quarta-feira, 25 de julho de 2012

A degeneração de uma ditadura militar

A derrubada de Al-Assad 

Mustafá constituiu-se no símbolo do regime dos Assad, na Síria
Beatriz W. de Rittigstein

Manifestantes atearam fogo à um pôster de Bashar al-Assad com inscrição injuriosa na testa
Após vários meses de crise bélica na Síria, nestes dias em que nos bairros de Damasco se enfrentam as forças de Bashar al-Assad com os rebeldes que já controlam certas zonas do país, se observam deserções de personagens que estiveram muito próximas do poder ditatorial.
Uma das fugas mais emblemáticas por dar inegáveis sinais da derrubada do regime, é a do general Manaf Tlas, amigo de infância de Bashar, que ocupava um posto proeminente como oficial da Guarda Republicana, corpo de elite do exército sírio e que era o responsável pela execução dos maiores massacres da população civil.
A família Tlas foi um pilar de apoio sunita para o regime de minoria alawita. O seu patriarca, Mustafá, teve um vínculo estratégico e fraternal com Hafez Assad, pai de Bashar. Juntos levaram o partido BAAS ao poder. Em 1970, Hafez deu um golpe de estado e uma vez instalado como presidente, primeiro nomeou Mustafá como chefe do Estado Maior das Forças Armadas e posteriormente Ministro da Defesa, cargo que ocupou por 30 anos.
Mustafá se tornou o símbolo do regime ditatorial dos Assad na Síria. Seu leal respaldo serviu para que Bashar al-Assad, um político inexperiente, consolidasse seu controle sobre a Síria desde o ano 2000, quando seu pai faleceu. Através do clã dos Tlas, garantiu o apoio militar, o domínio do aparelho estatal e as múltiplas conexões comerciais, especialmente com os sunitas.
Ao que parece, o presidente perdeu a confiança em Manaf e a ele se deveu sua escapada para a Turquia. Não se podem prever os seus planos, mas sua recente ruptura com o poder na Síria não deverá se tornar um passaporte para a liberdade, pois fez parte de um regime corrupto, tirano, opressor e violento, o qual o torna tão culpado como o próprio Bashar al-Assad.
Texto: Beatriz W. de Rittigstein, El Universal, Venezuela, 24-7-2012
Título e Tradução: Francisco Vianna

Nota do tradutor
Líderes do regime gerontocrático ditatorial sírio
Apesar de Bashar al-Assad ter herdado a presidência da Síria de seu pai, após a morte dele em 2000, os analistas dizem que ele nunca conseguiu ter o controle absoluto do poder como o seu falecido pai tinha.
A Síria hoje não é uma autocracia tão forte como era, mas é mais uma oligarquia controlada pelos militares e pelo Partido BAAS e seus próceres – muitos dos quais enfrentam dificuldades sob o poder de Assad, o mais velho.

São alguns deles:
Abdul Halim Khaddam, Vice-Presidente
Nascido em 1932, Khaddam tem exercido considerável influência por três décadas e é considerado como um líder linha-dura. Como uma das principais figuras do Partido BAAS na década de 1960, acabou se tornando Ministro das Relações Exteriores e Vice-Primeiro Ministro na década de 1970. Em 1984, Khaddam foi promovido a Vice-Presidente, e tem trabalhado para assegurar o domínio sírio sobre o Líbano dando, entre outras coisas, amplo apoio logístico e político ao Hezbollah em suas ações antissionistas. "O Líbano será sempre unido com a Síria ou voltará a fazer parte dela", vaticinou em 1976. Permanece firmemente contra qualquer perda de poder por parte do Partido BAAS.
Numa entrevista concedia à mídia no ano passado, disse que “os que têm sugerido uma mudança no regime ou não entendem que isto prejudicar a ‘estabilidade do estado’ ou serve os planos de elementos estrangeiros e de Israel".

Asef Shawkat, chefe da inteligência militar
Nascido em 1950, o General Shawkat é um dos mais jovens membros da gerontocracia síria. Após ter se formado em Direito e História, ele entrou para o exército no final da década de 1970. Galgou o ranque do poder, mas sua fortuna pessoal aumentou espetacularmente em meados da década de 1990, quando se casou com a filha única de Hafez al-Assad – apesar da desconfiança inicial da família Assad por conta de sua origem humilde. Foi subsequentemente promovido no escalão a major-general e se tornou o chefe de fato da inteligência militar, um título que ele oficialmente ostenta desde fevereiro de 2005. O gen. Shawkat é muito íntimo de Bashar al-Assad. O ditador presidente passou a confiar plenamente em seu cunhado, considerado por muitos o homem forte da Síria por trás das cortinas.

