Acabou! O Mensalão é agora uma
realidade histórica atestada também pelo Supremo!
Reinaldo Azevedo
Um grande dia ontem para o
Supremo Tribunal Federal — e que a Corte continue a marcar encontros com um bom
futuro. Está enterrada a quimera lulista, a saber: a fantasia de que o mensalão
nunca existiu. O Apedeuta repetiu essa ladainha em entrevista ao New York Times, publicada no dia 25. Qualquer outro, com um mínimo de
bom senso, não faria tal afirmação agora ao jornal mais importante do mundo.
Mas Lula é quem é. Tentava, mais uma vez, intimidar a corte. Vamos ao que
interessa. Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Brasil, já foi
condenado por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Marcos Valério
e dois sócios, Ramon Hollerbach e Cristiano Paes, também — só que, no caso
deles, é corrupção ativa. Até agora, 6 dos 11 ministros optaram pela
condenação. Esses votos significam o reconhecimento claro, inequívoco,
indubitável de que o mensalão — ou como se queira chamar aquela penca de crimes
— existiu. Se Márcio Thomaz Bastos considerou que o voto de Ricardo Lewandowski
em favor do deputado João Paulo Cunha significava a vitória da “tese do caixa
dois”, como chegou a dizer em entrevista, os seis a zero contra Pizzolato já
significam a derrota.
Ou por outra: A CONDENAÇÃO DE
PIZZOLATO — nem Lewandowski e Dias Toffoli tiveram a coragem de negá-lo, porque
também a desmoralização tem lá o seu decoro — CORRESPONDE AO RECONHECIMENTO DE
QUE HAVIA UM SISTEMA EM OPERAÇÃO. Um sistema que ROUBOU DINHEIRO PÚBLICO.
Quando cinco ministros endossaram o voto do relator, Joaquim Barbosa, estavam a
dizer que os cofres do banco foram assaltados, os recursos transferidos para a
conta da agência de Valério e, dali, para os chamados “mensaleiros”.
Acabou! Todo o esforço de Lula
e dos petistas para negar o óbvio foi em vão. É claro que estou entre aqueles
que acham que José Dirceu também tem de ser condenado — porque acho, a exemplo
da Procuradoria-Geral da República, que ele era “chefe da quadrilha”. Atenção,
no entanto, para o que vem: ainda que ele não seja, o mensalão já é uma
realidade história atestada também pela mais alta corte do país. E olhem que
cinco ministros ainda não votaram. Como o voto se dá na ordem inversa da
antiguidade, sobraram nesta segunda metade quatro ex-presidentes — Cezar
Peluso, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello — e o atual, Ayres
Britto. Sabem o peso que tem a sua palavra.
O caso João Paulo
Dias Tóffoli, para a surpresa
de ninguém, acompanhou o voto de Ricardo Lewandowski no caso do deputado João
Paulo Cunha, inocentando-o de todas as acusações — e, nos crimes concernentes
ao esquema da Câmara, também Valério e seus sócios. Posts abaixo, comento
outros aspectos desse voto. Agora, quero tratar do que chega a ser até uma
curiosidade intelectual.
Não entendi — e as pessoas com
as quais falo, pouco importa a opinião que tenham sobre o mérito, também não
entenderam — qual a diferença entre o que fez Pizzolato e o que fez João Paulo.
O modo como ambos agiram é rigorosamente igual. Lewandowski, obviamente, sabe
disso. Tóffoli também. Por que os dois ministros condenam um e absolvem outro
é, do ponto de vista lógico, um mistério. Logo, a explicação tem de ser buscada
nas circunstâncias.
Ainda que a agência de Valério
tivesse mesmo prestado os serviços para os quais foi contratada — não é o que
os autos indicam —, as evidências de crime estão todas lá, muito especialmente
o saque de R$ 50 mil na boca do caixa. Para os dois ministros, tudo indica, o
problema de Pizzolato é não ser político. Como poderia alegar caixa dois de
campanha?
Isso dá pistas, parece, do
tratamento que a dupla pretende dispensar aos demais políticos. Afinal,
covenham: se João Paulo, que recebeu dinheiro da empresa que mantinha contrato
com a Câmara, é “inocente”, o que não dizer dos outros, que não tinham celebrado
contrato nenhum com Marcos Valério?
Texto: Reinaldo Azevedo, 28-8-2012, 05h59
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