Por que é que a taxa de
desemprego sobe e a Bolsa não cai?
Ulisses Pereira
Por que é que o país está em
ebulição com as mais recentes medidas de austeridade e a Bolsa portuguesa
continua a subir? Por que é que quando, há cerca de 3 meses atrás, escrevi um
artigo em que mudei a minha visão de pessimista para optimista na Bolsa
portuguesa as reacções dos leitores foram de incredulidade e crítica? Por que é
que a taxa de desemprego sobe e a Bolsa não cai?
Quando leio algumas análises e
comentários sobre Bolsa fico estupefacto que achem que as boas notícias
provocam a subida das Bolsas e as más notícias a sua queda. A obsessão de
arranjar uma causa/efeito para as variações nos mercados acaba por formatar, de
uma forma errada, a ideia que os pequenos investidores têm sobre o mercado de
capitais.
Só há uma explicação infalível
para justificar a subida/queda de uma acção: O facto da pressão compradora ter
sido maior que a pressão vendedora ou vice-versa. Não é sexy. Não vende
jornais. Não chama a atenção. Mas é verdadeira. E a maior parte das vezes as
pessoas esquecem-se que é mesmo a procura e a oferta que movem os mercados. E
foi esse facto que me levou a trocar o meu pessimismo dos últimos anos por um
optimismo que surpreendeu a maior parte dos leitores.
Com excepção do ano de 2009,
desde 2007 até 2012, tivemos quedas violentas na Bolsa portuguesa. Se até 2009
acompanhámos a tendência mundial, nos últimos 2 anos fomos incapazes de
acompanhar o "Bull Market" que viveu a maior parte das praças
mundiais, por força do agravamento da crise no nosso país. Os investidores
fugiram da nossa Bolsa e a crise deixou de ser uma ameaça e passou a ser uma
realidade.
O que aconteceu nos últimos
meses não foi uma melhoria das condições económicas, uma evolução
surpreendentemente positiva dos resultados das empresas portuguesas ou outra
coisa qualquer. O que aconteceu foi um esgotamento dos vendedores. Quem vendeu
por causa da crise já o fez. E para a Bolsa cair é preciso pressão vendedora,
algo que deixou de acontecer porque já tudo (não levem à letra esta expressão)
fugiu da crise.
Foi esse pessimismo quase
unânime que me tornou optimista. Não porque Portugal se tornou um país melhor
para viver mas porque ninguém acredita neste cantinho, o que significa que
"está tudo fora do mercado". E a reacção a esse artigo apenas
reforçou essa minha convicção.
Guardo o melhor para o fim.
Como sabem, a Bolsa antecipa sempre a inversão das tendências económicas, por
isso acredito que a recuperação económica acontecerá mais rápido do que os
portugueses imaginam. Além disso, a taxa de juro implícita das obrigações portuguesas
caiu para os 8%, confirmando a tendência de queda dos últimos meses. Se cair
para o intervalo entre os 6 e os 7% podemos finalmente discutir a sério com a
troika. Para já não, continuamos tristes e de calças na mão.
Perdoem o meu optimismo.
Título e Texto: Ulisses Pereira, Analista Dif Broker, Jornal de Negócios, 17-9-2012
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