segunda-feira, 27 de agosto de 2012

BATMAN – O Cavaleiro das Trevas ressurge


Gotham City é esmagada pela Revolução dos terroristas no poder com a sociedade em frangalhos, a economia devastada, a política eliminada, a Civilização reduzida a pó e seu maior herói é banido como um presidiário inválido no filme mais apocalíptico da História do Cinema.
Ernesto Ribeiro

É O FIM DE TUDO.
O Mal venceu. Acabou-se a Lei e a Ordem. O fim da Civilização.
Há 5 meses que a cidade está isolada do resto do mundo. Não há mais polícia. Os policiais estão todos presos e os bandidos estão todos soltos, dominando tudo como o novo poder absoluto no Reino do Terror.
E é o fim do Batman.


Acabou-se até a fortuna de Bruce Wayne, "de bilionário a sem-teto", como dizem as manchetes.
Todos os seus piores temores se concretizam. O herói é desmascarado, roubado, arruinado, caluniado, derrotado, aleijado, exilado, encarcerado, execrado... Ufa! Desculpe a cacofonia. Mas é o pesadelo final se materializando.

A rigor, todos os vilões da trilogia são terroristas apocalípticos com o mesmo objetivo de destruir a Civilização. Todos são moralistas negativos, niilistas posando de juízes da humanidade, apontando o dedo para a sociedade podre que querem aniquilar, como médicos loucos preferindo matar o paciente em vez de curá-lo, e chamam o assassinato de eutanásia. A função do herói é impedir isso, mas também curar a doença. Batman é um reformista. Ele acredita no ser humano e na vitória do Bem. Mas seus arqui-inimigos são 3 faces do Mal Absoluto da mentalidade revolucionária ao longo da História moderna.

A ameaça no primeiro filme era messiânica. A milenar sociedade secreta da Liga das Sombras do vilão Ras Al-Ghul queria afundar a cidade "capital do mundo" num frenesi de medo insano e auto-destruição por meio da droga, arrasando a Civilização Ocidental no mesmo "fogo purificador" que seus antecessores da organização usaram durante séculos ao destruir Babilônia, Atenas, Cartago, Roma, Londres, Paris... tudo porque não toleravam a corrupção e a degeneração dos costumes da Grande Metrópole.

A virulência de destruição no segundo filme era anárquica. Usando poucos recursos, com apenas explosivos comuns e baratos como gasolina, o Coringa representava mais do que os anarquistas revolucionários que incendiaram o século 19. O que o Joker queria provar era uma tese sociológica comportamental: "A Civilização e a bondade são apenas uma ilusão, um disfarce, uma máscara; na ausência de regras, o ser humano se revela como cão comendo cão." Ele tinha plena consciência do que estava fazendo: o Mal intangível pelo Mal em si mesmo. O agente do medo que reduziu a cidade ao Caos e arrastou a população mais civilizada do mundo para a Anarquia pura e simples, levando a polícia a se mobilizar inteira para conter seus próprios cidadãos em fúria. O gênio do crime que devorou o próprio crime organizado como um vírus, parasitando suas próprias quadrilhas em autofagia, mandando cada bandido assassinar o colega, só para não dividir o dinheiro roubado, sem desconfiar que TODOS tinham recebido a mesma ordem. Resultado: a piada mortal é que no assalto ao banco só morreram os assaltantes. Todos eles fizeram papel de palhaços. Deviam ter desconfiado por quê o chefe mandou que eles usassem máscaras de palhaço. "Vocês mafiosos só pensam em dinheiro. Essa cidade merece uma classe melhor de criminosos." Queimar uma montanha de dinheiro com um banqueiro no topo é uma das imagens mais poderosas do cinema, rica em significados.

E finalmente o Mal se concretiza nesse terceiro filme, trazendo o assustador Bane como o novo Robespierre, Marx e Lenin ao mesmo tempo. É a face mais temida da Esquerda: a Revolução Socialista. A sublevação das massas pobres de marginais, fanáticos, ignorantes e arruaceiros, movidos apenas pela promessa de que "um mundo melhor é possível". A tradição da Revolução Francesa com a farsa para "dar o poder ao povo". A derrubada do sistema, quando escancaram-se as portas do presídio, libertando os piores elementos da sociedade e dando-lhes todas as armas. O confisco da propriedade privada. Os julgamentos revolucionários. A guilhotina. O Terror Jacobino. O Estado Totalitário. A devastação de todos os valores. E o golpe final de traição, com a destruição total da sociedade e milhões de mortos pelo seu próprio governo.


"Nós somos o poder popular! Representamos os 99% do povo excluído, explorado e oprimido. Viemos tomar de volta o que é das massas.

E viemos julgar e condenar os 1% de mentirosos exploradores que detêm toda a riqueza, começando por quebrar o Príncipe dos parasitas: o playboy vagabundo e bilionário Bruce Wayne."


Sim, Batman — O Cavaleiro das Trevas Ressurge é fruto também da crise econômica e financeira. Sim, eles ocupam Wall Street.

E limpam tudo. E isso é só o comecinho. O único grande roubo da Mulher-Gato é o ato decisivo a deflagrar o efeito dominó apocalíptico que devasta Gotham City — e por tabela, a civilização ocidental inteira.

De todos os filmes de super-heróis, este é o mais sério, tenso, realista e melancólico. Dá até pra sentir o Oscar de Melhor Filme chegando.

O pioneirismo de se tornar a primeira aventura de herói fantasiado a ganhar o troféu.

