João Bosco Leal
O relógio biológico, presente
em todos os seres vivos, determina seu batimento cardíaco, a atividade
digestiva, a produção de hormônios, tudo regulado pela exposição à luz da
hemoglobina, que leva ao cérebro a informação de ser dia ou noite, e que se repete
praticamente nos mesmos horários, em um ciclo de 24 horas, o que deu origem a
uma busca incessante, pelo homem, da medição do tempo.
Desde a Antiguidade, quando os
egípicios e babilônios perceberam que o Sol provocava sombra sob os objetos e
que durante o dia esta se movia, variando de posição e tamanho, os homens
primitivos passaram a utilizar a sombra do próprio corpo para estimar o tempo,
mas logo perceberam que com uma vareta espetada verticalmente no solo, podiam
fazer as mesmas estimativas.
A partir dessa observação veio
a criação do Gnômon – a parte do relógio solar que possibilita a projeção da
sombra – e estava então estabelecido o que seria o início de todos os relógios
solares posteriormente surgidos, uma das mais antigas invenções humanas, e
origem de todos os atuais relógios.
Existem relatos creditando
essa invenção a Anaximandro de Mileto, mas Heródoto dava
este crédito aos babilônios, que posteriormente teriam repassado aos gregos os
conhecimentos da esfera celeste, do gnômon e das doze partes do dia e Anaximandro seria
apenas seu introdutor na Grécia, assim como na China Shen Kuo teria
aferido e melhorado o gnômon.
Após os relógios de sol, em
torno do século 16 a.C., na Babilônia e no Egito surgiram
alguns relógios rústicos de água (clepsidras) e os de areia (ampulhetas), mas
seu aparecimento na Judéiasó foi relatado em torno de 600 a.C.
O primeiro relógio mecânico,
um complexo sistema de engrenagens e 60 baldes de água, correspondentes a 60
segundos, e que realizava uma reviravolta total em 24 horas, foi desenvolvido
pelo monge budista chinês Yi Xing, em 725 a.C., e apesar de no
mundo ocidental ter-se o papaSilvestre II como inventor do primeiro
relógio mecânico, outra indicação de que os primeiros deles foram inventados
pelos asiáticos é o relato histórico de que em 797 o Califa de Bagdá presenteouCarlos
Magno com um elefante asiático, chamado Abul-Abbas e
junto a este um relógio mecânico de onde saía um pássaro anunciando as horas.
Após essa invenção, estes
passaram pelas mãos de muitos aperfeiçoadores, até que por volta de 1500, na
cidade de Nuremberg, Pedro Heinlein fabricou o primeiro
relógio de bolso – durante muito tempo o símbolo da aristocracia -, e em 1595 Galileu
Galilei descobriu a Lei do Pêndulo.
Desde então surgiu uma
variedade enorme de técnicas para registrar a passagem do tempo, como os
relógios de pêndulo, os automáticos, cronômetros, de quartzo, digitais e os
atômicos, os mais precisos atualmente existentes.
Durante conversas de Santos
Dumont com seu amigo Louis Cartier, aquele comentou uma
necessidade sua e este, com auxílio do mestre relojoeiro Edmond Jaeger,
em 1904, criou o protótipo do primeiro relógio de pulso, para auxiliar Dumont ver
as horas sem a necessidade de retirar as mãos dos comandos da aeronave.
Com essa breve história
podemos entender como, através de máquinas, o ser humano está sempre em busca
do que a natureza sempre lhe ofereceu. Milhares de séculos já se passaram em
busca de marcadores cada vez mais precisos do tempo, como os atuais relógicos
atômicos, mas durante o mesmo período o relógio biológico e as sombras
provocadas pelo sol em nada foram alterados.
Em qualquer setor, por
maior que seja a tecnologia utilizada, o homem está a milênios de distância da
perfeição da natureza.
Título, Imagem e Texto: João
Bosco Leal
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