António Ribeiro Ferreira

Só faltava mais esta. Não
bastava a classe política andar entretida com aventais, tinha de vir o
Ministério da Saúde anunciar a revisão da lei do tabaco, com mais atentados à
liberdade de quem gosta e quer fumar. Este país na bancarrota, sabe-se lá com que
futuro e com que moeda, tem gente na administração pública que faz tudo para
provar aos contribuintes que o Estado seria muito mais eficaz com menos
funcionários. De facto, ninguém no seu perfeito juízo pode andar a pagar
ordenados e outros custos para uns tantos higieno-fascistas afogarem as suas
frustrações em leis e projectos fundamentalistas que são atentados às
liberdades, à economia e ao emprego. O Ministério da Saúde, um monstro que
consome oito mil milhões de euros do Orçamento do Estado, devia andar muito
preocupado com o corte nas despesas e o combate sem tréguas ao desperdício.
Mas, ao contrário do que se diz e tenta passar para a opinião pública, os
esforços ministeriais não conseguem reduzir a despesa, o laxismo, o desperdício
e o total caos que reina em muitas estruturas do Serviço Nacional de Saúde.
Percebe-se que a tarefa não é nada fácil, até porque nas estruturas dirigentes,
a todos os níveis, haverá gente apostada em quebrar todas as regras e a
boicotar todo e qualquer esforço para pôr a casa em ordem. Também se percebe
porquê. Para além de razões ideológicas, há muito dinheiro em jogo e os lóbis
tudo farão para não ver reduzida a sua parte no enorme bolo posto todos os anos
à disposição do sector. Laboratórios, farmácias, médicos, enfermeiros, gestores
hospitalares e tudo o que gira à volta dessa imensa fogueira em que se queimam
milhões mostram todos os dias que estão vivos, de boa saúde e que não há crise
ou bancarrota que os assuste. É neste contexto que os higieno-fascistas, que
também querem o seu quinhão nos dinheiros públicos, aparecem à tona para
mostrar que existem e que o seu trabalho é muito útil para a sociedade. Pior do
que isso, há políticos, com o ministro da Saúde à cabeça, que alinham no seu
jogo e tentam dessa maneira ficar na fotografia como meninos fundamentalistas
muito bem-comportados, politicamente correctos e macaquinhos de imitação de
toda a idiotice que nasce nos Estados Unidos e rapidamente atinge esta pobre
Europa decadente. Vir agora, neste ano desgraçado de 2012, falar numa revisão
da lei do tabaco com o objectivo de impedir o fumo em todos os espaços fechados
é, mais do que um atentado à inteligência, um atentado à economia e ao emprego.
Nomeadamente na restauração, já fortemente atingida com o aumento do IVA de 13
para 23%. Uma senhora, nomeada por Paulo Macedo para esta tarefa patriótica,
confessa que o seu modelo é o de Nova Iorque e a seguir o irlandês. No primeiro
impede-se o fumo em parques e jardins públicos, no segundo só os doentes
mentais e os presos podem fumar em espaços fechados. Nestas alturas, quando se
vê esta gente tão excitada a violar os direitos dos outros e tão indiferente à
situação miserável de milhões de portugueses, faz falta alguém com coragem para
os pôr no seu lugar e na ordem. Ou no olho da rua, como quiserem.
Título e Texto: António Ribeiro Ferreira, jornal “i”,
10-01-2012
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