Pedro Nuno Santos, um dos
vice-presidentes do grupo parlamentar do PS, afirmou que se estava a “marimbar para o banco alemão que emprestou
dinheiro a Portugal nas condições em que emprestou”, sugerindo que o país
deve suspender o pagamento da sua dívida para deixar “as pernas dos banqueiros alemães a tremer”.
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Foto: Rui Gaudêncio/Público |
As declarações do dirigente
socialista foram feitas no passado sábado durante um jantar de Natal do partido
em Castelo de Paiva e registadas pela Rádio Paivense FM, mas só agora vieram a
público, quando reproduzidas pela Rádio Renascença. Contactado pelo PÚBLICO,
Pedro Nuno Santos assegura que as declarações foram retiradas do contexto e
que, num longo discurso, apenas disse que perante “o ciclo de empobrecimento e de sucessivos sacrifícios cada vez mais
duros o país deve colocar os interesses dos portugueses à frente do dos
credores”.
Questionado sobre se as suas
declarações não podem comprometer o trabalho que Portugal está a fazer no
sentido de cumprir o memorando de entendimento assinado com na troika (Fundo
Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) e
trabalhado ainda pelo anterior Governo e suscitar uma reacção adversa por parte
dos mercados, o deputado reafirmou ao PÚBLICO que o seu discurso não foi feito
no sentido de Portugal não cumprir o acordo: “Nunca disse que a dívida não deve ser paga. Mas a dívida é a nossa
única arma para podermos impor condições mais favoráveis, pois a recessão é o
primeiro passo para nos impedir de cumprir o acordo”.
Pedro Nuno Santos asseverou
também que o facto de a cimeira europeia da passada semana não ter acalmado os
mercados é “mais uma prova de que chega
de nos submetermos aos credores e aos mercados”. “É incompreensível que os países periféricos não façam o que faz o
Presidente francês [Nicolas Sarkozy] e a chanceler alemã [Angela Merkel]. Deviam
unir-se. Eles reuniram-se antes da cimeira para decidirem o que deviam decidir
os 27 [Estados-membros] e os periféricos deviam fazer o mesmo”, reiterou.
No entanto, no polémico
jantar, Pedro Nuno Santos disse: “Estou a
marimbar-me que nos chamem irresponsáveis. Temos uma bomba atómica que podemos
usar na cara dos alemães e franceses. Essa bomba atómica é simplesmente não
pagarmos”, afirmou o deputado no polémico jantar. “Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos”, disse também
Pedro Nuno Santos na altura.
"A primeira responsabilidade de um
primeiro-ministro é tratar do seu povo"
“Se não pagarmos a dívida e se lhes dissermos as pernas dos banqueiros
alemães até tremem”, concluiu no jantar o socialista, defendendo que o
Governo deve ignorar as exigências dos credores internacionais para poupar os
portugueses aos sacrifícios da austeridade. “A primeira responsabilidade de um primeiro-ministro é tratar do seu
povo. Na situação em nós vivemos, estou-me marimbando para os credores e não
tenho qualquer problema enquanto político e deputado de o dizer. Porque em
primeiro lugar, antes dos banqueiros alemães ou franceses, estão os portugueses”,
reafirmou Pedro Nuno Santos.
Em referência à actual
situação do país, insistiu que vale tudo e fez uma referência aos líderes
europeus: “Provavelmente nunca jogaram
póquer e não sabem que estamos numa guerra política e que o bluff é uma arma”.
E acrescentou: “Nós temos
primeiros-ministros na Europa que estão mais preocupados em passar uma mensagem
aos credores: que nós somos gente responsável; não se preocupem, nós vamos
pagar a dívida toda, nem que o nosso povo corte os pulsos e passe fome, mas nós
vamos tratar de pagar a nossa dívida”.
Confrontado com as declarações
de Pedro Nuno Santos, o líder da bancada socialista, Carlos Zorrinho, em
declarações à Rádio Renascença, disse manter a confiança política no deputado,
embora discorde da sua posição e da forma como as afirmações foram proferidas.
Ainda assim, Zorrinho entende que deve ser tido em consideração o local onde
Pedro Nuno Santos falou: “Teve uma
imagética forte para expressar de forma caricatural a ideia de que devemos
pagar a dívida obviamente – que é uma grande prioridade – mas nunca devemos
esquecer as pessoas e o impacto desse pagamento”. À TSF, Zorrinho
especificou que as palavras do seu vice-presidente devem ser lidas como um
apelo a que a União Europeia faça acompanhar as medidas de austeridade de
políticas de crescimento. Sobre eventuais consequências políticas das suas
declarações, Pedro Nuno Santos limitou-se a dizer: “Eu disse o que penso e no dia em
que não puder dizer estou mal na política”.
Título e Texto: Romana
Borja-Santos, Público, 15-12-2011
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