Maria Lucia Victor Barbosa
Julian Assange, fundador do
site Wikileaks, apareceu na sacada da Embaixada do Equador em Londres e
proferiu um discurso para a plateia de fãs, jornalistas e policiais que o
aguardavam. Era a figura de Narciso em pessoa. Somente dirigentes políticos
muito poderosos se amam tanto quanto o ególatra Assange.
Mas, de onde vem tanta
arrogância e vaidade que se estampam no rosto do australiano de 41 anos, um
janota enfatuado que parece ter como diversão predileta atacar os Estados
Unidos?
Vem do fato de que ele se sente o grande hacker da atualidade, o fofoqueiro global da típica imprensa “marrom” dos escândalos, enfim, o cyber terrorista desse admirável mundo novo que pretende controlar como um deus cibernético.
Vem do fato de que ele se sente o grande hacker da atualidade, o fofoqueiro global da típica imprensa “marrom” dos escândalos, enfim, o cyber terrorista desse admirável mundo novo que pretende controlar como um deus cibernético.
Em Assange há muitas
contradições. Ele fala em direitos humanos, em liberdade de expressão, lança
frases de efeito como a contida na acusação de que os Estados Unidos realizam
‘”caça às bruxas”, ou seja, a ele, uma vitimazinha inocente que arrombou e
expôs documentos secretos ou correspondências íntimas de diplomatas
norte-americanos para achincalhá-los.
Não sei se fez o mesmo com
documentos iranianos relativos à bomba atômica que Ahmadinejad fabrica, se
revelou ao mundo as barbaridades praticadas contra direitos humanos na China,
na Coreia do Norte, em países do Oriente Médio, em países africanos, em Cuba.
Tampouco desconheço se o ciberjornalista levantou documentação e espalhou aos
quatro ventos o cerceamento da mídia na Venezuela, na Bolívia, na Argentina.
Ele até louva, incluindo o Brasil, a Venezuela e a Argentina por terem levado
seu caso à Organização dos Estados Americanos (OEA).
Quanto ao Equador, onde pediu
asilo e cujo governo não é nada favorável à liberdade de expressão, o hacker
chamou de “corajosa nação latino-americana que tomou o partido da justiça”.
Entretanto, segundo Assange, compete aos Estados Unidos parar com a “campanha
ao redor do mundo contra jornalistas que iluminam os segredos dos poderosos”.
Os países ideologicamente afins Assange prefere manter à sombra seus segredos
militares e diplomáticos.
Julian Assange conquistou muitos adeptos. Primeiro, porque na atualidade medíocre e vulgar convém odiar tudo que é bom, evoluído, competente, o que inclui países como os Estados Unidos e Israel. Esse tipo de xenofobia é muito comum, inclusive, na América Latina que tem como porta-voz mais destacado o boquirroto venezuelano Hugo Chávez. Segundo, porque a exposição da privacidade se tornou uma constante em redes sociais, programas de TV, performances individuais ou grupais, o que combina com o hacker “iluminador de segredos”.
Nada, porém, acontece por
acaso. Tudo é processo. Do moralismo hipócrita, que no passado escondia
comportamentos socialmente indesejáveis, passou-se paulatinamente ao amoralismo
escancarado. Do modo de vida onde existiam valores como dignidade, respeito ao
próximo, honestidade chegou-se ao vale-tudo dos anti-valores.
Desse modo, a civilização foi
se transformando em barbárie. Não há mais distinção entre certo e errado.
Desapareceram os pudores e no mundo massificado a ânsia de romper com o
igualitarismo cultural leva ao exibicionismo, não de formas evoluídas da mente,
mas de modos mais assemelhados aos dos animais.
Nesse contexto Assange é o
grande líder que rompe com a privacidade, o carteiro que viola a
correspondência das nações, o bisbilhoteiro mor que “ilumina” intimidades. Ele
desnuda segredos como os adolescentes se desnudam em redes sociais ou mulheres
distribuem suas fotos pela Internet em que aparecem nuas. Julian Assange faz
parte do tempo dos vídeos pornográficos onde relações sexuais são exibidas para
o mundo.
Nessa época a educação das
crianças se torna algo difícil. Na família, como mostrou Carlos Alberto Di
Franco em excelente artigo (O Estado de S. Paulo – 20/08/2012) faltam muitas
vezes o carinho e o diálogo e “os jovens crescem sem referências morais e
afetivas”. “A ausência de limites e a crise de autoridade” atestam também a
desagregação familiar.
A escola, que mal sabe ensinar
o bê-á-bá, não forja mais o caráter dos alunos através de valores. Droga e
violência se fazem presentes e, para culminar é estimulada precocemente a
atividade sexual desde a mais tenra idade, enquanto a escolha da sexualidade é
praticamente imposta em mentes ainda não prontas para assimilar tais
comportamentos. Atualmente só falta apontar o incesto, o estupro e a pedofilia
como direitos humanos e incentivar tais condutas.
A interferência estatal
maléfica na educação mostra o rompimento da privacidade, enquanto
individualmente os “bárbaros modernos” violam por vontade própria sua
intimidade.
Tais comportamentos conduzem
ao aviltamento da personalidade, à perplexidade moral, à confusão de
sentimentos, à decadência social. É preciso, pois, resgatar a privacidade,
espaço único e inviolável onde se é realmente livre. É preciso dizer não ao Big
Brother.
Título e Texto: Maria Lucia
Victor Barbosa é socióloga.
Quem não deve não teme.
ResponderExcluirSe alguém invadir meu computador e divulgar tudo o que há nele, a mim não denigre em nada.
Claro que não se pode invadir a privacidade de ninguém mas eu não preciso destruir a credibilidade de ninguém por me invadir.
O problema é que o que ele mostrou foi tão sério que o fato 'invasão' se tornou quase irrelavante diante do que realmente é relevante.
Ora, discurso clichê, vaidade, ser arrebatado pelo poder por estar no centro das atenções, TODOS os politicos, artistas e aqueles que almejam alguma notoriedade possuem.
Bom seria se este fosse o grande pecado nosso e do Sr. Assange. Acaso, a vaidade, por ser dele, é pior? Pelo menos ele não precisa mentir. Não tem do que se esconder.
Este é o politico que eu queria pra mim. Todos os pecados que a socióloga descreveu, todos nos temos pelo menos um pouco de todos eles.
A questão é: em que momento o seu pecado começa a destruir o que vc não tem direito de destruir.
Circe Aguiar