas. Eles estão deseperados com a possibilidade de Portugal se reerguer, sob a batuta de um governo de "direita", "neoliberal", "ultraliberal"...
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