João Miguel Tavares
A verdade é esta: todos os nomes que até
agora mostraram disponibilidade para serem as novas caras do PSD têm caras mais
velhas do que a de Pedro Passos Coelho.
Leram bem: não é contra. É a
favor. O tempo corre a favor de Pedro Passos Coelho. Quem tenha lido os jornais
nas últimas semanas deparou-se com várias entrevistas e múltiplos comentários
lamentando a “solidão” e a “fragilidade” do actual líder do PSD. Não vejo onde
elas estejam. E não é por Passos Coelho ter ganho as legislativas e ter acabado
de ser reeleito sem concorrência e com 95% de votos – é porque há um fosso
gigantesco, em termos de lucidez, arejamento e experiência política, entre o
seu discurso e o discurso daqueles que alegadamente se lhe opõem.
A oposição a Passos Coelho vem
toda da actual esquerda do PSD – são aqueles que acham que o
ex-primeiro-ministro não foi suficientemente “social-democrata” nos últimos
quatro anos. Só que essa definição de social-democracia vai invariavelmente
desembocar num modelo de sociedade estatista, alumiado pela eterna lamparina de
São Bento, que se mostra esgotado há 20 anos. São aqueles que gostavam que o
PSD fosse um bocadinho mais parecido com o PS. E a verdade é esta: todos os
nomes que até agora mostraram disponibilidade para serem as novas caras do PSD
têm caras mais velhas do que a de Pedro Passos Coelho.
Veja-se o caso de Nuno Morais
Sarmento. Ao mesmo tempo que defendia o magnífico estado angolano, Morais
Sarmento declarava à Antena 1 que Passos Coelho era o melhor líder do PSD em
2016, mas que talvez não o fosse em 2017, dada a sua “enorme dificuldade” em
vir a protagonizar “um novo ciclo político”. Donde, Morais Sarmento admitia vir
a candidatar-se no futuro à liderança do PSD. É uma das piadas do ano. Passos
Coelho não tem estamina para “um novo ciclo político”, mas o braço direito de
Durão Barroso e de Pedro Santana Lopes tem. É uma lógica admirável, do tipo:
como já vai faltando energia à minha avó, vou substituí-la pela minha bisavó.
A oposição do PSD está a ver
tudo mal: os últimos quatro anos não envelheceram apenas Passos Coelho –
envelheceram, e em muito maior proporção, todas as antigas caras do PSD, que
hoje em dia parecem múmias de um outro tempo. É claro que em Espinho poderia e
deveria ter surgido oposição a Passos. Mas essa oposição, para ter alguma
eficácia, precisava de ter vindo de uma (inexistente) ala liberal, acusando-o
de não ter sido suficientemente reformista. Os opositores que surgiram,
presencialmente ou espiritualmente, não se distinguem de António Costa nas
críticas que fazem a Passos Coelho – e tal como António Costa, aquilo que têm à
sua frente é uma parede de realidade onde estão condenados a esbarrar.
Passos esteve muito confiante
no congresso, e a razão dessa confiança explicou-a numa entrevista à SIC no
início de Março, quando fez uma declaração que resume bem as suas convicções:
“Se pudéssemos, sem dinheiro, devolver salários e pensões e no fim as contas
batessem todas certas, passaria a defender o voto no Partido Socialista, no
Bloco de Esquerda e no Partido Comunista.”
Nem mais. Porque das duas, uma: ou
António Costa consegue o milagre das rosas, a sua estratégia económica funciona
e ele tem muitos anos de vida como primeiro-ministro. Ou isto corre tudo mal, e
então a estratégia certa é a de Passos Coelho, e não a de Rui Rio ou de Morais
Sarmento. Eu acredito, como Passos, que a estratégia socialista vai falhar
redondamente. Mas se não falhar, o tempo será sempre de António Costa, e nunca
dos “sociais-democratas” do PSD.
Título e Texto: João Miguel Tavares, Público,
5-4-2016
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