sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

[Atualidade em xeque] Chewbacca

José Manuel

A internet trouxe enormes avanços para a humanidade e como consequência, também para os idiomas em todas as suas nuances. Imaginar que até a alguns parcos anos atrás ainda fazíamos pesquisas sobre assuntos desconhecidos e com enorme perda de tempo, em livros de enciclopédia é simplesmente hoje, inacreditável.

A velocidade com que podemos escrever, pesquisar e publicar os assuntos é espantosa, e também proporcionou o aparecimento de talentos literários desconhecidos até para os próprios usuários do sistema, que jamais poderiam supor ter esse dom. Até então a mídia protagonizada por grandes grupos econômicos era a dona absoluta de tudo o que se escrevia, e se publicava desde Johannes Gutenberg.

O cidadão mediano, mesmo formado em letras ou jornalismo, se quisesse se expressar democraticamente ou dentro de uma linha editorial, se empregava em algum dos grupos de imprensa para ter algo seu publicado e ter acesso a um público, mas mesmo assim sempre restrito ao editorial do grupo que o empregava.

Hoje em dia ainda coexistem alguns grupos editoriais, mas em quantidade menor, porém a livre expressão, essa, ganhou um espaço extremamente democrático na área da comunicação.

Hoje dispomos de sites, blogs, redes sociais como Facebook por exemplo ou o twitter, onde a expressão e o conteúdo são massivos e praticamente livres no universo virtual sem limites. Os grandes grupos de mídia começam a ficar realmente preocupados com as suas edições impressas cuja tendência é diminuir, algumas mesmo já desapareceram. Isso é o resultado da rapidez com que se processam hoje notícias e tantas outras coisas escritas no ciberespaço.

Na realidade, precisamos começar a prestar mais atenção a essa rapidez e o porquê do desmoronamento tão rápido da imprensa secular escrita.

Isso já está nos afetando de certo modo, mas ainda não nos demos conta o quanto isso começará a nos prejudicar com relação à forma de nos comunicarmos daqui para a frente.

Em paralelo ao que imaginamos, mesmo com essa riqueza de tecnologia que nos traz com facilidade a informação a todo momento e nos brinda com assuntos dos mais variados, estamos conversando menos, estamos discutindo menos, estamos escrevendo menos. Há muita pressa no ciberespaço e não conseguimos administrar essa pressa. 

Estamos deixando de ler textos longos, que são exatamente aqueles em que podemos desenvolver uma ideia, ter um foco, um objetivo, discutir um fato, nos comunicarmos melhor.

Estamos escrevendo poucos caracteres para desenvolver uma ideia e isso não é bom. O Facebook e principalmente o twitter estão nos levando a um estágio perigoso para a humanidade e para as suas formas de expressão, os idiomas. "Cui prodest?"

Hoje não é mais raro e sim trivial, observar-se na comunicação virtual afirmações truncadas por abreviações ininteligíveis como por exemplo para não nos estendermos muito: tbm, vdd, qdo, c, sdss, bj, pq, vc, eh, expressões causadas pela pressa, pela preguiça inerente à internet, pelo pouco espaço e pela angústia de um retorno rápido.

Não raro vemos respostas completas por meio de Emoticons, emojis ou carinhas, pelo qual se constata que a paralinguagem está sendo fortemente usada, e a distância entre ser moderno, atualizado, e ser uma pessoa chata na comunicação está ficando realmente curta. É preciso saber decidir entre um e outro."Carpe diem".

Isso pode ser muito ruim para a comunicação humana e a longo prazo, ajudado pela colonização linguística, significar até a morte de um idioma.

É preciso que controlemos esse novo desafio para que não cheguemos a algo muito parecido como um "efeito Chewbacca" onde sons e sinais acabarão se tornando um meio de comunicação.


É bem provável que isso esteja longe ainda de acontecer, mas também a um curto espaço de tempo passado, escrevíamos melhor em nosso idioma e com mais desenvoltura, tínhamos um vocabulário melhor em nosso idioma, menos preguiça em expor as nossas ideias e nos comunicávamos melhor.

O mais recente absurdo da era virtual, se inicia exatamente hoje, 20 de janeiro de 2017, com a posse de um fanfarrão boquirroto, que conseguiu iludir a maior potência do planeta com a diplomacia dos 140 caracteres. Não se conhece um texto sequer escrito em formato carta, que nos mostre ser a pessoa indicada à presidência do seu país.

Apenas 18 livros medíocres de autoajuda sobre o mesmo tema surrado, pela qual dá a vida. Dinheiro.
Vive navegando no ciberespaço enviando mensagens bizarras, e acha que pode governar o seu país pelo twitter. Perto de 50.000 tuítes é o seu currículo conhecido, todos sem substância qualitativa, apenas quantitativa de poucas palavras ao vento.

Em paralelo, o ciberespaço embute uma cilada perigosa, que não acontecia com a imprensa convencional. As mensagens falsas, por exemplo, e que o povo americano está sentindo isso agora "in situ". E são muitas, que levam pessoas incautas, pela tal pressa ou mesmo pela ignorância a se incumbirem de repassar a milhões, notícias falsas, certamente com prejuízo para alguém, a candidatos postulantes a governos e até mesmo corporações.

Tenho observado muitas pessoas com horror a um "textão" e até se desculpando por apresentar ao interlocutor algo parecido. Pois o textão é a base dos idiomas, é a expressão de uma ideia com princípio meio e fim, ou por acaso em exames de faculdade ou mesmo em concursos, é pedido uma redação em "formato twitter"?
Nada contra o ciberespaço e as redes sociais, mas por que a pressa? “Quo Vadis?"

José Manuel - certamente, pedras vão voar na minha direção, mas é dever de todos, começar a refletir sobre o assunto que pode vir realmente a incomodar.
Mudar é preciso, ser inteligente é imprescindível.
20-1-2017

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2 comentários:

  1. Como sempre, admiro o text, concordo em partes, e discordo em outras.
    O QUE O LÁPIS ESCREVEU, UMA SIMPLES BORRACHA APAGOU.
    O que mais podemos acrescentar a esse texto sem ser prolixo.
    Ele tem princípio meio e fim.
    Acho que grandes textos são desinteressantes, podem conter princípios, meios e fins e serem apenas prolixos.
    Não tenho nada contra o Senhor a Aparecido, cujos textos se resumem a um simples:
    Estamos fodidos ou tudo está na merda.
    Sou contra as ridículas abreviaturas internautas.
    Grandes textos escrevem a mesma coisa do que textos pequenos bem explicitados.
    Hoje lendo David Coimbra, ele escreveu que Moro deveria ser o indicado para o STF.
    Não li o texto mediano dele todo.
    Já havia escrito merda no início.
    Tirar Moro da lava-jato é inocentar a mula predestinada retirante de Garanhuns.
    Por isso dou valor aos introitos.
    Por isso 300000 tiraram ZERO em redação.
    fui...

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  2. Parabenizo o nobre colega. É vero, a internet deu chances a muitos de desenvolverem seus talentos e expor suas ideias livremente sem o arbítrio da imprensa formal. Belo texto! E conteúdo apropriado para os internautas refletirem...
    Valdemar

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