A derrubada de Al-Assad
Mustafá constituiu-se no
símbolo do regime dos Assad, na Síria
Beatriz W. de Rittigstein
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Manifestantes atearam fogo à um
pôster de Bashar al-Assad com inscrição injuriosa na testa
|
Após vários meses de crise
bélica na Síria, nestes dias em que nos bairros de Damasco se enfrentam as
forças de Bashar al-Assad com os rebeldes que já controlam certas zonas do
país, se observam deserções de personagens que estiveram muito próximas do
poder ditatorial.
Uma das fugas mais
emblemáticas por dar inegáveis sinais da derrubada do regime, é a do general
Manaf Tlas, amigo de infância de Bashar, que ocupava um posto proeminente como
oficial da Guarda Republicana, corpo de elite do exército sírio e que era o
responsável pela execução dos maiores massacres da população civil.
A família Tlas foi um pilar de
apoio sunita para o regime de minoria alawita. O seu patriarca, Mustafá, teve
um vínculo estratégico e fraternal com Hafez Assad, pai de Bashar. Juntos
levaram o partido BAAS ao poder. Em 1970, Hafez deu um golpe de estado e uma
vez instalado como presidente, primeiro nomeou Mustafá como chefe do Estado
Maior das Forças Armadas e posteriormente Ministro da Defesa, cargo que ocupou
por 30 anos.
Mustafá se tornou o símbolo do
regime ditatorial dos Assad na Síria. Seu leal respaldo serviu para que Bashar
al-Assad, um político inexperiente, consolidasse seu controle sobre a Síria
desde o ano 2000, quando seu pai faleceu. Através do clã dos Tlas, garantiu o
apoio militar, o domínio do aparelho estatal e as múltiplas conexões
comerciais, especialmente com os sunitas.
Ao que parece, o presidente
perdeu a confiança em Manaf e a ele se deveu sua escapada para a Turquia. Não
se podem prever os seus planos, mas sua recente ruptura com o poder na Síria
não deverá se tornar um passaporte para a liberdade, pois fez parte de um
regime corrupto, tirano, opressor e violento, o qual o torna tão culpado como o
próprio Bashar al-Assad.
Texto: Beatriz W. de
Rittigstein, El Universal,
Venezuela, 24-7-2012
Título e Tradução: Francisco
Vianna
Nota do tradutor
Líderes do regime
gerontocrático ditatorial sírio
Apesar de Bashar al-Assad ter
herdado a presidência da Síria de seu pai, após a morte dele em 2000, os
analistas dizem que ele nunca conseguiu ter o controle absoluto do poder como o
seu falecido pai tinha.
A Síria hoje não é uma
autocracia tão forte como era, mas é mais uma oligarquia controlada pelos
militares e pelo Partido BAAS e seus próceres – muitos dos quais enfrentam
dificuldades sob o poder de Assad, o mais velho.
São alguns deles:
Abdul Halim Khaddam,
Vice-Presidente
Nascido em 1932, Khaddam tem
exercido considerável influência por três décadas e é considerado como um líder
linha-dura. Como uma das principais figuras do Partido BAAS na década de 1960,
acabou se tornando Ministro das Relações Exteriores e Vice-Primeiro Ministro na
década de 1970. Em 1984, Khaddam foi promovido a Vice-Presidente, e tem
trabalhado para assegurar o domínio sírio sobre o Líbano dando, entre outras
coisas, amplo apoio logístico e político ao Hezbollah em suas ações antissionistas.
"O Líbano será sempre unido com a Síria ou voltará a fazer parte
dela", vaticinou em 1976. Permanece firmemente contra qualquer perda de
poder por parte do Partido BAAS.
Numa entrevista concedia à
mídia no ano passado, disse que “os que têm sugerido uma mudança no regime ou
não entendem que isto prejudicar a ‘estabilidade do estado’ ou serve os planos
de elementos estrangeiros e de Israel".
Asef Shawkat, chefe da inteligência militar
Nascido em 1950, o General
Shawkat é um dos mais jovens membros da gerontocracia síria. Após ter se
formado em Direito e História, ele entrou para o exército no final da década de
1970. Galgou o ranque do poder, mas sua fortuna pessoal aumentou
espetacularmente em meados da década de 1990, quando se casou com a filha única
de Hafez al-Assad – apesar da desconfiança inicial da família Assad por conta
de sua origem humilde. Foi subsequentemente promovido no escalão a
major-general e se tornou o chefe de fato da inteligência militar, um título
que ele oficialmente ostenta desde fevereiro de 2005. O gen. Shawkat é muito
íntimo de Bashar al-Assad. O ditador presidente passou a confiar plenamente em
seu cunhado, considerado por muitos o homem forte da Síria por trás das
cortinas.
