quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

[Para que servem as borboletas?] Você está no controle de suas paixões e emoções?... Que tal borboletar e ser feliz com Spinoza?

Valdemar Habitzreuter

Perguntaram a Einstein se acreditava em Deus e sua resposta foi: acredito no Deus de Spinoza... Para o filósofo Spinoza, Deus é a Natureza (Deus sive Natura), a única Substância existente, o Uno vertendo-se para fora (daí universo), a Realidade Absoluta de infinitos modos de existir e de infinitos atributos (senão não seria Absoluto), dos quais, dois nós conhecemos: a extensão e o pensamento, que também são prerrogativas nossas, como modos que somos desses dois atributos; portanto, somos um corpo pensante. Nós e as coisas não somos substâncias, mas modos dessa Substância única.

Querer saber o que é Deus, portanto, é só olhar, conhecer e amar a Natureza na qual nos movemos e vivemos como expressões ou modos de Deus ser. Dessa perspectiva espinosiana, o ser humano, inserido na Natureza como ser pensante, é propenso a paixões e emoções pelas afecções que sofre do exterior. Portanto, nada mais natural ter toda sorte de sentimentos ou emoções, tanto positivos como negativos (amor, alegria, tristeza, depressão, compaixão, raiva, ódio, vingança, inveja, etc.). Essas emoções fazem parte de nossa natureza. Em vão, pois, a tentativa de erradicá-las. A alternativa é saber conviver com elas e estar no controle delas.

O que se esconde por detrás de nossas emoções e paixões é o desejo - apetite conscientizado - de obter algo pelo qual ansiamos. O que se segue ou é alegria ou tristeza. Nem sempre aquilo que desejamos nos traz alegria, pode ser o contrário, nos traz tristeza. Assim, o desejo, a alegria e a tristeza são as emoções basilares das quais todas as outras derivam. Da alegria provém o amor e seus congêneres, da tristeza, o ódio e sua parentela; pois, quando conquistamos o objeto desejado e nos dá alegria, amamos esse objeto, quando, ao contrário, nos traz tristeza, passamos a odiá-lo. 

O desejo, por assim dizer, é a essência do ser humano; é o que desperta aquela força (conatus) que nos faz lutar pela autopreservação. Mas, quando o desejo nos proporciona afetos de tristeza a força perde sua potência e podemos ser dominados por emoções negativas (depressão, raiva, inveja, ódio, etc.). É a razão, portanto, que deve entrar em cena e se aliar ao desejo para que este seja orientado e conquiste afetos de alegria e, assim, aumente sua potência de luta. O desejo, assim, transforma-se em razão para estar no controle no que as afecções podem nos proporcionar, se afetos de alegria ou de tristeza.

A razão, quando tem iniciativa própria de a partir do interior dela criar desejos, abre caminho para o conhecimento adequado de alcançar a alegria, embora não tenha poder absoluto frente às afecções negativas que vem de encontro e querem se impor. Mas podemos avançar em conhecimento de como chegar à alegria se deixarmos a razão tomar as rédeas para equilibrar o que nos afeta de positivo e negativo até alcançar o conhecimento por excelência que nos leva a nos inserir na totalidade da felicidade.

Spinoza nos apresenta três graus de conhecimento na senda da felicidade: primeiro, temos um conhecimento subjetivo das coisas, um conhecimento calcado em opiniões, sem consistência, não dá conta de nos fazer feliz, geralmente somos joguetes das paixões; segundo, temos um conhecimento racional que nos dá ideias claras das coisas e do que somos, é um conhecimento que se apoia na lógica matemática, e através dele temos condições de como agir adequadamente para tornar-nos felizes; terceiro, além do conhecimento racional que nos dá o sentido da vivência ética, temos o conhecimento intuitivo que nos mergulha definitivamente na Natureza/Deus. Neste estágio conquistamos, pois, o ‘amor intellectualis Dei’, o conhecimento absoluto que nos garante a felicidade completa, nada mais nos perturbando. Mas poucos o conseguem, nos avisa Spinoza, é preciso de muito esforço...

Pois então, não é fácil estar no controle de nossas paixões e emoções, mas se soubermos nos deixar guiar pela razão no que concerne ao segundo estágio de conhecimento – ideias claras e evidentes das causas do que nos afeta -, já é um grande avanço para estar no controle de nossas paixões e emoções...
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 4-1-2017

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2 comentários:

  1. O Deus de Spinoza,é o Deus que sempre persegui. Estou com ele a todo o momento e em tudo o que faço
    Rejeito catedrais como seus templos
    Eu sou o seu templo
    Parabéns por ter escolhido este tema para iniciar a sua coluna.
    José Manuel

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  2. AOS "CRENTELHOS"(neologismo meu),
    Já escrevi aqui no "saite"(neologismo já existente).
    Devolvamos o deus de hoje à MITOLOGIA.
    DESENVOLVAMOS, UMA TESE DIFERENTE DE SPINOZA, podem até chamá-la de TESE do Rochinha.
    Sejamos nós nossos próprios deuses, esqueçam a morte, e valorizam a vida.
    Nascemos para pecar ou errar, e aprender com pecados e acertos.
    Respeitemos a moral conveniente e a ética concernente.
    Vivamos para o outro sem desistir de nós mesmos.
    Spinoza, Nietzsche e tantos outros apenas filosofaram em cima dos textos de Epicuro 1000 e tantos anos depois.
    Fui pela direita...


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