Francisco Vianna
O que muitos achavam que era
só uma questão de tempo começou a acontecer: a crise que assola a União
Europeia (UE) bateu em cheio às portas do seu motor econômico e salva-vidas do
bloco, a Alemanha, que até agora parecia estar infensa a ela. A empresa
americana qualificadora de crédito rebaixou a qualificação do país.
A Alemanha, principal credora
dos países que estão com a corda no pescoço, dá os primeiros sinais de
instabilidade econômica, em função de uma acumulação de fatores que,
financeiramente, convergem para Berlim. Entre tais fatores estão a Grécia, que
está mais para sair da zona do euro do que para ficar nela, a Espanha, que está
com a língua de fora a ponto de precisar de um resgate pleno, e a Itália, à
beira da debacle financeira.
Pelo menos é o que diz a
Moody's ao alterar o status creditício da Alemanha, de AAA+ para AAA-, e em
seguida advertir que o peso dos resgates de países como Grécia e/ou Espanha se
fará sentir fortemente no orçamento dos bancos alemães. Essa alteração de
gradação de crédito significa que a Alemanha está a ponto de perder a sua
qualificação perfeita, o que a obrigará a pagar mais caro para se endividar.
Angela Merkel cuidou de
demonstrar calma ao anúncio da Moody’s e, para baixar o tom da agência
americana, lembrou que já por várias vezes a chanceler tinha advertido que a
Alemanha "não tem forças ilimitadas" para salvar toda a Europa. Na
verdade, a suposta serenidade do governo alemão não conseguiu eliminar as
dúvidas dos mercados sobre o futuro alemão.
Tais dúvidas foram alimentadas
ontem, na reunião do Ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble,
braço direito de Merkel, com o seu colega Ministro da Economia da Espanha, Luis de Guindos, na
qual discutiram o resgate total – e não só bancário - da Espanha, e pelo
anúncio de que a atividade fabril – força motriz da economia alemã - se
desacelerou da forma mais veloz em três anos.
O encontro entre Schäuble e Guindos
esteve cercado de especulações em face do recrudescimento da crise,
particularmente na Espanha. O jornal britânico ‘The Guardian’ havia assegurado ontem pela
manhã que da reunião poderia sair uma petição formal de resgate assinada por
Madri, que necessitará de um empréstimo de 300 bilhões de euros, informação
que, contudo, foi desmentida por ambos os governos logo em seguida.
Um mau sinal foi o hermetismo
que prevaleceu na reunião. A imprensa não conseguiu saber com antecedência do
cronograma do evento e não houve rodada de imprensa previamente marcada. Só foi
informado de antemão que, na melhor das hipóteses, haveria um comunicado ao
final da reunião. Tal comunicado chegou à noite e foi lacônico, limitando-se a dizer
que “os esforços da Espanha de reiterar a firme intenção de respeitar os
acordos da última cúpula europeia para que os bancos tivessem acesso mais
rapidamente aos fundos de resgate”.
Três países já receberam
resgates totais: Irlanda, Portugal e Grécia (o resgate espanhol é para os
bancos). Um resgate ao estado espanhol não apenas exigiria novos aportes de
dinheiro ao estado alemão, como também o que exporia a Itália ao ‘contágio’.
Tal provável "efeito dominó" ameaçaria os bancos alemães, que são
possuidores de uma enorme quantidade de títulos da dívida espanhola e italiana.
Foi essa a principal razão de a Moody's rebaixar a gradação creditícia da
Alemanha, em cujo ato a agência destacou de concreto a
"vulnerabilidade" de seu sistema bancário a uma possível
"piora" da crise de dívida dentro da UE.
Não foi só a Alemanha a ser
admoestada pela Moody’s, mas também a Holanda e Luxemburgo. O único país da
zona do euro que mantém a gradação creditícia mais alta, agora, é a Finlândia,
uma vez que Helsinki sempre foi crítica em relação às ajudas e negociou
condições especiais para a concessão de pacotes de resgate.
A Moody's destacou em sua
argumentação que nenhum dos países restantes merece uma gradação estável em
função do risco de que algum resgate concedido à Espanha contagie a Itália
porque os meios com os quais contam os fundos de resgate da UE não permitirão
salvar a todos os dois países ao mesmo tempo.
O Ministério das Finanças da
Alemanha reagiu com um documento pelo qual refuta as dúvidas da agência:
"a Alemanha vai continuar sendo a âncora da estabilidade da eurozona, vai
fazer todo o possível junto aos seus sócios para equacionar o quanto antes a
crise da dívida".
Título e Texto: Francisco Vianna, 27-7-2012
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