Farouq al-Shara, Ministro das Relações Exteriores
Nascido em 1938, Shara tem
ajudado a diplomacia síria por duas décadas. Como chanceler desde 1984, tem
sido um crítico ferrenho de Israel e dos EUA. Durante a Guerra Irã-Iraque, ele
defendeu a política síria de apoio ao Irã, e promoveu um congelamento das
relações com o Iraque na década de 1990. Principal negociador de Damasco, ele
chefiou a delegação da Síria nas conversações de paz nos EUA em 2000. Quando os
negociadores se desentenderam, Shara foi citado como tendo dito que “a Síria
não retornaria ao diálogo a menos que Israel prometesse se retirar das Colinas
de Golan”. Os EUA consideraram-no responsável pela “propaganda síria em prol do
Iraque” durante a guerra do Iraque em 2003.
Bahjat Suleiman, chefe da inteligência síria
Um general e ex-diretor da
inteligência militar, Suleiman uma vez apoiou o irmão de Hafez al-Assad,
Rifaat, um oficial do exército que caiu em desgraça após uma tentativa de golpe
militar de estado. Foi um oficial em serviço no batalhão de Rifaat na década de
1980. Mas ele apostou suas fichas em Bashar quando a sucessão da presidência
começou a ser discutida e seu apoio é tido como tendo sido crucial. Suleiman
agora lidera a inteligência de segurança interna e permanece como um dos assessores
mais influentes do presidente.
Rami Makhlouf, empresário
Primeiro primo de Bashar
al-Assad, Rami Makhlouf, alegadamente formado em economia, é a figura econômica
mais poderosa do regime sírio. Agora em sua quarta década de vida, ele controla
toda a telefonia celular do país, a SIRIATEL. De acordo com um ativista de
direitos humanos, um parlamentar foi condenado a cinco anos de prisão por haver
criticado a operadora de telefonia celular. Qualquer que seja sua posição
doméstica, Makhlouf é uma figura chave. Os analistas dizem que nenhuma empresa
estrangeira pode fazer negócios na Síria sem o seu consentimento.
Ghazi Muhammad Kanan, Ministro do Interior
Nascido em 1942, Kanan se
tornou um íntimo assessor militar de Hafez al-Assad no início da década de
1970. Ele teve uma longa carreira como o maioral da inteligência do exército
sírio no Líbano, antes de retornar a Damasco em 2002 e se tornar o diretor da
inteligência política. Começou a fazer parte do gabinete no ano passado. Alguns
observadores dizem que ele foi nomeado como Ministro do Interior em resposta a
uma série de incidentes de segurança havidos em 2004, incluindo o assassinato
do líder do Hamas por um carro-bomba em Damasco e enfrentamentos com a minoria
curda no nordeste do país. Segundo o jornal ‘Estrela do Líbano’, Kanan é um
"par de mãos capaz e confiável".
Hasan al-Turkumani, Ministro da Defesa
Nascido em 1935, Turkumani
entrou para o exército em 1950. Lutou contra as forças israelenses no sul do
Líbano e foi derrotado, escapando por pouco de ser morto, antes de ser
promovido a general na década de 1980 e chefe de pessoal em 2002. Ele também é
um antigo membro sênior do Partido BAAS.
Sua nomeação para substituir
Mustafá Tlas no ano passado veio contra a especulação de que o próximo ministro
da defesa seria um civil.
Turkumani rejeita de pronto as
alegações de que a Síria apoia o terrorismo internacional, principalmente o
antissemita. Em 2003, ele disse que os EUA "buscavam acusações
mercadologicamente prontas contra a Síria ao acusar o país de apoiar o
terrorismo e culpá-lo pela escalada na resistência iraquiana contra a ocupação
americana".
Mustafá Tlas, ex-vice-primeiro-ministro
Nascido em 1932, este militar de carreira foi um amigo íntimo de Hafez al-Assad. Em 1971, o então presidente nomeou-o vice-comandante-em-chefe das Forças Armadas sírias e logo depois o nomeou como ministro da defesa. Sua repentina ascensão no regime era vista como um esforço para dar aos militares um papel central no regime. Também era vista como um modo de apaziguamento da maioria sunita da Síria, após o fato de o presidente der dado os cargos principais do regime a membros de sua própria comunidade alawita.
Com a ajuda dos soviéticos,
Tlas supervisionou a expansão do exército sírio na década de 1970. Em 1984
ajudou a esmagar completamente uma tentativa de golpe de estado liderada pelo
irmão do presidente Hafez al-Assad, Rifaat. Manteve sua influência ao longo da
década de 1990 e mesmo após a morte de Hafez. Em maio de 2002, Bashar al-Assad
postergou a aposentadoria de Tlas como ministro da defesa por dois anos. Ele
não é mais vice-primeiro-ministro, mas permanece influente e íntimo do atual
presidente.
Dados históricos da ‘BBC NEWS’
Francisco Vianna
Francisco Vianna
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