Ou: Ele só tem 13 anos
Reinaldo Azevedo
A Polícia da Bélgica matou,
num tiroteio, dois indivíduos acusados de preparar um grande atentado
terrorista. O confronto se deu em Verviers, no leste do país. Um terceiro homem
foi preso. Eles pertencem a um grupo de cidadãos belgas que haviam retornado de
uma viagem à Síria. Outros indivíduos estão sob investigação.
O que se passa na Bélgica, em
certa medida, desafia a lógica convencional — ou nem tanto, vamos ver. O país
oferece um dos melhores padrões de vida da Europa. Costuma ser usado como
exemplo de desenvolvimento, de respeito à diversidade e de bem-estar social.
Sabe-se que há pelo menos três mil cidadãos da Europa lutando nas fileiras do
Estado Islâmico, boa parte sem nenhum vínculo original com o islamismo. Com
passaporte europeu, poderia haver pelo menos 5 mil. Estimam-se em 500 os
originários do Reino Unido, que tem uma população de 64 milhões. Duzentos
seriam oriundos da Bélgica, que tem uma população de pouco mais de 11 milhões.
Proporcionalmente, é o país europeu que mais forneceu mão-de-obra ao terror.
É de lá que saiu, por exemplo,
Briande de Mulder, filho da brasileira Rosana Rodrigues, até outro dia tido
como um quadro de destaque do Estado Islâmico. A foto de Younes Abaaoud chocou
o mundo. Nasceu na Bélgica, filho de um imigrante marroquino, e teria se ligado
ao Estado Islâmico em 2014, com apenas 13 anos. Teria viajado à Síria em
companhia do irmão mais velho, Abdelhamid Abaaoud, de 27. Por que recorro a
esse tempo verbal da dúvida? Não se conseguiu a prova inequívoca de que o
garoto integra as fileiras do Estado Islâmico, mas tudo indica que sim.
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Younes Abbaoud: belga, apenas
13 anos e possível membro do Estado Islâmico. Foto: London Media
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O que leva jovens a abandonar
uma vida confortável em países europeus, tenham ou não qualquer vínculo
cultural ou religioso com o islamismo, para se ligar a um grupo cuja
delinquência atinge padrões inéditos? Cada um dos ramos da ciência social
encontraria uma explicação plausível. Mas me parece que o ódio que amplos
setores da intelectualidade e da própria imprensa ocidentais passaram a devotar
ao regime de liberdades públicas explica o fenômeno. Ou não haveria tantos
“pensadores” tentando encontrar na sociedade francesa os responsáveis pelos
atentados que mataram os… franceses.
O Estado Islâmico assume o
lugar da vítima e não hesita nunca. Se os relativistas do Ocidente levam amplos
setores da juventude a duvidar do sistema que lhe garante a plena liberdade, um
canalha moral e religioso como Abu Bakr Al-Baghdadi, o picareta que é chefão
dessa organização terrorista, só lhe oferece certezas, ainda que a certeza das
trevas.
Atenção para a comparação que
vou fazer agora: por que há alguns jovens no Brasil, especialmente os ligados a
grupos de esquerda, que rejeitam a democracia, que querem controlar a mídia,
que pretendem criar um departamento de censura, que acreditam que a imprensa é
sempre culpada? Porque é isso o que ensinam hoje nas escolas os “odiadores” da
democracia, os “haters” profissionais — no mais das vezes, estão a serviço de
partidos políticos.
Ora, não vimos em 2013 e 2014
a condescendência com que foram tratados os black blocks? Mais do que isso:
Gilberto Carvalho confessou que fez várias reuniões com os delinquentes. A
propósito, e ainda voltarei ao assunto: uma parceira assumida dos bandidos
mascarados, Ivana Bentes, acaba de ser nomeada para um importante posto do
Ministério da Cultura.
O ódio à democracia veiculado
permanentemente por grupos militantes haveria de ter um preço. O Ocidente já
começa a pagar por ele. Mesmo assim, vejo alguns bacanas mais preocupados com
“a direita e a islamofobia” do que com a “liberdadefobia”. Os extremistas
primeiro sequestraram do Ocidente as suas verdades. Agora, começam a sequestrar
seus jovens.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 16-1-2015
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