sábado, 3 de outubro de 2020

Bolsonaro vai se arrepender de Kassio Nunes no Supremo. Cedo ou tarde

J. R. Guzzo 

O nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro para a vaga no Supremo Tribunal Federal é o que os agentes das companhias de seguro chamam de “P.T.” — desastre com “perda total”. Em relação a ele, a única coisa que o presidente poderia fazer de útil é dizer que foi tudo um mal-entendido — o tal Kassio Nunes Marques [foto], o homem preferido pelas gangues que operam no Congresso e no baixo mundo do Poder Judiciário em Brasília, “garantista” ao gosto da esquerda e abençoado por Gilmar Mendes, Toffoli e seus parceiros, tem tudo para ser o herói do pior momento dos quase dois anos do governo Bolsonaro. 

Foto: Samuel Figueira/Proforme

A reação ao anúncio divulgado no noticiário foi mais uma dessas anomalias que a vida pública brasileira de hoje oferece. A maior parte dos que de uma forma ou de outra apoiam o governo achou que o nome é um horror; sua indignação com ele, e com Bolsonaro, ficou evidente de imediato nas redes sociais. 

Quem gostou, vice-versa ao contrário, foi o bonde que circula entre a esquerda nacional e a “Confederação Brasileira da Corrupção Responsável”: PT, Centrão, OAB, escritórios milionários de advocacia criminal, garantistas, intelectuais orgânicos, inimigos da Lava Jato, os ministros do STF que se especializam em proteger acusados de corrupção, a mídia que condena tudo o que Bolsonaro faz, etc. Uns, é claro, não dizem em voz alta que apoiam; mas ficam quietos, o que dá na mesma. 

O apoio mais chocante ao nome de Kassio Nunes — que nunca foi juiz, está na magistratura por nomeação de Dilma Rousseff e ficará no STF pelos próximos 27 anos, até 2047 — veio do seu conterrâneo Ciro Nogueira, senador pelo Piauí e denunciado formalmente em fevereiro de 2020 pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, caso que está enfiado numa gaveta do STF. Precisa dizer mais alguma coisa? 

O preferido do senador, além dessa qualificação, tem uma soma de realizações profissionais como jurista equivalente a três vezes zero. É contra a prisão de criminosos após a sua condenação em segunda instância (segundo ele, é preciso “justificar” porque o sujeito teria de ir para a cadeia só porque foi condenado duas vezes) e a favor da construção de mais prédios para esses tribunais superiores que se multiplicam por aí; acha que os seus palácios atuais não são suficientes. 

Logo no começo do governo Bolsonaro circulou no mundo político a notícia de que um dos seus filhos estava para ser nomeado embaixador do Brasil nos Estados Unidos — nada menos que isso. Foi um espanto tão grande que a ideia acabou sendo abandonada. Para o bem-estar de todos e felicidade geral da nação, o arrependimento, como aconselhava Santo Agostinho, veio antes do pecado. Aguarda-se, agora, o momento em que Bolsonaro vai se arrepender — se antes ou depois do desastre. 

Título e Texto: J. R. Guzzo, Gazeta do Povo, 1-10-2020, via revista Oeste, 2-10-2020, 17h45

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