sábado, 10 de setembro de 2022

[Versos de través] Te amo e não te amo

Pablo Neruda

Saberás que não te amo e que te amo 
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio.

Eu te amo para começar a amar-te,
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda.

Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desafortunado.

Meu amor tem duas vidas para amar-te.
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

Pablo Neruda

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Quando eu não te tinha

Um comentário:

  1. O GRANDE COMUNISTA PABLO NERUDA.

    Pablo Neruda durante o comício no Pacaembu
    Leia o poema Mensagem na íntegra:

    Quantas coisas quisera hoje dizer, brasileiros,
    quantas histórias, lutas, desenganos, vitórias,
    que levei anos e anos no coração para dizer-vos, pensamentos
    e saudações. Saudações das neves andinas,
    saudações do Oceano Pacífico, palavras que me disseram
    ao passar os operários, os mineiros, os pedreiros, todos
    os povoadores de minha pátria longínqua.
    Que me disse a neve, a nuvem, a bandeira?
    Que segredo me disse o marinheiro?
    Que me disse a menina pequenina dando-me espigas?

    Uma mensagem tinham. Era: Cumprimenta Prestes.
    Procura-o, me diziam, na selva ou no rio.
    Aparta suas prisões, procura sua cela, chama.
    E se não te deixam falar-lhe, olha-o até cansar-t
    e nos conta amanhã o que viste.

    Hoje estou orgulhoso de vê-lo rodeado
    por um mar de corações vitoriosos.
    Vou dizer ao Chile: Eu o saudei na viração
    das bandeiras livres de seu povo.

    Me lembro em Paris, há alguns anos, uma noite
    falei à multidão, fui pedir auxílio
    para a Espanha Republicana, para o povo em sua luta.
    A Espanha estava cheia de ruínas e de glória.
    Os franceses ouviam o meu apelo em silêncio.
    Pedi-lhes ajuda em nome de tudo o que existe
    e lhes disse: Os novos heróis, os que na Espanha lutam, morrem,
    Modesto, Líster, Pasionaria, Lorca,
    são filhos dos heróis da América, são irmãos
    de Bolívar, de O' Higgins, de San Martín, de Prestes.
    E quando disse o nome de Prestes foi como um rumor imenso.
    no ar da França: Paris o saudava.
    Velhos operários de olhos úmidos
    olhavam para o futuro do Brasil e para a Espanha.

    Vou contar-vos outra pequena história.

    Junto às grandes minas de carvão, que avançam sob o mar,
    no Chile, no frio porto de Talcahuano,
    chegou uma vez, faz tempos, um cargueiro soviético.

    (O Chile não mantinha ainda relações
    com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
    Por isso a polícia estúpida
    proibiu que os marinheiros russos descessem,
    e que os chilenos subissem).
    Quando a noite chegou
    vieram aos milhares os mineiros, das grandes minas,
    homens, mulheres, meninos, e das colinas,
    com suas pequenas lâmpadas mineiras,
    a noite toda fizeram sinais, acendendo e apagando,
    para o navio que vinha dos portos soviéticos.

    Aquela noite escura teve estrelas:
    as estrelas humanas, as lâmpadas do povo.
    Também hoje, de todos os rincões
    da nossa América, do México livre, do Peru sedento,
    de Cuba, da Argentina populosa,
    do Uruguai, refúgio de irmãos asilados,
    o povo te saúda, Prestes, com suas pequenas lâmpadas
    em que brilham as altas esperanças do homem.
    Por isso me mandaram, pelo vento da América,
    para que te olhasse e logo lhes contasse
    como eras, que dizia o seu capitão calado
    por tantos anos duros de solidão e sombra.

    Vou dizer-lhe que não guardas ódio.
    Que só desejas que a tua pátria viva.
    E que a liberdade cresça no fundo do Brasil como árvore eterna.
    Eu quisera contar-te, Brasil, muitas coisas caladas,
    carregadas por estes anos entre a pele e a alma,
    sangue, dores, triunfos, o que devem se dizer
    o poeta e o povo: fica para outra vez, um dia.

    Peço hoje um grande silêncio de vulcões e rios.

    Um grande silêncio peço de terras e varões.

    Peço silêncio à América da neve ao pampa.

    Silêncio: com a palavra o Capitão do Povo.

    Silêncio: que o Brasil falará por sua boca.

    (Pablo Neruda, 1945)

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