António S. Carvalho
Seja qual for a motivação que
cada um teve, da mais respeitável à mais inconfessável, o facto é que
demasiados jornalistas e comentadores nacionais andam, há anos, a dar-nos de
António Costa uma imagem artificialmente favorável e a silenciar ou ignorar
facetas suas reveladoras da falsidade dessa rósea "narrativa". Ora
nós, cidadãos comuns, temos direito a uma informação pública que não nos engane
de modo sistemático, ainda mais agora, quando estamos em vésperas de umas
eleições onde o nosso destino estará em jogo e António Costa será um dos
principais candidatos a primeiro-ministro. Por isso, esperar-se-ia que, ao
menos neste período, os potenciais eleitores pudessem ser informados com mais
verdade.
Lembro apenas dois exemplos
paradigmáticos.
Primeiro: nos últimos anos,
enquanto António Costa presidiu à CML, os habitantes da capital viram as suas
contas da água (EPAL) duplicar de custo, não por terem passado a consumi-la em
maior quantidade, mas sim porque Costa decidiu incluir nessas contas diversas
taxas camarárias (é tão fácil, e dá tantos milhões...), cuja soma supera já o
custo da própria água!
Ora esta situação, que deveria
ser encarada e tratada como escândalo público, em vez disso tem sido silenciada
pelos media. E nós, munícipes, não temos quem nos defenda deste afrontoso roubo
legalizado. Tudo porque os media funcionam como se fosse tabu, ou heresia,
denunciar publicamente o modo despótico como Costa exerce o poder.
Segundo: antes de ir para a
CML, ele foi durante anos ministro de Sócrates (e seu entusiástico adepto), com
a tutela dos arrendamentos urbanos, tendo-se comprometido a reformar a
respetiva lei, de cuja vigência decorriam muitas aberrações e distorções, a fim
de reanimar o (então moribundo) mercado do arrendamento.
Ora, a lei que foi feita sob
as suas ordens e que passou a vigorar em 2006, teve efeitos em tudo opostos aos
que ele garantira, e de tal modo perversos eles eram que julgar-se-ia provirem
de uma lei que tivesse sido encomendada (e exigida?) pela banca, pois a esta
interessava a morte definitiva do mercado de arrendamento. Isto porque o seu
grande negócio - os empréstimos para aquisição de casa própria com hipotecas de
30 a 40 anos - ser-lhe-ia tanto mais rentável quanto menos gente houvesse a
optar pelo arrendamento. Foi aliás devido a este originalíssimo "modelo de
desenvolvimento económico", seguido durante uns 30 anos, que Portugal se
tornou o país com a mais descomunal dívida externa originada pelo endividamento
das famílias, e que tornou inevitável, em 2011, o terceiro pedido de resgate
financeiro ao exterior em 40 anos - tudo graças a leis como aquela de que o Dr.
Costa foi o responsável máximo, um facto que também é sempre ocultado pelos
nossos media.
De resto, e como é sabido,
este reputado político ainda hoje não reconhece ter cometido qualquer erro
económico relevante no seu já longo currículo como governante. Torna-se pois
indispensável, para proteção de todos nós, que alguém lhe chame a atenção para
os mortíferos males que foi impondo ao país, sem sequer se aperceber que eram
males, e antes que os inflija de novo, cheio da sua auto-satisfação e boa
consciência.
Título e Texto: António S. Carvalho, Diário de Notícias, 9-8-2015
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