João Bosco Leal
“O amor é como fogo: para que dure é preciso alimentá-lo”.
Lendo o pensamento do Duque
François La Rochefoucauld, que viveu em Paris de 1613 a 1680, pensei em como
todos demoramos a aprender essa regra simples – válida para o amor, as amizades
e todo tipo de relacionamento -, e de como, apesar da farta literatura existente
a esse respeito, dos infindáveis conselhos e sugestões que se ouve desde essa
época, ela raramente é absorvida de modo a se tornar uma prática comum.
Essa necessidade também está
presente em qualquer outro tipo de relacionamento, inclusive os comerciais, e
como diz um velho ditado: “quem não é visto ou ouvido, não é lembrado”.
Todos sabem que são os
pequenos detalhes que mantém acesas as chamas da amizade, mas mesmo assim
raramente nos lembramos de telefonar para aquele amigo de anos e que há muito
não vemos, simplesmente para cumprimentá-lo pelo aniversário, saber como está sua
família e coisas assim.
O atual nível de automação do
sistema bancário brasileiro é um exemplo, pois com a necessidade cada vez menor
do cliente se dirigir à sua agência, seu relacionamento com os funcionários
deste diminuem ou até acabam e com a rotatividade de seus quadros normalmente
promovida pelos mesmos, quando necessitar de algo já não conhecerá ninguém dos
que lá trabalham.
Mesmo que ao telefone, é muito
importante o contato frequente, inclusive com os filhos adultos – que já se
casaram e agora com sua própria família residem em outra casa -, dos quais
também iremos afastando, se não o fizermos.
Nos relacionamentos amorosos
essas necessidades são ainda maiores porque além de frequentemente nutrir a
relação com gestos e palavras de carinho, existem outras que precisam ser
supridas, como a geração, criação e educação dos filhos, instinto natural da
preservação da espécie.
Com a maturidade, quando já se
buscam outros valores além da beleza física e já não se pretende mais ter
filhos, aumentam as possibilidades de se encontrar e viver um amor diferente,
mais profundo, onde as exigências mais importantes serão a amizade, a
cumplicidade e principalmente o companheirismo.
Nessa fase, quando já
percebemos a necessidade da alimentação dos relacionamentos, passamos a
fazê-lo, mas certamente também queremos ver essas atitudes correspondidas, o
que nem sempre ocorre, principalmente porque seu parceiro pode ainda não haver
adquirido essa compreensão.
Outra coisa que pode
atrapalhar esse tipo de relacionamento são as interferências externas,
normalmente provenientes daqueles cuja visão não alcança a profundidade de um
amor mais maduro e a não percepção, por essa parte, de que aqueles que estão
interferindo não serão seus companheiros na solidão da velhice.
Normalmente os filhos e netos
de um adulto separado, divorciado ou viúvo, deixam de pensar que em muito
poucos anos estarão distantes, cuidando de sua própria vida e, com suas
interferências irresponsáveis ou egoístas, talvez acabem com a possibilidade de
um de seus pais possuírem, ao seu lado, uma amizade, cumplicidade e companhia,
que é o que realmente importará em sua velhice.
Isso normalmente é muito
dolorido para aquele que não teve correspondido o que doou, ou que percebeu as
interferências externas sobre seu par que provocaram o rompimento, mas como
todas as outras, a ressaca dolorosa também passa e, depois de algum tempo, ele
estará pronto e deve realizar uma nova tentativa, pois envelhecer só deve ser
muito triste, sendo, portanto, a pior escolha.
Nenhum amor é grande o suficiente para sobreviver sem demonstrações
efetivas daquilo que se diz.
Título, Imagem e Texto: João
Bosco Leal
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