Carina Bratt
Nosso dia é hoje, 8 de
março. Viva nós. Já que é o nosso dia, vamos focar em um problema que está
se alastrando pelo mundo pior que o coronavírus. Aliás, amigas leitoras, uma
questão delicada que envolve todas nós, o belo sexo. Faço referência ao
ESTUPRO. O que é o ESTUPRO? Crime que consiste no constrangimento
(constrangimento é a mesma coisa que coagir, forçar, ser colocado em situação
vergonhosa alguém e com esse alguém, obrigar a manter relações sexuais por meio
de violência, ou atos libidinosos. Em outras palavras, o mesmo que forçamento).
Nesse patamar, não importa
qual seja a violência usada. Aqui todas elas se enquadram perfeitamente. Nos
últimos anos, acreditem, houve um grande aumento no número de estupros
denunciados (sem falar naqueles que ficaram às escondidas e não foram
relatados). O estupro, segundo estatísticas recentes, mostram que houve um
aumento de mais de 400% no número de estupradores, conforme noticiaram em seu
artigo Clariana Leal Sommacal e Priscila
de Azambuja Tagliari, publicada na revista da ESMESC, sob o título “A Cultura do Estupro: O
Arcabouço da Desigualdade, da Tolerância à Violência, da Objetificação da
Mulher e da Culpabilização da Vítima”.
Nesse trabalho de fôlego,
tomamos conhecimento que “Esses 400% incluem estupradores admitidos nas prisões
do Estado de Nova York nos últimos cinco anos em relação aos seis anos
anteriores. Não se sabe se essas estatísticas refletem um crescimento dos
estupros cometidos ou apenas dos estupros denunciados. O estudo das doutoras
acima indica que em 20% dos estupros denunciados, as vítimas tinham menos de
doze anos. Cerca de 60 mil estupros se tornaram público anualmente nos Estados
Unidos, e, igual número, aqui no Brasil”.
Guilherme de Souza Nucci em
seu brilhante “Crimes Contra a Dignidade Sexual”, em sua 5ª edição, pela
Forense, esclarece que “as mulheres que tiveram filhos ou que mantinham
relações sexuais podem sofrer um trauma físico mínimo em consequência de
estupro. Porém, as virgens e crianças, as lacerações vaginais podem ser
severas. Logo após o estupro, a mulher deve procurar ajuda médica de um
pronto-socorro ou de seu ginecologista. As lacerações vaginais podem ser graves
a ponto de exigirem uma cirurgia para reparar os danos e controlar a
hemorragia”.
E conclui mais a frente: “Essa
reparação deve ser feita tão depressa quanto possível, para evitar infecção ou
perda excessiva de sangue e para assegurar uma cicatrização adequada. Se a
vítima for uma criança (não importa a idade), deve ser internada num hospital.
Com frequência, a menina precisa de anestesia geral para ser examinada e
tratada, pois pode estar assustada a ponto de não permitir um exame
adequado”. Sohaila Abdulali trouxe para
nosso deleite, o “Do que Estamos Falando Quando Falamos de Estupro”, pela
Editora Vestígio, com tradução de Luis Reyes Gil.
Em linhas gerais, ela informa
que “Infelizmente, não existem instruções ginecológicas claras que ajudem a
mulher que está sendo estuprada a evitar os traumas físicos e emocionais, uma
vez que cada caso de estupro é completamente individual. Se não for possível
escapar e for inútil gritar, talvez seja aconselhável deixar o estuprador levar
à cabo seu intento sem resistir. Lutar pode provocar mais violências e
ferimentos. Já se sugeriu como meio de proteção, que a mulher faça alguma coisa
que ‘corte o barato’ do atacante, tal como vomitar, tirar a peruca e jogar
nele, tirar a dentadura, ou mesmo urinar ou defecar. Esses atos, em vez de
irritar, talvez choquem o estuprador em potencial’”.
Claro, amigas leitoras que isso
não se aplica às crianças e as meninas longe da idade adulta e dos
entendimentos e esclarecimentos necessários. “Se for estuprada, a mulher deve
entrar em contato imediatamente com seu médico -, ensina Leslie Jamison em seu
ensaio ‘Exames de empatia’ e observa: “Também deve denunciar o fato à polícia,
dando a descrição clara do assaltante e das circunstâncias do ataque. Se os
órgãos genitais ficarem traumatizados, é preciso ajuda médica imediata’”.
No mesmo seguimento,
entretanto mais para o lado romanceado, porém verdadeiro, Lena Dunham em “Não
sou uma dessas: uma garota conta tudo o que ‘aprendeu’”, alertando que “mesmo
sem trauma físico, a mulher deve procurar assistência médica por dois motivos
importantes. Primeiro, nessa situação de emergência, se houver possibilidade de
gravidez em consequência de estupro, ela poderá receber uma ‘pílula do dia
seguinte’ para evitar a concepção; segundo, deve fazer exames para doenças
venéreas. Se houver suspeita de doença, deve tomar antibióticos. Outro motivo importante
para o exame médico é obter evidências materiais do estupro, tais como amostras
de esperma na vagina ou a descrição de lacerações vaginais’”.
