Fernando Augusto Martins
Canhadas
Depois de tantos meses de
disputas, negociatas e articulações, o dia D do impeachment de Dilma Roussef
chegou e enfim tivemos um golpe no Brasil. Mas para a surpresa minha, sua e do
mundo, não houve o golpe tão propalado pelos defensores do governo Dilma, mas
sim um outro golpe. Na verdade um golpe de mestre, orquestrado e costurado à
sorrelfa, ou como se diz hoje em dia, na miúda, por gente graúda. Muito graúda.
Se vocês não têm essa ideia com clareza ainda, vamos aos fatos.
Mesmo sabedor da circunstância
de que o impeachment estava sacramentado, Lula continuava trabalhando forte nos
bastidores. Hoje soubemos o motivo. Não era para evitar o impeachment coisa
nenhuma, mas sim para evitar a inabilitação de Dilma.
Segunda pergunta mais
importante: quem ganha com o golpe de hoje? Ao menos dois grandes grupos de
pessoas: 1) Dilma, PT e todo mundo que trabalhava no discurso do golpe, que
agora para sempre poderá dizer que “ah, tanto foi um golpe que ela sequer foi
condenada – fica óbvio que ela não cometeu nenhum crime e o único intuito era
tirá-la”; e 2) Cunha e todos os demais parlamentares (PMDB em peso) que estão
correndo o risco de perderem o mandato, especialmente em épocas de Lava-Jato –
não perdendo os direitos políticos, eles poderão concorrer a novas eleições em
breve e, por consequência, manter prerrogativas de foro.
Primeira pergunta mais
importante: quem participou desse Golpe, além de Lula? Temos todos os nomes,
então vamos lá: José Eduardo Cardozo, óbvio; Renan Calheiros, óbvio; Ricardo
Lewandowski, óbvio (que já estava com a decisão pronta e redigida, segundo ele
porque a possibilidade daquela questão já vinha sendo abordada pela imprensa –
aqui, oh!) e obviamente, todos os outros senadores que votaram pelo
impeachment, mas não pela inabilitação ou que se abstiveram em relação à
segunda, quais sejam: Acir Gurgacz (PDT-RO), Antonio Carlos Valadares (PSB-SE),
Cidinho Santos (PR-MT), Cristovam Buarque (PPS-DF), Edison Lobão (PMDB-MA),
Eduardo Braga (PMDB-AM), Hélio José (PMDB-DF), Jader Barbalho (PMDB-PA), João
Alberto Souza (PMDB-MA), Raimundo Lira (PMDB-PB), Renan Calheiros (PMDB-AL),
Roberto Rocha (PSB-MA), Rose de Freitas (PMDB-ES), Telmário Mota (PDT-RR),
Vicentinho Alves (PR-TO), Wellington Fagundes (PR-MT), Eunício Oliveira
(PMDB-CE), Maria do Carmo Alves (DEM-SE) e Valdir Raupp (PMDB-RO).
É, amigos, temos que dar a mão
à palmatória. A ideia foi genial. Tudo foi feito na surdina e ninguém da
imprensa – pelo menos que eu tenha lido – antecipou essa possibilidade. E vejam
a sofisticação da manobra: agora estão falando de impugnar a decisão no STF,
por conta da separação das votações. Mas não vejo como impugnar uma parte sem a
outra. Quem votou hoje pelo impeachment, votou apenas pelo impeachment, não
pelo destaque. Não seria possível presumir a inclusão do destaque na primeira
parte da votação de hoje. Assim, se alguém quiser impugnar (como Caiado disse
que irá fazer), a decisão do impeachment de Dilma fica anulada e outra sessão
deveria ser convocada. É mole?
Por fim, é óbvio ululante e
não há como negar que a decisão de separar as votações de hoje foi
inconstitucional. A leitura do art. 52, parágrafo único do texto constitucional
não admite nenhuma outra interpretação, a não ser de que o impeachment leva à
cassação dos direitos políticos.
Mas para que Constituição com
o Senado que temos? Com os Partidos que temos? Com o STF que temos?
Hoje finalmente houve um golpe
no Brasil. E que belo golpe!
Título e Texto: Fernando Augusto Martins Canhadas, Facebook,
31-8-2016
Marcação: JP
Muito bom!
ResponderExcluirSá da Bandeira