Olavo Soares
Os primeiros dias da CPI da
Covid no Senado foram de más notícias para o governo de Jair Bolsonaro (sem
partido). Os integrantes da comissão elegeram uma cúpula pouco simpática ao
presidente da República e aprovaram a convocação de ex-integrantes do primeiro
escalão do governo, que tendem a dar depoimentos pouco favoráveis a Bolsonaro.
A leitura de governistas é de que houve falhas na articulação política e, por
isso, o Palácio do Planalto saiu fragilizado.
![]() |
Reunião da CPI da Covid, em 29 de abril de 2021, foto: Jefferson Rudy/Agência Senado |
Os problemas enfrentados pelo
governo no começo dos trabalhos da CPI refletem, de um lado, a dificuldade que
a gestão Bolsonaro vive, desde seu início, com o Legislativo; e, de outro,
mostram que a comissão tende a ser um indicativo de eventuais batalhas futuras
que o Palácio do Planalto pode travar com os parlamentares.
Isso porque o colegiado não é
formado, em sua maior parte, por oposicionistas convictos. Dos 11 membros
titulares, apenas dois se identificam como integrantes efetivos da oposição:
Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Humberto Costa (PT-PE). Há quatro senadores mais
simpáticos ao governo, Eduardo Girão (Podemos-CE), Jorginho Mello (PL-SC), Ciro
Nogueira (PP-PI) e Marcos Rogério (DEM-RO). Os demais pertencem a PSD, MDB e
PSDB, que têm filiados que estão ou estiveram em posições de liderança do
governo na Câmara ou no Senado. Ou seja, são siglas que podem flutuar de acordo
com as correntes políticas de momento, e a CPI pode ser um indicativo dos novos
rumos.
"A relação entre governo e Congresso é comprometida. É só ver que os partidos que integram a CPI são, teoricamente, da base. São partidos que participam deste jogo e estão hoje em posição diferente. Fica a impressão que este governo não consegue consolidar a sua base, precisa negociar a cada ocasião com a bancada", declarou o líder do Podemos no Senado, Alvaro Dias (PR).
O presidente da CPI, Omar Aziz
(PSD-AM), é do mesmo partido de um dos vice-líderes do governo no Senado,
Carlos Viana (PSD-MG). Já o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), que
foi alvo de ações judiciais e de discursos acalorados de bolsonaristas, é
colega de partido do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho
(MDB-PE), e do líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO).
Apesar da dinâmica variada
dentro dos partidos, Alvaro Dias avalia que não há, no Senado, um Centrão como
o da Câmara. Entre os deputados, é célebre o grupo de parlamentares que não
detém preferências ideológicas e, habitualmente, apoia os governos de ocasião.
Um dos principais expoentes do segmento é o atual presidente da casa, Arthur
Lira (PP-AL), que se aliou a Bolsonaro mas, no passado, integrou a base do
governo da presidente Dilma Rousseff.
"Não existe aqui um
Centrão como o da Câmara, embora nós tenhamos uma grande liderança do Centrão,
o Ciro Nogueira [PP-PI]. Mas existe, por outro lado, a possibilidade da
negociação do governo com os senadores com base nas emendas extras",
declarou Dias. Nogueira, mencionado pelo senador, é também um exemplo de
variação política: atualmente é um dos principais defensores de Bolsonaro no
Congresso; até 2018, se apresentava como aliado do PT e chegou a chamar o
presidente de "fascista e preconceituoso".
Corrupção pode mudar visão da CPI, diz senador
O senador Esperidião Amin
(PP-SC), que não integra a CPI, acredita que o principal potencial político da
comissão será manifestado se a comissão conseguir apresentar provas de casos de
corrupção, sejam da esfera nacional ou regional.
"O dinheiro roubado será
um quadro mais nítido do que a atribuição de culpa, culpa nesta coisa nebulosa
que é a Covid. Ainda não sabemos direito o que é errado e o que é certo.
Ninguém sabe ainda com precisão, por exemplo, o que a ivermectina pode fazer a
uma pessoa. A evolução desse 'bicho' é muito customizada", disse Amin, em
referência ao coronavírus.
O parlamentar avalia que
discussões sobre responsabilização tenderão a ser esvaziadas. "Tudo isso
vai perder importância diante do roubo. Quando a CPI provar que alguém pagou 20
por uma máscara que custava 2. Isso vai causar muito mais repulsa do que falar
sobre alguém que fez uma festa ou deixou de usar máscara em um shopping",
declarou.
Amin é da opinião de que o
governo "não tinha o que fazer" para evitar as derrotas na formação
da cúpula da CPI. "O que o governo tentou fazer para reverter foi tentar
carimbar a parcialidade do Renan, o que é indiscutível", disse.
Aliados do governo alegaram
que Renan Calheiros não poderia ser relator da comissão por ser pai de um
governador de estado, Renan Filho (MDB-AL). A deputada Carla Zambelli (PSL-SP),
inicialmente, e depois os senadores Girão, Marcos Rogério e Jorginho Mello
acionaram o Judiciário para impedir que o emedebista alcançasse o cargo, sem
sucesso.
"O governo investe muito
no Congresso para ter apoio. Mas em um momento como esse, se omite. Não vi o
governo agindo para orientar a bancada governista para competir, ou ao menos
compartilhar o comando da CPI. Com isso, a CPI começa mal", avaliou Alvaro
Dias.
Título e Texto: Olavo
Soares, Gazeta
do Povo, 1-5-2021, 13h12
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-