sábado, 27 de março de 2021

O alerta do tango argentino

Quem bate panela contra Bolsonaro, e não contra o STF, pode até não saber, mas quer o PT de volta e mira o péssimo exemplo que vem da Argentina


Rodrigo Constantino

O Foro de São Paulo conseguiu chegar ao poder em vários países latino-americanos em curto espaço de tempo, lembrando que sua missão, de acordo com os fundadores, é resgatar na América Latina o que se perdeu no Leste Europeu no final da década de 1980, ou seja, o comunismo. Essa esquerda radical teve êxito completo em ao menos num país, a Venezuela, que é a grande vitrine do “socialismo do século 21”.

Como Trump já apontou, a Venezuela não é o socialismo que deu errado, que se desviou de seus propósitos, mas sim aquele que deu certo, que foi implementado exatamente como os comunistas pretendem. O resultado é este, invariavelmente: caos, miséria e muita opressão sob uma ditadura. Foi assim em todo experimento socialista do século 20 também, e não tem como ser diferente.

Outros países viveram situações intermediárias, como Equador, Bolívia, Brasil e Argentina. No Brasil, o impeachment de Dilma Rousseff, liderado pelo “centrão” fisiológico e com forte pressão popular das ruas, impediu o pior. Na Argentina, a eleição de Mauricio Macri reverteu a tendência acelerada rumo ao modelo venezuelano.

Mas Macri fracassou. Afastou-se da agenda liberal de reformas, não teve força para combater o sistema, e acabou permitindo a volta dos representantes do Foro de SP. Cristina Kirchner, esposa do falecido presidente Néstor Kirchner, que liderava o movimento no país, escolheu ser vice na chapa, colocando como candidato a presidente uma espécie de poste para dar aparência de maior moderação. Alberto Fernández é tido como fraco, e todos sabem quem controla o poder de fato.

O paralelo com o Brasil que se aproxima em 2022 é assustador. Com literalmente centenas de denúncias de corrupção, e suspeitas até de envolvimento no assassinato do promotor Alberto Nisman, o fato é que Cristina conseguiu se esquivar da prisão, contando com aliados poderosos em altos escalões do Judiciário. Com a perda de popularidade de Macri, e uma mídia em parte saudosa dos anos vermelhos, um centro fragmentado acabou servindo aos propósitos kirchneristas.

Roberto Lavagna, ex-ministro da Economia, surgiu em cena como “terceira via”, e encantou parcela da imprensa. A força eleitoral de Lavagna, segundo a mídia, tinha origem em parte na exaustão que os argentinos sentiam em relação a Cristina e Macri. Pesquisas apontavam quase 15% de intenção de votos para a alternativa aos “extremos”, assumindo que Macri representasse de fato algum extremismo semelhante ao Foro de SP, o que é absurdo.

Tem colunista de jornal confundindo torcida com análise

Na prática, a candidatura de Lavagna serviu somente para tirar votos do próprio Macri, e eleger o poste de Kirchner. Ele teve cerca de 6% do total, basicamente a diferença entre Fernández e Macri. Os jornalistas, com claro viés de esquerda, comemoraram. No Brasil, formadores de opinião chegaram a demonstrar “inveja” da Argentina no começo da pandemia, pois ali, sim, havia um presidente de verdade, ao contrário do Brasil.

O resultado concreto: a Argentina é líder de óbitos por habitante na região, mesmo com o lockdown mais severo de todos, e teve uma queda da atividade econômica superior a 10% em 2020, mais que o dobro do Brasil. Além disso, os passos rumo ao comunismo seguem acelerados, com o governo explorando a situação de crise para controlar mais e mais as empresas no país.

O destino argentino é um tango com final triste. Basta olhar para a Venezuela.

Agora vamos analisar o Brasil. Lula contou com companheiros supremos para sua soltura, numa reavaliação da Constituição sobre prisão em segunda instância, e depois com canetadas supremas para garantir sua elegibilidade. Em outra reviravolta do STF, o juiz que o prendeu foi considerado suspeito, por ministros indicados pelo próprio Lula. José Dirceu, o agente cubano e cabeça do PT, ameaçou que voltariam ao poder, e não necessariamente pelas urnas. Dito e feito.

Enquanto isso, os “moderados” tucanos preferem bater panela contra Bolsonaro, acusado até de “genocida” por alguns. FHC, líder tucano, já declarou que escolhe Lula se a única opção for Bolsonaro. Vários “liberais”, que se transformaram em antibolsonaristas histéricos e demagogos, sinalizam que ficarão neutros se houver um segundo turno entre o petista e o atual presidente.

Com a campanha maciça da imprensa demonizando Bolsonaro, sua popularidade foi afetada e o desgaste é evidente. O sistema trabalha pela volta do Foro de SP, eis a constatação.

Os tucanos e suas adjacências velhas ou “novas” acreditam que podem culpar o presidente por cada óbito na pandemia, pela crise econômica, por tudo de mau que ocorre no país, que terão o caminho do “meio” livre para avançarem. Uma colunista do jornal O Globo chegou a escrever que “cresce a avaliação de que Bolsonaro pode ficar fora do segundo turno em 2022”, confundindo torcida com análise.

Se Bolsonaro disser que beber água é saudável, no dia seguinte a manchete dos jornais será sobre o caso de um sujeito que bebeu água demais e morreu. Se ele disser que pegar sol é importante, emissoras farão reportagens longas sobre câncer de pele. Estamos nesse nível. Mas essa militância tucana não se dá conta de que esse “centro” tem chances quase nulas no ano que vem, inclusive pela postura sensacionalista na pandemia e pusilânime contra o petismo.

Quem bate panela contra Bolsonaro, e não contra o STF, a demagogia oportunista dos tucanos e a postura abominável da mídia abutre, pode até não saber, mas quer o PT de volta. Está se esforçando para mirar o péssimo exemplo argentino. Essa turma talvez até mereça um destino trágico desses. O problema é que todos os demais brasileiros não merecem…

Título e Texto: Rodrigo Constantino, revista Oeste, nº 53, 26-3-2021

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