quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A melhor coisa que podia ter acontecido a Portugal


Camilo Lourenço
Eu sei que a criatividade humana não tem limites. Em todos os sectores do conhecimento. Economia incluída. Mas por mais criatividade que haja, é difícil perceber certas coisas. Quando um país consome mais do que produz, precisa que alguém lhe empreste dinheiro. E ou esse desequilíbrio serve para "financiar o futuro", isto é, para investimento, ou para "financiar o presente" (consumo).
No primeiro caso, quem tem dinheiro para emprestar não tem problema em fazê-lo: o retorno do investimento chega para devolver o que se emprestou. Mas se os empréstimos servem para financiar consumo, é um sarilho. Sobretudo quando os défices se tornam crónicos. Era exactamente esta a situação em que estávamos quando o mundo deixou de nos emprestar dinheiro, em 2011.
O receituário para corrigir este desastre (tal como o de 83-85 e o de 78-79) está a funcionar. Acima das expectativas (tal como em 83-85 e 78-79): o défice da nossa conta corrente caiu, no 1.º semestre do ano, para 2% do PIB, quando o valor acordado com a Troika era de 2,5% para... todo o ano de 2012!!!
Na minha cartilha isto tem nome: Sucesso. Porque significa que passamos a viver de acordo com as nossas posses, mais cedo do que se previa. Ora é esta a garantia de que quem empresta dinheiro precisa para voltar a confiar em nós (economias pequenas não têm capital suficiente para se desenvolverem, necessitam de capital externo...). Tem custos? Sem dúvida. Mas tínhamos alternativa?
Os acontecimentos dos últimos anos pulverizaram muitas verdades. Mas houve uma que ficou: quem estica o pé além do que permite a sola do sapato, mais tarde ou mais cedo acaba descalço. Não perceber isto é insensatez.
Título e Texto: Camilo Lourenço, Jornal de Negócios, 30-8-2012

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