Bruno Alves
Num recente episódio da série
Mad Men, uma das personagens pergunta “quando é que as coisas vão voltar ao
normal?”. A série passa-se na América dos anos 60, mas a pergunta poderia ser
feita, hoje, por um português. A resposta seria provavelmente a mesma: nunca.
“A excepção é a nova normalidade”, se for preciso um ‘slogan’.
Com a ‘troika' de visita a
Portugal esta semana, com o propósito de avaliar o cumprimento do programa de
resgate, não falta quem insista na necessidade de se rever o "memorando de
entendimento", de desistir da "insistência" na
"austeridade", e de "apostar" no "crescimento".
Falta-lhes o juízo para perceber que perderiam a aposta. Para
"investir", o Estado precisa ou de cobrar mais impostos, que
dificultarão a vida à classe média e que mais depressa farão fugir os ricos do
que fazê-los pagar mais, ou de se endividar. E quem é que emprestará dinheiro a
um Estado já excessivamente endividado, numa conjuntura como a actual, a não
ser com juros quase proibitivos?
É claro que se poderia ir
buscar dinheiro a outro sítio: ao contrário do que a sabedoria popular nos
ensina, o dinheiro até cresce nas árvores. Apenas quanto mais se colhe, menos
valor ele tem. Se o Governo português quiser injectar dinheiro na economia, "só"
tem de pedir ao BCE que o imprima, ou sair do euro e dar uso às velhinhas
impressoras de escudos do Banco de Portugal e da Casa da Moeda. A primeira
"proposta" não depende da vontade do Governo, e portanto, ao
contrário do que o PS parece julgar, não constitui um programa político para
Portugal, apenas a expressão de um desejo de que a Alemanha continue
alegremente a pagar os nossos desvarios; a segunda permitiria ultrapassar esse
"obstáculo", mas partilha com a primeira o problema de que mais dinheiro
não significa forçosamente maior riqueza. Poderia haver mais dinheiro a
circular, mas esse dinheiro teria menos valor. O pouco que as pessoas comuns
conseguiriam poupar valeria ainda menos. Os que ainda vão recebendo um salário
veriam esse salário representar menos poder de compra. Haveria mais dinheiro,
mas o empobrecimento seria maior.
Agora que se avizinha o debate
sobre o Orçamento do Estado, conviria tomarmos consciência da realidade: nas
circunstâncias actuais, é impossível acabar com a "austeridade". Esta
não é resultado de uma escolha de uns senhores maldosos no Governo que querem
que os portugueses empobreçam, é a consequência lógica de vivermos num país
pobre a quem já ninguém quer emprestar o dinheiro necessário para fingir que
não o somos. Com cortes de impostos ou cortes na despesa, com aumentos de
impostos ou aumento do "investimento público", com ‘troika' ou sem
‘troika', com euro ou sem euro, os portugueses vão continuar a empobrecer. Quem
disser o contrário, ou mente ou não vive neste mundo.
Título e Texto: Bruno Alves, Doutorando IEP-UCP, Diário Económico, 31-8-2012
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