Numa visão geral,
frequentemente nós mulheres, as
representantes do belo sexo (mas também do sexo frágil) ficamos com vergonha de
procurar ajuda médica e legal, pois nós todas, as eternas vítimas de estupro,
muitas vezes somos maltratadas e
humilhadas pelas próprias pessoas que deveriam nos ajudar, aqui incluo (são raras
as exceções) nossos parentes mais chegados, e claro, os médicos e a própria
polícia. Por isso, muitos estupros não são denunciados. Venturosamente, essas
atitudes estão mudando para melhor, e, a cada dia, novas vítimas de estupros
recebem assistência psicológica. Por aqui, com o aumento das Delegacias da
Mulher, operadas por mulheres, estão especificamente treinadas para atender a
esse tipo de crime, a meu ver, hediondo, tanto ou quanto pior que aqueles
elencados na Lei Maria da Penha.
Não poderíamos deixar de
mencionar Drauzio Varella, que certa vez, no programa ‘Fantástico’, da Rede
Globo, em relação ao trauma psicológico do estupro, assim se posicionou: “Mesmo
quando há um trauma físico mínimo, com frequência o estupro provoca trauma
psicológico. Esse trauma pode ser grave a ponto de influenciar para sempre a
visão da vítima sobre o sexo, os homens a ela mesma. Frequentemente, a mulher
fica chocada e temerosa de que o crime possa voltar a acontecer. As relações
sexuais voluntárias com um parceiro desejado podem ser perturbadas pelo medo do
sexo originado na experiência do estupro; às vezes esse medo chega a provocar
vaginismo’”.
Amigas e leitoras, para
terminar as minhas “Danações” de hoje, vou tentar, em poucas palavras,
esclarecer como prevenir o estupro. Como acontece em relação a muitos outros
crimes, é muito difícil ou, às vezes, se torna quase impossível ‘sairmos fora’
do perigo iminente (iminente é aquilo que está prestes a acontecer). Aconselho
adotarem os conselhos que me foram passados pela minha ginecologista. As
precauções são as mesmas para prevenir assaltos e roubos: quando estivermos
sozinhas, pelas ruas, evitarmos os caminhos desertos, notadamente à noite.
Se formos seguidas por um
carro, moto ou bicicleta, darmos meia volta e sairmos correndo. Se abordadas
num prédio, é melhor gritarmos FOGO do que SOCORRO, para que nos abram as
portas. Os trincos de janelas e portas devem ser adequados; jamais deixarmos
que entrem estranhos não identificados. A lista de conselhos é grandiosíssima e
poderia seguir indefinidamente; o principal deles é simplesmente sermos
cuidadosas e prudentes e evitarmos, em vez de confrontarmos as situações
consideradas perigosas, fugirmos delas.
Os pais (e isso serve para
todos os papais e mamães e demais responsáveis) saber sempre onde estão as filhas,
os filhos os netos e as netas, adverti-los sobre os perigos representados por
desconhecidos, ou até mesmo de membros da própria família, neles incluídos os
amigos mais chegados, aqueles que frequentam nossa casa, nosso meio, nosso dia
a dia, etc. Lembrem sempre dessa frase:
“uma mulher prevenida, vale por duas. Duas mulheres prevenidas, não sobra
nenhuma”. (axioma pinçado de “Frases geniais” de Paulo Buchsbaum – Ediouro
2004). Sem mais para hoje, curtam nosso dia. E viva esse domingo, 8 de março,
dia de todas nós, “AS MULHERES DO BRASIL”.
Título e Texto: Carina Bratt,
do Rio de Janeiro. 8-3-2020
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Quando o assalto e o estupro for inevitável, RELAXE e "STAYING ALIVE".
ResponderExcluirDIA DA MULHER QUE TODO HOMEM AMA.
SEJA MÃE, IRMÃ, AMIGA, NAMORADA OU ESPOSA.
DEIXO MINHA HOMENAGEM À ELAS COM UM POEMA DE 1969.
Qual a mulher ideal, para mim?
"SEU NOME É JAQUELINE".
Lembro-me de que respondi que ideal é sempre a mulher que a gente gosta,
e que nos compreende. Mas pensei depois no assunto, e nasceu o poema. A mulher ideal, única, tem seis faces. Seis faces que a tornam múltipla, e infinita, para a nossa vida, a nossa ternura, o nosso amor. Na realidade, há todas as mulheres, na mulher que a gente ama. Disse isto no poema:
” As Seis Faces… ”
Quando te encontro e observo que ficaste mais linda
e soltaste os cabelos para me agradar,
e me entregas os lábios num beijo leve e morno como a aragem,
e tranças os teus dedos em meus dedos, e me olhas
como no dia em que te tirei para dançar pela primeira vez,
é que percebo que continuas
a namorada.
