segunda-feira, 4 de abril de 2022

Bolsonaro deve reagir nas próximas pesquisas

Com o reaquecimento da economia a tendência é que Jair Bolsonaro já encoste em Lula nas próximas pesquisas

Mario Marques

Há umas 30 pessoas na frente. No carrinho de sorvete, duas meninas suam para conseguir atender a todo mundo. Durou quase uma hora a desventura das minhas filhas para adquirir um gelato. O shopping Village Mall, na Barra da Tijuca, neste domingo, estava apinhado de gente. Parecia mais o Barra Shopping. Aliás, se você tentasse almoçar em qualquer lugar da capital esbarraria numa fila. O sinal é claro: assim como os cariocas e fluminenses, os brasileiros iniciam uma retomada de sua vida pessoal e econômica – e passa exatamente por aí o provável crescimento de Bolsonaro nas pesquisas.

Foto: Isac Nóbrega/PR

A reviravolta na economia, que pode chegar já já lá na ponta, começa a perturbar os que achavam que o governo Bolsonaro ia sangrar até outubro. O desemprego caiu a 11,2% em fevereiro, a menor do mês desde 2016. Apesar de a inflação impactar o consumo, há reação no bolso do trabalhador.

Analistas não entendem bulhufas de pesquisas. Acham que os números são imutáveis. Creram que a crise da pandemia e as declarações desastrosas de Bolsonaro no período tivessem determinado seu fim. Mas o quadro está mudando.

Primeiro que um terceiro candidato ainda não se viabilizou, seja por inabilidade política ou erro de estratégia. Sergio Moro, totalmente perdido, e Ciro, tal qual um moderado fake, não conseguem tirar pontos nem de Bolsonaro e nem de Lula. Ambos seguiram caminhos incorretos. Tanto Moro quanto Ciro foram pra dentro de Bolsonaro e Lula ao mesmo tempo, atraindo rejeição de ambos os eleitores, em vez de escolher um só – o do seu lado ideológico.

Sem plano B, o eleitor brasileiro pode abandonar as supostas terceiras vias e voltar aos seus players principais. Assim, Bolsonaro e Lula receberiam de volta os votos perdidos numa espécie de voto útil precoce, estimulando ainda mais a polarização.

O eleitor de centro-direita toma um soco de realidade quando se depara com a classe artística do Alto Leblon aplaudindo um ex-presidiário que se diz inocente, baseado em suspensões ou cancelamentos de processos pelo STF. E retorna para o colo de Bolsonaro.

O fato é que o Brasil começa a andar. E, quando isso acontece, o candidato governista resplandece como a própria natureza. Lula está acuado. Já não tem à disposição aquele monte de estatais a jorrar dinheiro para as campanhas petistas em acordos de propina com executivos. Também não tem mais a juventude que o fez rodar o país em caravanas. Já está cansado.

Vamos esperar as próximas pesquisas. Ao que parece, Bolsonaro vai encostar em seu adversário histórico. E, graças a este adversário, Bolsonaro ainda está vivíssimo.

A não ser que se empurre um terceiro candidato ao pleito com um conceito claro, estaremos fadados a Bolsonaro versus Lula.

Título e Texto: Mario Marques, Diário do Rio, 4-4-2022

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