
Nunca deixei de
acompanhar uma Copa. A primeira lembrança que tenho é da copa de 1982, e é
uma memória bem vívida do jogo Brasil x Itália. Eu tinha 6 anos de idade e
estava em Santa Rosa de Viterbo, interiorzão de São Paulo, na casa de meus
tios. Quando o Falcão empatou o jogo pela segunda vez nós saímos correndo para
a rua de paralelepípedos, nós e todos os vizinhos, na maior alegria. Todo mundo
sabe que essa alegria não durou nem 10 minutos, pois o Paolo Rossi estava
inspirado naquela tarde e marcou três num jogo só. Foi o nosso “arrivederci”…
Quatro anos depois a família
se reuniu em nossa casa, em São Bernardo do Campo. Alguém trouxe um daqueles
telões engraçados, que você conectava na TV de tubo e tentava de alguma forma
conseguir uma imagem decente através de uma lente gigantesca de acrílico.
Seguindo a tendência da imagem, que ficou ruim o tempo todo, o jogo terminou
triste, e todos os “especialistas” presentes afirmavam categoricamente que foi
um absurdo deixarem o Zico cobrar aquele pênalti sem estar aquecido. Aliás,
história que ficaria na boca do povo por mais alguns dias, até que o fiasco
fosse finalmente esquecido.
Veio mais uma Copa, em 1990.
Essa foi difícil de ver – meu pai havia sido transferido por um tempo para os
Estados Unidos, e estávamos em uma cidade do interior de Illinois durante o
torneio. Conseguimos ver somente as finais, pois a TV americana simplesmente
não transmitia os jogos. O fato é que não perdemos muita coisa… O senhor
Caniggia carimbou nossa passagem de volta para o Brasil.
Finalmente veio 1994. Eu
tinha 18 anos de idade, e lembro que a final aconteceu no meio de um
retiro espiritual onde eu estava com minha família. Não lembro muita coisa do
retiro, mas lembro claramente que estávamos todos, mais de 100 pessoas, no
salão principal, acompanhando a cobrança de pênaltis e o presentaço de Roberto
Baggio para nós. Ufa! Depois de tantos anos de vida finalmente pude gritar
“Brasil Campeão!”
Mais quatro anos se passaram e
chegou 1998. A primeira e única Copa da época de faculdade. Foi muito legal ver
os jogos com os grandes amigos que até hoje fazem parte da minha vida, mas não
tão legal ver o chocolate que a França de Zidane deu no Brasil. E dá-lhe teoria
da conspiração! Tinha pelo menos umas três que tentavam explicar o que
aconteceu com o Ronaldo e a consequente derrota. Acho que até forças
alienígenas foram cogitadas em uma delas…
E lá vamos nós! 2002 foi uma
Copa que eu fiquei ansioso para ver. Sempre gostei do Felipão, e tinha muita
esperança que ele faria um bom trabalho. Lembro que vi a final na chácara de
meus pais, em São Pedro, ao lado do meu querido pai. Aliás, foi a última final
de Copa que vimos juntos, antes do acidente que lhe tirou a vida. Foi um
tremendo de um jogo, e essa eu comemorei muito. Merecida!
A Copa de 2006 foi tão
ridícula para o Brasil que não dá vontade nem de comentar. A eliminação logo
nas quartas de final foi de doer. E nesse caso não tinha teoria conspiratória
que conseguisse explicar. Enfim, dessa vez foi “Au revoir!”
E chegamos a 2010. Mais uma
Copa digna de ser esquecida, num ano que marcou o início do pior governo que o
Brasil já teve. Aliás, 2010 foi um dos piores anos da minha vida. A verdadeira
urucubaca-mor. E logo nas quartas de final ouviríamos bem alto, vindo dos
Holandeses, “Afscheid!”
