Alberto Gonçalves
Um relatório sobre as fundações que por aí vicejam apurou um gasto estatal com as ditas
de mil e quinhentos milhões nos últimos três anos. Em consequência, o Governo
promete analisar cada caso e decidir-se por uma de cinco hipóteses: extinção,
redução dos subsídios, eliminação dos subsídios, remoção do estatuto de
utilidade pública ou não bulir em coisa nenhuma.
Infelizmente, os senhores que
nos tutelam não prometem o bom senso de entender que as fundações (falo das
privadas; as públicas são uma redundância óbvia) só merecem o nome quando
servem o meio envolvente e não quando se servem dele. Fundações sem rendimentos
para mandar cantar um cego nem património que permita ao cego um gabinete
decente não são exactamente fundações: são esquemas destinados a subtrair
verbas ao Estado, consolar amigos, arrebanhar poder e catar o típico gabarito.
Se um antigo presidente da
República necessita de recorrer ao dinheiro alheio, o indivíduo não devia ter
criado uma "fundação", mas um peditório à escala nacional ou um
crédito bancário. Se o chefe de um governo regional usa a fundação social lá do
sítio para comprar a casa onde o mesmo chefe viveu até aos 30 anos, é lícito
supor que uma imobiliária teria maior vocação para o negócio. Se um escritor
editado e vendido no mundo inteiro é obrigado a pedir abrigo à Câmara de
Lisboa, convinha que os herdeiros do escritor pedissem contas ao contabilista.
Se uma empresa de computadores embolsa 454 milhões para produzir uma geringonça
inviável no mercado livre, constata-se que os empresários em causa escolheram a
profissão errada.
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Fundação Mário Soares |
Sobretudo, constata-se que os
contribuintes portugueses escolheram o país errado, na medida em que aqui se
limitam a fazer jus ao nome e contribuir em prol do que outros decretaram ser o
"bem comum". O comum é o bem de uns poucos acabar patrocinado pelos
restantes. Nas fundações e em tudo, é assim que Portugal forma elites, que o
dicionário define como os melhores de uma sociedade e que por cá não são apenas
os que melhor vivem à respectiva custa. Nesta abençoada democracia, cada
conceito beneficia de uma interpretação muito própria, "democracia"
incluído.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Diário de Notícias
Edição: JP
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