quarta-feira, 14 de maio de 2014

"A próxima crise só acontecerá daqui a 50 anos"

Joana Carvalho Fernandes
Aos 40 anos, o economista e jornalista britânico já vendeu mais de um milhão de livros. A receita? Descomplicar a economia.
Se atravessarem – o leitor e o economista – uma estrada com muito trânsito, é provável que ele lhe fale do engenheiro de tráfego holandês que inventou uma forma de reduzir drasticamente o número de acidentes, só porque libertou algumas ruas do mobiliário urbano em excesso, obrigando os condutores a serem mais responsáveis. É assim que Tim Harford ganha a vida: a contar – nos jornais, na rádio e em livro – histórias sobre a economia escondida em tudo o que fazemos. As últimas estão publicadas em O Economista Disfarçado Contra Ataca, o seu sexto livro.


Trechos da entrevista de Tim Harford à jornalista Joana Carvalho Fernandes, revista Sábado, edição nº 521, 23 a 29 de abril de 2014

(…)
E como é que isso nos ajuda a resolver esta crise e a prevenir outras?
Acho que podemos esperar que a próxima crise desta dimensão só aconteça daqui a 50 anos. O problema da Zona Euro é que o nível de integração política não acompanha o nível de integração econômica – temos uma situação em que os alemães, que têm uma grande influência sobre o Banco Central Europeu, querem o melhor para a Alemanha, e em que os espanhóis querem o melhor para a Espanha. Mas o que é melhor para a Alemanha não é o melhor para a Espanha. Nem para a Itália, nem para Portugal. E todos estes países são democracias, todos os governos têm de respeitar o que as pessoas querem. Isso faz com que a coordenação seja muito difícil.

No último século a economia fez invenções (como a do PIB) mas também contou mentiras. E até houve uma determinante para a economia do Brasil.
Foi uma moeda-fantasma. A história começa no início da década de 60. O Brasil sofria surtos de inflação há décadas. Os preços aumentavam 80% por mês. Uma carcaça (pão francês) que custava 1 cruzeiro em janeiro podia custar mais de 3 cruzeiros em março, mais de 100 em setembro e bem mais de 1.000 no mês de janeiro do ano seguinte.
O Governo mudou de moeda diversas vezes para tentar controlar o problema – o cruzeiro foi substituído pelo cruzado (1986), no ano seguinte o cruzado foi revalorizado, depois o cruzado foi substituído pelo cruzado novo. Dois anos depois, o cruzado regressou. Em 1992, o cruzado voltou a ser substituído. Mas pelo cruzeiro. Cinco moedas novas em sete anos!

Como é que o problema se resolveu? 
Um grupo de economistas decidiu alterar a unidade de conta do cruzeiro – chamou-lhe Unidade Real de Valor (URV). Os salários passaram a ser denominados em URV, no supermercado tudo era denominado em URV. A pessoa ia comprar pão e, para pagar, tinha de consultar a tabela (na parede, nos jornais) calculada diariamente pelo banco central, e entregar o número de cruzeiros equivalente a uma URV.

Os brasileiros começaram a entender o mundo em termos de URV, e essa unidade transformou-se num ponto fixo num contexto em que tudo estava a mudar. A única coisa sólida era a URV. Era isso que permitia às pessoas compreenderem o preço do pão, o preço de um vestido. Depois de algum tempo a fazer isto, o Governo disse: “Vamos imprimir uma nova moeda, que vai chamar-se Real. E uma URV será igual a UM Real.” As pessoas ficaram muito contentes por poder esquecer os cruzeiros. Não era nada útil manter uma moeda cujo valor mudava constantemente.

Esta moeda-fantasma mudou a psicologia da inflação. Foi brilhante. A melhor propriedade de uma moeda é que o seu valor seja compreensível.
(…)
Edição: JP

Relacionado:

2 comentários:

  1. Quando os poucos políticos competentes querem fazer coisas úteis e construtivas, eles se reunem e fazem, ainda que imprensados contra a parede pelo FMI, como ocorreu com o Presidente Itamar Franco e seu então ministro da economia, o sociólogo socialista moderado Fernando Henrique Cardoso fizeram... Quem quiser revisar e lembrar desses dias economicamente conturbados e entender melhor o que ocorre hoje em dia, deve ler o livro que FHC escreveu com a ajuda de um 'ghostwriter', com o título:"Fernado Henrique Cardoso: O Improvável Presidente do Brasil". Foi essa fase da história do nosso país que ensinou uma lição que a esquerda tupiniquim não quer aprender: a de que "não se pode exigir de uma pessoa obrigações e deveres que ela não esteja preparada para cumprir", e que a cidadania tem que ter um mínimo de qualificação para ser exercida por quem quer que seja, e esse mínimo consiste do segundo grau completo da escolaridade oficial e de uma reputação de pessoa de bem, proba e cumpridora de seus deveres. Quando isso for observado de modo eficaz, o Brasil passará a ter condições de figurar entre as maiores potências do planeta. Antes, não...

    ResponderExcluir
  2. BELEZA JP!
    Algumas considerações sobre o economês brasileiro. Eles enchem a boca falando de PIB, mas não definem suas falácias.
    O Brasil teve em 2013 o sexto PIB do mundo 2.673.580 milhões de dólares.

    Já no PPC o Brasil ou PIB PER CÁPITA estava em 54 lugar com 8400 dólares por cabeça.
    E se formos calcular com paridade de poder de compra per cápita ele cai para 76 no mundo.
    O PRODUTO INTERNO BRUTO PER CÁPITA COM PARIDADE DE COMPRA OU PPCPC é o mais importantes à se medir.
    Só para constar a CHINA terceiro PIB do mundo é o 89 no PPCPC.
    Metade dos brasileiros são informais e o mesmo acontece na China, são pessoas que não pagam impostos mas se beneficiam deles, e quanto mais informalidade, menos renda per cápita, mais corrupção e mais alta a taxa de impostos à metade trabalhadora.

    ResponderExcluir

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-