terça-feira, 30 de março de 2021

Reforma ministerial – Tríplice mudança

Alexandre Garcia

O chanceler Ernesto Araújo foi ao Senado nos idos de março e sofreu o destino de Júlio César. As espadas literais de Kátia Abreu e de Rodrigo Pacheco foram fatais. No quarto dia, pediu para sair, sentindo que iria prejudicar as relações entre o presidente e a Câmara Alta. No mesmo dia, o presidente dispensou o ministro da Defesa, a quem já havia chamado a atenção na reunião ministerial de 22 de abril do ano passado. Bolsonaro se queixara de Sérgio Moro e do General Fernando Azevedo e Silva, por falta de ação e de informações em tempo oportuno. Dispensou também o Advogado-Geral da União que o deixara assinando sozinho a Adin da semana passada contra o toque de recolher.

Foto: Sergio Lima/AFP

Araújo vinha sendo alvo de campanhas ideológicas como as que afastaram Abraham Weintraub da Educação e que agora vão mirar em Ricardo Salles, do Meio Ambiente. Mas a pressão só se tornou insuportável depois que os presidentes da Câmara e do Senado voltaram de encontro e jantar com cerca de dez grandes empresários em São Paulo. O motivo seriam prejuízos nas relações com a China, por causa de atitudes ideológicas do chanceler. Na sexta pela manhã o deputado Artur Lira vocalizou a posição que ouvira na véspera num manifesto em plenário, falando em soluções amargas e até fatais.

A gota que se tornou fatal foi a mensagem de Araújo no Twitter, sugerindo que motivo de uma visita da senadora Kátia dia 4 ao Itamaraty, não eram vacinas chinesas, mas lobby em torno do 5G da chinesa Huawei. Boa parte do Senado se indignou e o presidente da Casa saiu em defesa da presidente da Comissão de Relações Exteriores, exigindo a saída de Araújo. Ele percebeu que estava atingindo a relação entre o Senado e o Presidente da República e pediu para sair. Não estamos em sistema parlamentar, mas o ministro perdeu a confiança do Senado e caiu. No Senado, o embaixador da China tem mais cartaz que Araújo. 

O presidente tirou o ministro da Defesa e o advogado-geral para fazer uma arrumação, na busca de auxiliares mais ativos. Pressões políticas tiveram êxito em relação a Eduardo Pazuello - que não admitiu intermediários nas verbas para prefeituras e governos estaduais - e Araújo, que estava contra o 5G chinês. Como se sabe, a Constituição de 1988 deixou um sistema híbrido, que foi apelidado de presidencialismo de coalizão, que foi interrompido há dois anos. O centrão talvez esteja medindo forças para sentir até onde o tal sistema pode voltar.

Título e Texto: Alexandre Garcia, Gazeta do Povo, 30-32021, 14h41

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