Rodrigo Constantino
O filme "E o Vento
Levou" foi retirado da plataforma de streaming HBO Max na terça-feira (9),
no momento em que grandes protestos contra o racismo e a brutalidade policial
levam os canais de televisão revisar o conteúdo oferecido.
O longa-metragem de 1939 sobre
a Guerra Civil americana, que venceu oito estatuetas do Oscar, incluindo melhor
filme, continua sendo uma das maiores bilheterias de todos os tempos (quando
são calculados os ajustes pela inflação), mas sua representação de escravos
conformados e heroicos proprietários de escravos é alvo de críticas.
'E o Vento Levou' é um
produto de seu tempo e contém alguns dos preconceitos étnicos e raciais que,
infelizmente, têm sido comuns na sociedade americana", afirmou um
porta-voz da HBO Max em um comunicado enviado à AFP.
"Estas representações
racistas estavam erradas na época e estão erradas hoje, e sentimos que manter
este título disponível sem uma explicação e uma denúncia dessas representações
seria irresponsável", completou.
Sim, a primeira constatação é
a de que o mundo está muito chato, insuportável até, eu diria. Trata-se de uma
geração mimizenta, afetada, sensível demais, que enxerga ofensa e microagressão
por todo lado, e pretende reescrever a história para limpar os "erros do
passado".
Mas essa constatação é
imperfeita, ou melhor, incompleta. Sim, tudo isso é verdade. Uma garotada que
"apanhou de pantufa" e usou Mertholate que não arde ficou fresca demais,
covarde ao extremo, incapaz de conviver com ambiguidades e contextualizar o
passado.
O rapazinho se sente melhor do
que Thomas Jefferson, pois o "pai fundador" da América tinha
escravos. Ele não precisa fazer mais nada da vida, pode matar aula e realizar
protestos, expiar a "culpa" que atormenta essa elite, e assim posar
de alma nobre.
Sérgio Camargo, da Fundação
Palmares, desabafou nas redes sociais:
Mais uma vitória dos afromimizentos radicais. Em nome da burrice politicamente correta, clássico do cinema é retirado de plataforma. A censura foi a pedido dos mesmos que aplaudem as depredações e mortes do Black Lives Matter. Estamos no mau caminho. pic.twitter.com/ZrKCAr1v3i— Sérgio Camargo (@sergiodireita1) June 10, 2020
Mas não é só isso. Não é
"apenas" algo idiota, sem maiores efeitos. É todo um fenômeno
complexo, que passa pela política identitária, o refúgio da esquerda socialista
e a forma encontrada pelos radicais de subverter a ordem no mundo ocidental.
Quando J.K. Rowling, autora de
Harry Potter, é "cancelada" pela patota LGBT por comentários banais
sobre menstruação, isso demonstra como a maluquice foi longe demais. E o
problema é que há método na "loucura". Tem gente que sabe muito bem o
que está fazendo ao disseminar esse ódio revestido de altruísmo.
Por coincidência, esse foi o
tema da minha "live" com meus patronos ontem, e eles gentilmente me
autorizaram a divulgar o vídeo, pois tem importante fator pedagógico. É crucial
compreendermos melhor o mundo moderno, sem levar na brincadeira o que se passa,
ou sem simplesmente atestar sua chatice tremenda. Eis a palestra, um tanto
longa, mas que destrincha o fenômeno:
NdE: Entre o elenco de E
Tudo o Vento Levou contava-se Hattie McDaniel, que se tornou na primeira
atriz afro-americana a vencer um Óscar - neste caso, o de Melhor Atriz
Secundária pelo papel da escrava Mammy - que seria entregue a 29 de fevereiro
de 1940. Na época, Hattie foi a primeira mulher negra a ser convidada para a cerimónia,
mas, por causa das leis da segregação racial, não pôde sentar-se juntamente com
o restante elenco. Durante a sua carreira, desempenhou maioritariamente papéis
de empregada e foi criticada pelos seus pares por os aceitar.
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