terça-feira, 24 de julho de 2012

Os benefícios da crise

A comunicação "social" em Portugal...

Vítor Rainho
Para quem vive da informação, é natural que se comece o dia ouvindo noticiários. O que se terá passado enquanto se dormiu?
Ligando a televisão nos canais informativos fica-se com uma ideia e com a noção de que não se será surpreendido ao chegar ao jornal. Esse é um ritual que cumpro há muitos anos. Sem querer ser desagradável, nem corporativo, diga-se que muitas vezes fico estupefacto com a qualidade dos repórteres dos directos, já não falando de alguns pivôs que olham para as primeiras páginas dos jornais e só conseguem decifrar as questões políticas mais na berra. Então quando a matéria versa sobre desporto é quase de ir às lágrimas...
Percebo que os canais informativos precisam de encher a programação com os famosos directos. Daí ser um clássico irem para a rua ouvir o que as pessoas têm a dizer sobre os temas da actualidade. Aumentou o preço dos combustíveis, logo se envia um repórter diligente para as bombas de combustível que irá ouvir, certamente, muitos comentários desfavoráveis aos ditos aumentos... Há greve dos transportes? Fala-se com alguém que vai dizer, mais uma vez, mal do Governo e dos grevistas. Os exemplos são mais do que muitos.
Percebo que tempo é dinheiro e não se pode perder muito tempo a investigar ou a elucidar os jornalistas de serviço para enquadrarem o tema que estão a noticiar. Que há uma crise profunda e que há milhares de pessoas que vivem momentos angustiantes, ninguém tem dúvidas. Os problemas sociais agravam-se de dia para dia e ninguém pode ficar indiferente a eles.
No entanto, convém ter algum bom senso para não se cair no ridículo. Há dias, um dos canais fazia as tais reportagens de rua e questionava as pessoas que tinham deixado de levar o carro para o trabalho e passado a viajar de transportes públicos. Alguns dos entrevistados diziam que, por causa do aumento dos combustíveis e do estacionamento em Lisboa, passaram a usar o comboio para chegar ao trabalho. «É muito mais cómodo, poupo dinheiro e não apanho tanto stresse», diziam alguns dos populares, mais coisa menos coisa. O jornalista que os entrevistava nem estava a perceber as respostas e insistia nos malefícios da crise. Mas andar de comboio é mau? Não estar metido em filas intermináveis é mau? Mau é perder o emprego e não ter esperança de conseguir alguma coisa num futuro próximo. É bom que a comunicação social não funcione como um barril de pólvora...
Título e Texto: Vítor Rainho, SOL
Edição: JP

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