Ou: Bergoglio está
preparado para cura de aldeia, não para chefe da Igreja Católica
Reinaldo Azevedo
O mundo vive uma crise de
liderança sem igual. Em toda parte. Onde está Barack Obama, presidente dos EUA?
Deixem-me ver. Ele tentou transformar em notícia desta quinta mais um passo do
governo americano na aproximação com… Cuba! Quem se importa com essa bananice?
No comando da Igreja Católica, está um jesuíta com formação teológica precária,
talhado, como diz um meu amigo italiano, para ser “cura de aldeia”, não o chefe
da Igreja. Sim, ele é o líder máximo da minha religião, mas suas ambiguidades
me incomodam.
Se concede uma entrevista
sobre o aborto, depois é preciso esclarecer pontos obscuros de sua fala; se
tece considerações sobre catolicismo e homossexualidade, logo é preciso que o
Vaticano esclareça o que quis dizer. Faço aqui uma ironia delicada: jesuítas
sempre foram de uma inteligência política ímpar, mas, em matéria de teologia,
não são aquilo tudo… E Padre Vieira? Foi o maior prosador da língua portuguesa
e um… grande político. Na teologia, forçava a mão.
O ex-peronista Bergoglio não
me entusiasma nem como teólogo, o que ele não é, nem como liderança política —
e seu posto também tem esse significado. Parece-me viciado em aprovação
popular. “E João Paulo II não era assim?”, poderia indagar alguém. Não à custa
da clareza, respondo eu.
O papa falou a jornalistas
durante uma viagem do Sri Lanka às Filipinas. Indagado sobre o ataque ao jornal
francês “Charlie Hebdo”, saiu-se com a ambiguidade de hábito. Reconheceu que
tanto a liberdade religiosa como a de expressão são “direitos humanos
fundamentais”. Mas considerou: “Temos a obrigação de falar abertamente, de ter
esta liberdade, mas sem ofender”.
É claro que ninguém defende o
direito natural à ofensa. O ponto não é esse. A questão é saber como devem
reagir os que se consideram ofendidos. O papa afirmou, sim, que não se deve
matar em nome de Deus, mas se saiu com um exemplo de uma pobreza, lamento
dizer, estúpida. Até botou a mãe no meio. Disse: “Temos a obrigação de falar
abertamente, de ter esta liberdade, mas sem ofender. É verdade que não se pode
reagir violentamente, mas se Gasbarri [Alberto Gasbarri, responsável pelas
viagens internacionais do papa], grande amigo, diz uma palavra feia sobre minha
mãe, pode esperar um murro. É normal!”.
O exemplo é de um didatismo
pedestre. Não é uma fala para ser entendida pelos simples, como devem fazer os
cristãos, mas para excitar os tolos. Em primeiro lugar, “papa” e “murro” não
devem se misturar numa mesma frase. Em segundo lugar, a sua metáfora cretina,
queira ele ou não, justifica o ataque terrorista. Afinal, para os extremistas,
eles apenas deram “um murro” — a seu modo — porque provocados.
A fala se dá em meio a outras
declarações delinquentes. Ahmet Davutoglu, primeiro-ministro da Turquia, comparou
seu congênere israelense, Benyamin Netanyahu, aos terroristas de Paris.
Lideranças muçulmanas mundo afora têm se manifestado de forma ambígua sobre os
ataques, sempre partindo desse lamentável ponto de vista do papa: “Eles falaram
mal de nossa mãe” — no caso, do “nosso Profeta”.
Bergoglio, dito Francisco,
deveria se calar. Ser ambíguo sobre aborto, homossexuais ou casamento de padres
só traz alguma turbulência à própria Igreja. Ser ambíguo sobre terrorismo pode
ser muito perigoso. A propósito: se alguém insultar Cristo, que tipo de “murro”
o papa acha que os católicos devem dar?
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