E estamos em 2014, próximos do
início daquela que é chamada pela monstra que ocupa a presidência de “A
Copa das Copas”. E pela primeira vez na história deste país ela pode estar
certa. Esta pode ser “A Copa das Copas”, porque de todas as Copas esta é a que
tem a maior possibilidade de influenciar o destino de nosso país.
A Copa sempre acontece em
Junho-Julho, e as eleições sempre são em Outubro. Desde 1994 elas coincidem com
o ano em que é disputada a Copa do Mundo. Muita gente fala que o resultado da
Copa influencia o resultado das eleições, mas isso não é verdade. O período
entre os dois eventos, de 3 meses, é suficiente para dissipar qualquer
empolgação ou desânimo que possa ter sido gerado pelo torneio. Basta olhar para
2002 e 2006: Lula conseguiu se eleger depois de duas Copas totalmente
diferentes, e na segunda ele ainda enfrentava as dificuldades com o estouro do
Mensalão. A Copa não nos ajudou em nada… Quem nos dera o povo tivesse
ficado tão chateado a ponto de enfim enxergar que estava sendo governado
por criminosos.
Mas por que a Copa deste ano
pode ser diferente? Não são os mesmos 3 meses entre eventos? Não é a mesma
situação das últimas 5 Copas? Não são os mesmos partidos na disputa? Para mim,
e deixo claro que essa é somente minha opinião, não. Nada é igual. Tudo é
diferente nesta Copa. É uma Copa no Brasil, e não fora dele. É uma Copa trazida
pelo PT, pelo ex-presidente Lula, e adotada pela atual mandatária. É uma Copa
que acontece em meio a protestos, em meio a uma quantidade inédita de críticas
ao governo petista, na internet, na mídia impressa e em diversas obras
publicadas nos últimos 15 meses, que têm batido recordes de venda a cada
semana. É uma Copa em que se gastou o suficiente para 3 Copas, e cujo resultado
não é satisfatório nem para meia. É uma Copa desunida, uma que o povo
brasileiro não está querendo para si.
Por isso, eu vejo duas
possibilidades para essa Copa:
1.
Tudo acontece da melhor forma possível, o povo
esquece de todas as lambanças do governo, nenhum protesto atrapalha os jogos,
os aeroportos dão conta do movimento, o caos passa longe das cidades-sede, a
seleção brasileira joga bem e o povo sai feliz. Será a Copa das Copas para o
PT.
2.
A lei de Murphy não dá tréguas e as coisas não
acontecem como esperado. As cidades-sede sofrem com a falta de infraestrutura,
os jogos são afetados por protestos, muitos lugares experimentam o caos urbano,
turistas são assaltados, os sistemas de transporte pedem água, os aeroportos
ficam entupidos, e a seleção brasileira joga o que tem jogado, o suficiente
para passar das quartas, mas não para ser campeã. Com toda essa conta no bolso,
mais a tendência atual de queda de popularidade, e há uma chance de que Dilma
Rousseff não se reeleja. Seria a Copa das Copas para o Brasil.
Prefiro nunca mais ver nossa
seleção ganhar uma Copa do Mundo a ver o PT ganhando mais uma eleição
presidencial. Não escondo de ninguém: não torcerei nesta Copa, não quero que
tudo dê certo e não quero que o mundo olhe para o Brasil e diga “nossa, que
Copa maravilhosa eles organizaram”. Quero que essa bandida receba o pior legado
possível desse evento, e que seja um ônus tão grande a ponto de lhe tirar a
reeleição. Somente assim poderei chamar essa Copa de “A Copa das Copas”, e quem
sabe, daqui a alguns anos, colocar em minha lista: 2014 foi a melhor Copa de
todas.
Título e Texto: Flavio Quintela, Maldade Distilada, 28-05-2014
Flavio Quintela é autor do
livro“Mentiram (e muito) para mim”
Gastos calculados (até agora) na Copa 'caça-níqueis'/2014: 30 BILHÕES DE REAIS!
ResponderExcluir