Quando te preocupas com o tempo porque vou sair,
e recomendas detalhes como se me visse criança,
e repreendes a minha falta depois que as visitas se foram,
e endireitas a minha gravata, e escolhes a minha camisa,
e me fazes trocar os sapatos que não combinam;
Quando surpreende o meu cansaço, e me enlaças,
e recosta a minha cabeça em teu colo,
e me dás conselhos como se eu pudesse segui-los,
é que descubro que há em ti, para mim, até mesmo
um pouco de mãe.
Quando te consomes muito mais com as minhas preocupações
e advinhas meus pensamentos, me prevines contra falsos amigos,
e te empenhas em partilhar também minha luta;
E economizas, como se com isso poupasses minhas forças,
e, sem querer, com uma palavra, desvendas uma solução
tão próxima e tão evidente, mas que meus olhos não percebiam;
quando à noite , na sombra, sem tocarmos os corpos,
conversamos, esquecidos, como dois amigos numa encruzilhada,
é que compreendo que tu és
a companheira.
Quando chego, e ao abrir a porta, estás à espera
com tua felicidade que me envolve e me aconchega,
e tirar da minha mão a pesada pasta de couro,
e me entregas os lábios (úmidos e trêmulos);
Quando te encontro depois, em todos os detalhes cotidianos
e prosaicos, que fazem o melhor da vida:
minha toalha de banho no lugar; meus chinelos no seu canto;
minha roupa limpa sobre a cama; aquela jarra com flores arrumada;
Aquela mesa posta, com seus talheres brilhando;
aquele odor de refeição que é o perfume do lar;
quando te vejo, leve e diligente, a circular pela casa
que consideras teu Reino, teu Mundo, teu Universo;
sei que tu és então
a esposa.
Quando à noite, de tarde, ou de manhã, (é um momento imprevisto
e nunca marcado) sinto que precisas de mim, que te faço falta,
como do ar, ou da água, de alimento, ou de vida,
e te encontro ao meu lado sempre irrevelada, e te dispo,
e se desencontraram as mãos e nossos corpos
e subitamente nos jogamos, como banhistas
contra o mar, contra as ondas, o mar desconhecido
as ondas que afogam e arrastam,
e de súbito estamos salvos na areia, como náufragos, és
a amante.
Quando te encontro ao meu lado, deitada numa nuvem
a acompanhar outras nuvens preguiçosas e itinerantes
no céu do coração;
Quando te pões a falar como crianças nas brincadeiras
em diminutivos, em “faz-de-contas” de pura imaginação,
e de ti restou apenas o contato dos nossos corpos, que
permaneceu em nós
entretanto distante, imaterial, a planar
como aquela gaivota na vaga luz da tarde que se esvai;
quando estirados na areia, cansados, mas felizes,
já podemos conversar, eu diria nesta hora que tu és
simplesmente
a irmã.
Quando penso em ti, e te sei tantas, no milagre da multiplicação
do amor,
recolho-me a ti, como pássaro às ramagens, onde encontra
a sombra, o ninho, o balanço, o fruto, – o impulso
para o vôo.
E amo, e trabalho, e sonho, e canto.
Fonte:
JG de Araújo Jorge. “No Mundo da Poesia ” Edição do Autor
Boa noite a todos e todas, especialmente ao amigo Roccha, que sempre me prestigia deixando um comentário. Esse poema de J. G. de Araujo Jorge, é, sem duvida alguma, uma pérola nacarada. E Roccha o escolheu, acredito, com todo o carinho que emana do seu coração. Parabéns pelo texto aqui deixado. Eu fiquei imensamente feliz com a sua participação e, claro, o mais importante, o poema de José Guilherme diz tudo aquilo que a gente gostaria de ouvir todos os dias. Uma poesia cujas palavras tem o condão de massagear nosso ego. Se o meu outro amigo e editor Jim me permitir, gostaria de lembrar igualmente um texto de Aparecido Raimundo de Souza que foi publicado nesta revista em 06 de março de 2017, sob o título "Ser mulher é...". cujo link segue abaixo:
ResponderExcluirhttp://www.caoquefuma.com/2017/03/aparecido-rasga-o-verbo-ser-mulher-e.htmlm=1&fbclid=IwAR1ZZkChuEkLlITDwcfRClsNymuSF4NpRXfdL_k4dIz3tzuVAWgHrWAwd
Aparecido é outro que sabe o caminho das pedras e tem as palavras certas para alegrar nosso dia a dia e fazer com que nosso cotidiano seja um pouco mais feliz. Parabéns, pois, a ele também. Roccha e Aparecido. Fico feliz por vocês dois fazerem parte da minha vida.
Carinhosamente,
Carina Bratt.
do Rio de Janeiro.