Difícil seria acreditar que a Máfia Comunista de Hollywood é capaz de premiar o enredo mais contra-revolucionário já feito.

O roteiro conciso, surpreendente e engenhoso conduz a estória mais forte e adulta já escrita para um personagem de quadrinhos.

Sim, este é um argumento com forte profundidade. Prepare-se para ficar CHOCADO. O próprio Gary Oldman avisou que o filme é "um soco emocional." Não leve crianças para assistir. O momento mais empolgante é o coro dos exilados na prisão subterrânea no "pior lugar do mundo" em um hino de uma só palavra de esperança e boa-vontade pelo próximo, como se evocando uma ressurreição:
"Ressurja! Ressurja! Ressurja!"


Christian Bale enfim chega ao ápice no seu trabalho de desenvolver a complexa personalidade de Bruce Wayne/Batman até o limite. Aqui tudo se completa: o personagem mergulha no âmago da própria alma, redescobre-se ao conhecer melhor a si mesmo, encara o máximo horror e renasce ainda mais sábio e auto-consciente, consumando o páthos do herói em dois finais: um para cada identidade. A última cena é a grata surpresa de alívio.


O melhor ator do mundo só faz melhorar: Gary Oldman consegue fazer o comissário Gordon crescer e envelhecer ainda mais magnífico, encarnando toda a fragilidade e grandeza do homem comum, movendo-se entre o certo e o errado, nos inúmeros tons de cinza que ele domina tão bem. Claro que nisso ele é ajudado pelo texto brilhante, que lhe dá a melhor fala do filme, ao explicar a um jovem policial desiludido porquê nem sempre a verdade é o melhor caminho quando a realidade é tão complexa.

Bane é um paradoxo. Impressiona duas vezes. Pelo físico de brutamontes e pela voz retumbante, mas principalmente pela dicção educada, dramática, sofisticada. (Curiosamente, Tom Hardy guarda uma perturbadora semelhança de voz e semblante com Liam Neeson, que no primeiro filme da trilogia interpretou Ras Al Ghul. Seria por isso também sua escolha para o elenco?) Quando o homem fala, revela a inteligência ainda mais aguçada do que todos os vilões anteriores. A mente contradiz o corpo ou faz jus a ele?

Anyway, ele conseguiu o impossível: Bane superou todos os outros vilões em eficiência. Foi bem-sucedido em tudo.

Este é o vilão que quebrou a espinha do Batman e estilhaçou a civilização.
Cri-críticas?


"Anne Hathaway está deslumbrante como Selina Kyle, a Mulher-Gato. Charmosa, atraente e inescrupulosa, sempre faz com que tenhamos uma ponta de dúvida sobre qual é a sua real intenção, e sempre faz com que a sua presença chame para si todos os holofotes."

"Christian Bale é muito feliz, e consegue fazer de Bruce Wayne um personagem multidimensional."


"Sem dúvida a missão mais espinhosa de todo o elenco era a de Tom Hardy como Bane. Apresentando um trabalho de corpo fantástico, e tendo na expressão facial e na voz criada para o papel os seus maiores destaques, conseguindo transmitir desde sentimentos mais exacerbados até sutilezas que contrastam com aquele brutamontes, vemos Bane como um ser cruel, raivoso, violento, mas ao mesmo tempo inteligente e surpreendentemente carismático. Um belo trabalho, que é finalizado de uma forma que nos permite observar o vilão novamente sob uma ótica diferente, e novamente com muita riqueza."

"Desconsidere todos os filmes de super-heróis que existem até hoje. O desfecho da lenda do Homem-Morcego supera todos eles."

"A maior atuação é do próprio Bale. Neste filme, ele foi muito mais Wayne do que Batman, outra ousadia do diretor e roteiristas que deu muito certo."

"Há nisso uma homenagem ao Cinema - assim, maiúsculo -, podem crer. Um showman instintivo, kubrickiano em suas composições de quadro, Nolan sempre volta a Cecil B. De Mille e sua inabalável fé no "Grande Evento". Quem vai ao cinema paga por sonhos. O Cavaleiro das Trevas Ressurge é uma coleção de "Grandes Eventos" e dá ao espectador o exato tamanho de todos eles. Trata-se do melhor filme de seu gênero e, com a quantidade exata de boa vontade e apreço pela arte, o melhor filme de 2012."

Pontos fracos? Tá bem, nem tudo é perfeito: Não dá pra engolir a ridícula 'explicação' de como o policial Blake adivinhou que Wayne é Batman simplesmente pelo sorriso forçado. Sem sentido, sem noção. E o filme não tem nenhum senso de humor. Nenhuma piadinha sequer. "Why so serious?" 

A música é maravilhosa, mas é a mesma do filme anterior. Falta uma trilha sonora mais original.

Onde foi parar a inspiração do maestro Hanz Zimmer? Cadê o bat-móvel? E cadê o Alfred?


Michael Caine merece um Oscar pela atuação magistral como o mordomo Alfred, o melhor personagem da trilogia e o que faz mais falta nesse terceiro filme. Ele só aparece no começo e no finalzinho, chorando e nos fazendo chorar, lamentando a perda de tudo e pedindo desculpas pela ausência. É o clímax da tragédia.

Santa depressão, Batman! Esse filme é totalmente depressivo. Tristíssimo. Uma melancolia só.

O final é de arrancar lágrimas de todos os bat-espectadores. Meu conselho a quem for assistir essa obra-prima: vá e leve um lencinho.
Título, Imagens e Texto: Ernesto Ribeiro, 26-8-2012



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