Farouq al-Shara, Ministro das Relações Exteriores
Nascido em 1938, Shara tem ajudado a diplomacia síria por duas décadas. Como chanceler desde 1984, tem sido um crítico ferrenho de Israel e dos EUA. Durante a Guerra Irã-Iraque, ele defendeu a política síria de apoio ao Irã, e promoveu um congelamento das relações com o Iraque na década de 1990. Principal negociador de Damasco, ele chefiou a delegação da Síria nas conversações de paz nos EUA em 2000. Quando os negociadores se desentenderam, Shara foi citado como tendo dito que “a Síria não retornaria ao diálogo a menos que Israel prometesse se retirar das Colinas de Golan”. Os EUA consideraram-no responsável pela “propaganda síria em prol do Iraque” durante a guerra do Iraque em 2003.

Bahjat Suleiman, chefe da inteligência síria
Um general e ex-diretor da inteligência militar, Suleiman uma vez apoiou o irmão de Hafez al-Assad, Rifaat, um oficial do exército que caiu em desgraça após uma tentativa de golpe militar de estado. Foi um oficial em serviço no batalhão de Rifaat na década de 1980. Mas ele apostou suas fichas em Bashar quando a sucessão da presidência começou a ser discutida e seu apoio é tido como tendo sido crucial. Suleiman agora lidera a inteligência de segurança interna e permanece como um dos assessores mais influentes do presidente.

Rami Makhlouf, empresário
Primeiro primo de Bashar al-Assad, Rami Makhlouf, alegadamente formado em economia, é a figura econômica mais poderosa do regime sírio. Agora em sua quarta década de vida, ele controla toda a telefonia celular do país, a SIRIATEL. De acordo com um ativista de direitos humanos, um parlamentar foi condenado a cinco anos de prisão por haver criticado a operadora de telefonia celular. Qualquer que seja sua posição doméstica, Makhlouf é uma figura chave. Os analistas dizem que nenhuma empresa estrangeira pode fazer negócios na Síria sem o seu consentimento.

Ghazi Muhammad Kanan, Ministro do Interior
Nascido em 1942, Kanan se tornou um íntimo assessor militar de Hafez al-Assad no início da década de 1970. Ele teve uma longa carreira como o maioral da inteligência do exército sírio no Líbano, antes de retornar a Damasco em 2002 e se tornar o diretor da inteligência política. Começou a fazer parte do gabinete no ano passado. Alguns observadores dizem que ele foi nomeado como Ministro do Interior em resposta a uma série de incidentes de segurança havidos em 2004, incluindo o assassinato do líder do Hamas por um carro-bomba em Damasco e enfrentamentos com a minoria curda no nordeste do país. Segundo o jornal ‘Estrela do Líbano’, Kanan é um "par de mãos capaz e confiável".

Hasan al-Turkumani, Ministro da Defesa
Nascido em 1935, Turkumani entrou para o exército em 1950. Lutou contra as forças israelenses no sul do Líbano e foi derrotado, escapando por pouco de ser morto, antes de ser promovido a general na década de 1980 e chefe de pessoal em 2002. Ele também é um antigo membro sênior do Partido BAAS.
Sua nomeação para substituir Mustafá Tlas no ano passado veio contra a especulação de que o próximo ministro da defesa seria um civil.
Turkumani rejeita de pronto as alegações de que a Síria apoia o terrorismo internacional, principalmente o antissemita. Em 2003, ele disse que os EUA "buscavam acusações mercadologicamente prontas contra a Síria ao acusar o país de apoiar o terrorismo e culpá-lo pela escalada na resistência iraquiana contra a ocupação americana".

Mustafá Tlas, ex-vice-primeiro-ministro
Nascido em 1932, este militar de carreira foi um amigo íntimo de Hafez al-Assad. Em 1971, o então presidente nomeou-o vice-comandante-em-chefe das Forças Armadas sírias e logo depois o nomeou como ministro da defesa. Sua repentina ascensão no regime era vista como um esforço para dar aos militares um papel central no regime. Também era vista como um modo de apaziguamento da maioria sunita da Síria, após o fato de o presidente der dado os cargos principais do regime a membros de sua própria comunidade alawita.
Com a ajuda dos soviéticos, Tlas supervisionou a expansão do exército sírio na década de 1970. Em 1984 ajudou a esmagar completamente uma tentativa de golpe de estado liderada pelo irmão do presidente Hafez al-Assad, Rifaat. Manteve sua influência ao longo da década de 1990 e mesmo após a morte de Hafez. Em maio de 2002, Bashar al-Assad postergou a aposentadoria de Tlas como ministro da defesa por dois anos. Ele não é mais vice-primeiro-ministro, mas permanece influente e íntimo do atual presidente. 
Dados históricos da ‘BBC NEWS’
Francisco Vianna

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