Em todos os países civilizados
de nosso planeta, a JUSTIÇA é uma coisa séria e deve ser,
figurativamente, cega, no sentido de não discriminar se o suposto réu é rico ou
pobre, famoso ou desconhecido, moço ou velho, homem ou mulher, etc.
Mais, para evitar que, por
qualquer razão, o juiz tenha se enganado, ou sido parcial, ou injusto, há
sempre uma possibilidade de se recorrer a uma instância superior, quando um
grupo de juízes julga se houve algum engano no primeiro julgamento,
prejudicando uma das partes.
Finalmente, se ainda persistir
qualquer insatisfação, há a possibilidade de recurso a um tribunal superior,
que deve julgar o assunto em termos finais, daí não mais cabendo qualquer
recurso.
Mas, e como sempre, há um
“mas”, no Brasil não é bem assim!
Já comentei, em artigo
recente, que julgo nossa atual Constituição Federal (chamada de “Cidadã” pelo
falecido Deputado Ulysses Guimarães, que presidiu a Assembléia Nacional
Constituinte nos anos de 1987 e 1988) como a pior que o Brasil já teve, por ter
um cunho notadamente revanchista, por ser exageradamente detalhista, sendo uma
colcha de retalhos vergonhosa, com seus 245 artigos e incontáveis parágrafos e
incisos, tudo isso acrescido de mais 70 artigos nas chamadas “Disposições
Constitucionais Transitórias”.
Pois bem. Essa Constituição
estabeleceu que deveria haver uma quarta instância de julgamento, que trataria
das contendas em que a interpretação da Constituição estivesse em jogo no
conflito, cabendo a esse tribunal a última palavra no assunto.
Assim, no Brasil temos os
juízes de primeira instância, os Tribunais Regionais de segunda instância
(basicamente, um para cada Estado da Federação) os Tribunais Superiores na
Capital Federal e, finalmente, o Supremo Tribunal Federal, última instância da
Justiça, a quem caberia julgar as causas em que a interpretação da Constituição
estivesse em jogo.
Seria de se imaginar que a
esse último Tribunal seriam submetidas poucas causas, como acontece em países
sérios.
O Brasil certamente teria
que ser diferente, como de fato o é.
Ao nosso Supremo Tribunal
Federal são submetidas, anualmente, MILHARES de causas, gerando aquilo
que deveria ser evitado a todo custo: demora excessiva nos julgamentos e falta
de tempo para que os juízes (designados como “Ministros”) possam fazer seu trabalho
com a calma necessária.
Algumas causas levam anos, sim
anos e não poucos, para serem julgadas. O recorde pertence a um processo
distribuído ao então Ministro Nelson Jobim, que levou sete anos para julgar!
E surge a pergunta: mas como
pode ser tão numerosa a quantidade de causas que envolvam a interpretação da Constituição?
Boa pergunta; tão boa que não
tenho a resposta para a mesma, exceto a que já mencionei antes: a Constituição
não atende sua finalidade principal.
Não resultou de trabalho sério,
com o propósito de dar ao País um instrumento que estivesse de acordo com suas
necessidades, tanto do País como de seus cidadãos!
Ademais, quase todas nossas
leis estão mais do que superadas. O mundo evoluiu rapidamente e o Brasil não
soube (ou seus políticos não quiseram) atualizar as leis, como deveria ter sido
feito.
Cito como exemplo a famosa
“CLT” (Consolidação das Leis do Trabalho), originalmente editada pelo
Decreto-Lei 5,482 de 1º de maio de 1943, pelo então Presidente Getúlio Vargas.
É evidente que sofreu umas
tantas alterações, mas já deveria ter sido revista do primeiro ao último artigo
para que pudesse ser “manejada” de forma fácil e racional.
E essa observação vale para a
totalidade de nossos códigos e de nossas leis.
O Brasil se tornou um País
extremamente injusto em todos os sentidos e é possível que o que mais agrida os
cidadãos é o Poder Legislativo.
E não somente pelo que cada
parlamentar (e me refiro aos federais e aos estaduais) custa como, igualmente,
às desmazelas praticados pelos mesmos. Não há nada igual no mundo!
(Um parêntese interessante: na
Assembléia Legislativa do RGS uma recepcionista de um deputado,
trabalhando poucas horas por dia, ganha um salário de R$ 24 mil brutos. E
ninguém ficou com vergonha dessa barbaridade...).
Os funcionários do Congresso
Federal, em Brasilia, são verdadeiros nababos; ascensoristas operando
elevadores automáticos, contínuos, motoristas, enfim, todos, recebem salários
altíssimos. É uma desmoralização geral.
No Senado, há cerca de 80
“Diretores”! Pode?
E, por isso, ninguém dá valor
às nossas leis e códigos, por mais obsoletos que sejam.
E a grande maioria do povo,
prejudicado por tudo isso, nada pode fazer.
Nem sequer adianta votar,
porque aí estaremos trocando seis por meia dúzia.
O que fazer? Realmente,
confesso que não sei.
Texto: Peter Wilm Rosenfeld, Porto Alegre (RS), 22 de agosto de
2012
Título original: Justiça
Edição: JP
Sobre “justiça”:
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