segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Perdoem o meu optimismo


Por que é que a taxa de desemprego sobe e a Bolsa não cai?
Ulisses Pereira
Por que é que o país está em ebulição com as mais recentes medidas de austeridade e a Bolsa portuguesa continua a subir? Por que é que quando, há cerca de 3 meses atrás, escrevi um artigo em que mudei a minha visão de pessimista para optimista na Bolsa portuguesa as reacções dos leitores foram de incredulidade e crítica? Por que é que a taxa de desemprego sobe e a Bolsa não cai?
Quando leio algumas análises e comentários sobre Bolsa fico estupefacto que achem que as boas notícias provocam a subida das Bolsas e as más notícias a sua queda. A obsessão de arranjar uma causa/efeito para as variações nos mercados acaba por formatar, de uma forma errada, a ideia que os pequenos investidores têm sobre o mercado de capitais.
Só há uma explicação infalível para justificar a subida/queda de uma acção: O facto da pressão compradora ter sido maior que a pressão vendedora ou vice-versa. Não é sexy. Não vende jornais. Não chama a atenção. Mas é verdadeira. E a maior parte das vezes as pessoas esquecem-se que é mesmo a procura e a oferta que movem os mercados. E foi esse facto que me levou a trocar o meu pessimismo dos últimos anos por um optimismo que surpreendeu a maior parte dos leitores.
Com excepção do ano de 2009, desde 2007 até 2012, tivemos quedas violentas na Bolsa portuguesa. Se até 2009 acompanhámos a tendência mundial, nos últimos 2 anos fomos incapazes de acompanhar o "Bull Market" que viveu a maior parte das praças mundiais, por força do agravamento da crise no nosso país. Os investidores fugiram da nossa Bolsa e a crise deixou de ser uma ameaça e passou a ser uma realidade.
O que aconteceu nos últimos meses não foi uma melhoria das condições económicas, uma evolução surpreendentemente positiva dos resultados das empresas portuguesas ou outra coisa qualquer. O que aconteceu foi um esgotamento dos vendedores. Quem vendeu por causa da crise já o fez. E para a Bolsa cair é preciso pressão vendedora, algo que deixou de acontecer porque já tudo (não levem à letra esta expressão) fugiu da crise.
Foi esse pessimismo quase unânime que me tornou optimista. Não porque Portugal se tornou um país melhor para viver mas porque ninguém acredita neste cantinho, o que significa que "está tudo fora do mercado". E a reacção a esse artigo apenas reforçou essa minha convicção.
Guardo o melhor para o fim. Como sabem, a Bolsa antecipa sempre a inversão das tendências económicas, por isso acredito que a recuperação económica acontecerá mais rápido do que os portugueses imaginam. Além disso, a taxa de juro implícita das obrigações portuguesas caiu para os 8%, confirmando a tendência de queda dos últimos meses. Se cair para o intervalo entre os 6 e os 7% podemos finalmente discutir a sério com a troika. Para já não, continuamos tristes e de calças na mão.
Perdoem o meu optimismo.
Título e Texto: Ulisses Pereira, Analista Dif Broker, Jornal de Negócios, 17-9-2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-