
Fica pela enésima vez provado
que os especialistas não sabem o que dizem. Nem o que deviam dizer.
Se soubessem, estariam
conscientes de que, pelo menos no Ocidente, o crime – à semelhança da
dependência de narcóticos e outros “desvios” sociais – costuma andar um
bocadinho associado a fases de prosperidade. Podia citar o clásico exemplo
americano, onde a criminalidade, violenta ou meiguinha, cresceu mais ou menos
em simultâneo ao crescimento econômico das décadas de 1960 e de 1970 (e vem
diminuindo durante os últimos anos, assaz traumatizados por “bolhas”, bailouts e Bin Laden).
Para não irmos longe,
limito-me ao exemplo nacional: por cá, o “pico” na quantidade de crimes
registados coincide com o ano 2008, época em que éramos ricos e felizes. Em
1980, o total de aguidos representava 30% do total de 2012 (e quase 20% do de
2008). É esquisito? Se calhar, sim, mas nunca ninguém conseguiu garantir que a
vida fosse linear e trivial.
Excepto, claro, os
especialistas (e comentadores), para quem tudo se encaixa impecavelmente nas
categorias que estruturam as suas cabeças. Os ricos roubam motivados pela
cobiça e porque são geneticamente perversos (sentença: crime
malvado/intolerável). Os pobres roubam motivados pela necessidade e porque são
evidentemente oprimidos (sentença: crime compreensível/desejável).
Honestos, só os especialistas
(e comentadores), que disparam profecias sem que a realidade, essa ingrata,
lhes dê a devida importância. É um crime.
Título e Texto: Alberto Gonçalves, Sábado, nº 518, de 3
a 9 de abril de 2014
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