quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Quem tem medo destes senhores?


Pilotos da TAP e maquinistas da CP andam a brincar com os portugueses


António Ribeiro Ferreira
O primeiro período da greve dos pilotos da TAP foi cancelado uma hora antes de se iniciar ainda não se sabe bem porquê. O sindicato responsável pela paralisação emitiu um comunicado a justificar o recuo, que é, no mínimo, enigmático. Dizem os senhores que finalmente encontraram alguém no governo com vontade de dialogar e cumprir o famoso acordo de 1999 entre os pilotos e o executivo socialista de António Guterres. Há 12 anos, em plena guerra por aumentos salariais, com ameaças de greve e o recurso a todas as armas a que os sindicatos têm direito em Portugal, o ministro João Cravinho, o mesmo que inventou as famigeradas Scut, decidiu que a factura para calar os pilotos deveria ser paga uns anos mais tarde pelos parvos do costume, isto é, os contribuintes. Se o esquema das auto-estradas sem custos para os utilizadores, um nome fantástico digno de um verdadeiro malabarista, já custou à nação uma fortuna, o arranjinho com os pilotos ameaça ser mais um quebra-cabeças no valor de muitos milhões de euros. Os senhores querem, como se sabe, ser accionistas da TAP, e ter um lugar na futura administração da companhia privatizada; enfim, exigem o cumprimento integral do tal acordo firmado com os socialistas em 1999. A primeira greve anunciada foi cancelada, mas evidentemente provocou milhões de prejuízo à companhia. A segunda continua de pé e continua por esclarecer quem é que no governo andará a negociar com os pilotos um acordo abusivo assinado por um governo irresponsável que cedia a tudo e a todos em nome de um diálogo absurdo e de um conjunto de políticas criminosas que iniciaram a longa marcha de Portugal para a bancarrota. Espera-se sinceramente que o governo tenha o sentido de Estado necessário e suficiente para pôr esta gente na ordem.
E por falar em desordem, está na altura de alguém dizer aos sindicatos e aos sindicalistas que não mandam nas empresas do Estado e que muito menos têm o direito de infernizar a vida dos portugueses que lhes pagam os salários e as mordomias. Como é agora o caso dos senhores maquinistas da CP, que decidiram marcar uma greve em cima do Natal para evitar que a empresa pública ferroviária aplique sanções a quem violou a lei em anteriores paralisações. A administração da empresa, mais que falida e endividada, já veio a público ameaçar os senhores com o não pagamento de salários. Evidentemente que ninguém acredita que uma empresa pública, com ou sem dinheiro nos cofres, deixe de pagar aos seus funcionários. Essa desgraça só pode obviamente cair sobre os trabalhadores do sector privado, com ou sem greves. Neste horroroso mundo de injustiças e desigualdades entre os que trabalham para o Estado e os que ganham a vida no privado, seria muito pedagógico que a CP cumprisse a ameaça e não pagasse os salários aos senhores que usam os sindicatos e a empresa como trampolins para as suas lutas político-partidárias. É que há limites para tudo. Para a vida sindical, para a concertação social e para a forma como uma minoria em Portugal tem total imunidade para prejudicar seriamente a vida de milhões de portugueses.
Título e Texto: António Ribeiro Ferreira, jornal "i"

Relacionados:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-