Romney mostra 'lado humano' e realista de seu plano anticrise para
derrotar o 'sonho Obama'
Francisco Vianna
Com o discurso que oficializou
a sua candidatura à Presidência dos EUA na Convenção Nacional Republicana, na
Flórida, na última quinta-feira, Mitt Romney procurou responder à crítica dos
Democratas de que ele não tem "ideias tangíveis" para reativar a
economia americana, além de se esforçar para mostrar um lado mais
"humano" para os eleitores.
Como explica Mark Madell,
correspondente da BBC nos EUA, pesquisas demonstram que Obama atrai mais a
simpatia dos americanos, mas Romney é visto como mais preparado para influir na
economia.
Para se fortalecer na corrida
presidencial, portanto, o republicano tenta vencer um duplo desafio. De um
lado, precisa reforçar a sua imagem de bom administrador, convencendo os
americanos de que tem um plano para sair da crise. Do outro, tem de conquistar
os "corações e mentes" de seus compatriotas (que querem menos
interferência do governo em suas vidas) – uma estratégia parecida com a que
garantiu a vitória de Obama há quatro anos.
"(O slogan) 'Esperança e
Mudança' tinha um forte apelo. Mas, quem se emocionou em votar em Barack Obama,
está longe de se sentir assim agora, depois de uma presidência que desagradou a
gregos e troianos”, disse Romney, apelando, como definiu o comentarista John
Kass, do Chicago Tribune, para a “desilusão com o sonho Obama”. "Obama
prometeu conter o aumento dos oceanos e curar o planeta. Os oceanos não
aumentaram e o planeta está mais frio do que antes, sem que qualquer coisa
tenha sido feita pelo homem ou por Obama... Meu compromisso é ajudar a família
americana a sair de uma crise que não foi criada por ela", prometeu
Romney.
Experiências pessoais
O discurso de Romney foi o
ponto alto da convenção republicana, de três dias. Romney, falou, emocionado,
sobre as suas experiências como pai de família e dos tempos em que ele e sua
mulher, Ann, encontravam "um monte de crianças dormindo no quarto".
Também lembrou da infância em uma família mórmon e dos pais, descritos como um
casal "amoroso".
Depoimentos de amigos de
Romney sobre seu trabalho como pastor mórmon levaram parte da plateia às
lágrimas. Um casal contou como o candidato consolou o seu filho adolescente à
beira da morte, por exemplo. O evento terminou com a família do candidato
inteira no palco: sua esposa, seus cinco filhos e noras e a maioria dos 18
netos.
Romney muitas vezes é visto
como um candidato "distante", e os Democratas tentam retratá-lo como
um “camaleão político, rico, elitista e que evade impostos”. Para Douglas
Schoensays, da emissora conservadora Fox News, na convenção, o republicano deu
um "grande passo" para avançar no processo de "humanização"
de sua imagem. "Romney trabalhou duro para mostrar que tem um coração, mas
ainda precisa convencer muitos americanos de que a Presidência de Obama não deu
certo", escreveu Jim Rutemberg no The
New York Times (um jornal de esquerda e que dá seu indisfarçável apoio a
Obama).
Plano anticrise
Em seu discurso, o republicano
prometeu "restaurar a promessa da América" com um plano que, segundo
ele, dará aos EUA a independência energética até 2020, reduzirá o déficit
orçamentário do país e criará 12 milhões de novos postos de trabalho. Também
afirmou que irá revogar as reformas feitas no sistema de saúde americano,
impulsionadas por Obama, e fazer novos acordos comerciais com outros países.
"Vou começar minha
Presidência com um tour para criar empregos. Obama começou a sua com um tour
para pedir desculpas", disse, acusando o presidente democrata de ter
negligenciado "aliados dos EUA, como Israel" e ter sido "muito
leniente" com países como Irã e Rússia.
Romney criticou Obama por
fazer promessas focadas mais no público internacional que em interesses
americanos. Segundo analistas, porém, ainda não está claro de que forma
pretende fazer a economia do país deslanchar ou levar adiante propostas como a
criação dos 12 milhões de empregos e fortalecimento do Exército com um
orçamento limitado pela crise.
"O dilema do Partido
Republicano é o de como irá conciliar suas filosofias de governo conflitantes:
responsabilidades globais e um governo enxuto. Ou seja, como ser uma
superpotência com um orçamento apertado", escreveu, em um artigo para a
BBC P. J. Crowley, ex-assessor do Departamento de Estado dos EUA.
"A resposta do
ex-presidente George W. Bush foi: 'Déficits não importam'. Impostos foram
reduzidos e duas guerras foram pagas no cartão de crédito. Tentando levar
adiante um partido que inclui neoconservadores que querem salvar o mundo e
representantes do movimento ‘Tea Party’ determinados a limitar o tamanho do
governo federal, Romney tem se posicionado habilmente como alguém que acredita
na liderança e no excepcionalismo dos americanos, bem como numas forças armadas
fortes, de alta mobilidade, aptas a agir em qualquer lugar do planeta, e sempre
extremamente dissuasivas. Mas tem evitado se comprometer com intervenções
dispendiosas".
Clint Eastwood
Um dos momentos mais animados
da convenção foi a participação do ator e diretor Clint Eastwood, que conversou com uma cadeira vazia como se estivesse falando com Obama.
"Eu sei o que vocês estão
pensando: que todo mundo lá (em Hollywood) é esquerdista", disse Eastwood
ao cumprimentar a plateia. "Há muitos conservadores em Hollywood,
republicanos e moderados. Eles não saem por aí anunciando isso, mas acreditem,
estão lá".
O discurso de Eastwood esteve
repleto de críticas a Obama e menções nem sempre conexas a questões como a
crise econômica e a guerra no Iraque. "Quando alguém não faz o trabalho
direito, é preciso deixá-lo sair", afirmou Eastwood, referindo-se a Obama.
Seu discurso empolgou a plateia republicana, mas fora da Convenção despertou
críticas. "Clint, meu herói, parecia triste e patético", escreveu o
crítico de cinema Roger Ebert no Twitter. "Ele não precisava
disso"...
Mike Murphy, antigo assessor
de Romney, escreveu: "Fica registrado: atores precisam de um
roteiro".
Depois da convenção, eleitores
republicanos que participaram do evento se disseram "confiantes na
vitória". Para a chefe da campanha de Obama, Jim Messina, o discurso teve
"pouca substância".
Título e Texto: Francisco Vianna
Fonte: BBC-Brasil e Agência Reuters
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