Gastos com pessoal ativo de União, Estados e municípios chegaram a 12,9% do PIB em 2019
Raquel Hoshino
Foto: Marcos Santos/USP Imagens |
Como noticiado pelo
jornal O Estado S. Paulo, “penduricalhos” para contornar o teto
salarial (estipulado em R$ 39,2 mil mensais), brechas para o acúmulo de
remunerações e salários maiores do que na iniciativa privada são fatores que
explicam a presença do Brasil no topo do ranking, de acordo com
especialistas. Aumentos de salário acima da inflação também contribuem para o
panorama.
A proporção de gastos com o funcionalismo público no Brasil ultrapassa a de outras nações emergentes, como Rússia (que despende 9,4% do PIB), Chile (7,1%), Peru (6,8%) e Colômbia (5,7%), e também supera a de países como Estados Unidos (8,7%), Alemanha (7,6%) e Espanha (10,4%). O Brasil perde somente para Arábia Saudita (que utiliza 17,1% do PIB para despesas com servidores), África do Sul (15,2%), Dinamarca (15,1%), Noruega (14,9%), Islândia (14,4%) e Samoa (com gastos de 13,1% do PIB). O painel considera as despesas de salários e a contribuição patronal para a previdência dos servidores.
O presidente da Unacon
Sindical — entidade que representa auditores de finanças e é ligada ao Fórum
Nacional de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) —, o economista Bráulio
Cerqueira, critica os dados que colocam o Brasil no alto do ranking.
De acordo com ele, a contabilidade dos gastos com a previdência dos servidores
varia entre países.
“Nos três níveis federativos,
é importante esclarecer isso, os salários de servidores civis estão congelados
até o fim deste ano; na verdade estão sendo reduzidos em termos reais. No
governo federal, a última recomposição salarial para 80% dos servidores ocorreu
em janeiro de 2017”, afirma Cerqueira. “Não há descontrole com a folha hoje, o
que há é o contrário, arrocho salarial e quedas sucessivas do gasto com
salários”, pontua.
De acordo com o economista
José Luiz Rossi, professor do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), o
gasto com servidores no Brasil é heterogêneo, tanto na esfera administrativa
quanto do ponto de vista dos Poderes. A União tende a pagar maiores salários do
que Estados e municípios, no primeiro exemplo. Pelo ponto de vista dos Poderes,
o Judiciário e o Ministério Público costumam destoar mais dos outros Poderes,
em tentativas para driblar o teto salarial.
“É um Estado grande, que tem
uma demanda grande”, afirma o economista, justificando parte do gasto com um
significativo quadro de servidores. Conforme dados da Pnad Contínua, 11,9
milhões de brasileiros disseram ser funcionários do setor público no trimestre
até fevereiro de 2021. Rossi também reconhece que há distorções. “A questão é a
política de incentivos. Não se tem na carreira muitos degraus; o funcionário
passa a maior parte da carreira ganhando o salário máximo”, afirma o professor
do IDP.
Título e Texto: Raquel
Hoshino, revista Oeste, 17-5-2021, 21h30
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