Há pessoas com peninha de Caetano (ver post
desta manhã)? Deixem de bobagem. Ele está por baixo e conta comigo e com
Olavo de Carvalho para aparecer um pouco, atrair as plateias mais ou menos
esquerdizadas, em particular a turma anti-Sérgio Cabral no Rio (que reúne todos
os “vermelhos” do Leblon, de Copacabana e de Ipanema), e desfilar seu charme
supostamente consciente em verso & prosa e alguma rima. O Brasil inventou,
como já cravei há mais de 20 anos, o burguês do capital alheio, que é a
vigarice sindical que se adona do estado para satisfazer corporações. E conta
também com os socialistas dos bens alheios — um grupo muito influente entre
“artistas’. A maioria não saberia distinguir Lênin ou Gramsci de uma taça de
champanhe, financiada pela Lei Rouanet. É o socialismo da Vieira Souto, com
vista para o mar, enquanto, como diria um poeta baiano — mas do século XVII —,
“a terra fica esfaimando”.
Não tenho paciência pra isso, não! Alguns leitores indagaram o que quis
dizer num post de domingo quando afirmei isto:
“Ele [Caetano] é só um ‘velho baiano’. Eu sou só um maduro dois-correguense. Isso quer dizer que Caetano está por baixo, e eu, por cima. Bahia tropicalista é categoria de pensamento no Brasil. O interior de São Paulo que tem catiretê é categoria econômica. Ninguém liga. Só na hora de fazer as contas. Escrevo no celular. Cuido de Caetano à noite. O catiretê vela pela balança comercial. Caetano zela por metáforas que, durante um tempo, pensava-se, nos fariam mais inteligentes.”
“Ele [Caetano] é só um ‘velho baiano’. Eu sou só um maduro dois-correguense. Isso quer dizer que Caetano está por baixo, e eu, por cima. Bahia tropicalista é categoria de pensamento no Brasil. O interior de São Paulo que tem catiretê é categoria econômica. Ninguém liga. Só na hora de fazer as contas. Escrevo no celular. Cuido de Caetano à noite. O catiretê vela pela balança comercial. Caetano zela por metáforas que, durante um tempo, pensava-se, nos fariam mais inteligentes.”
Explico. Quem se define como “só um velho baiano” é
ele próprio. Fiz uma ironia — um terreno sempre perigoso em nossas letras,
mesmo as da crônica jornalística, eu sei. Mas não resisto. Só quis dizer que
não recepciono, como diriam os ministros do STF, a autodepreciação fingida de
quem, no fim das contas, quer mesmo é imunidade. Ao se dizer “só um velho
baiano”, Caetano pede compreensão com a sua irresponsabilidade, com o seu miolo
mole. Resolveu pôr a sua assinatura nos atos fascistoides dos black blocs e
depois vem com esse muxoxo choramingas: “Poxa, mas eu sou só um velhinho
inimputável…”.
De resto, por que a referência à origem? Muito bem! Se ele pode se dizer
um “baiano” ao explicar por que cobre a cara, eu posso me dizer um “paulista”
ao explicar por que não cubro? “O que o cateretê (ou “catira”) tem a ver com
isso? O mesmo que o tropicalismo tem a ver com as tolices de Caetano — nada!
Citei a cultura caipira do interior de São Paulo porque as “cigarras” do Brasil
costumam odiar o trabalho das formiguinhas, não é mesmo? Foi só uma homenagem
ao Brasil que produz — em São Paulo e em qualquer parte — e tem de prestar
satisfações a quem não produz porcaria nenhuma. Um país em que os que geram riqueza
têm de se subordinar aos caprichos de quem gera sentenças de igualdade está
condenado a ser mixuruca.
“Famoso blog de direita”? O que sabe Caetano sobre direita e
esquerda, justamente ele que diz “ler os dois lados” para, então, se situar no
centro? Trata-se de uma tolice formidável. Até porque o Brasil — e o mundo —,
definitivamente, não se esgota em “dois lados”. E não é raro que determinados
eventos possam ter, hoje ou na Alemanha da década de 30, apenas um lado
moralmente aceitável. Caetano está bravinho porque demonstrei que condescender
com a violência — ou, na prática, estimulá-la, ainda que diga o contrário — se
situa no campo das escolhas inaceitáveis, a menos que se opte pela tática do
terror, que, entendo eu, está fora da política.
Eu estou me lixando se ele me considera de direita ou não — já escrevi
centenas de textos a respeito. Já demonstrei por que um dos desastres da
política brasileira é não haver um partido conservador forte, que seja
alternativa de poder, como há em todas as democracias dignas desse nome. Por
aqui, todo mundo é de centro-esquerda: Lula, Paulo Maluf, Marina, Dilma, Aécio
Neves… Se Gêngis Khan ressuscitasse e decidisse disputar uma vaguinha no
establishment brasileiro, não teria dúvida em se dizer de centro-esquerda.
O curioso é que a sociologia que essa gente diz adotar ou que serviria
de substrato a suas elucubrações aponta justamente essa trapaça como fonte de
muitos dos nossos desatinos — penso especialmente em “Raízes do Brasil” e “Os
Donos do Poder”, de Sérgio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro,
respectivamente. Quando um filósofo ou um jornalista, fora do aparato do
estado, participam do debate público cobrando clareza e distinção — e
distinguindo, por sua vez, alhos de bugalhos —, então lá vem um aiatolá do
“pensamento alternativo” (qual?) a usar a notoriedade conquistada com seus
trinados para fazer o trabalho de demonização.
O mais antigo e persistente trabalho ideológico e propagandístico da
esquerda consistiu e consiste em transformar seus crimes em novos umbrais da
humanidade. É assim desde a revolução bolchevique de 1917. Intelectuais os mais
variados se tornaram meros justificadores do assassinato em massa, da
brutalidade transformadora, da violência redentora: na URSS, na China, em Cuba,
no Vietnã… Escolham aí. Com o fim do império soviético, as simpatias se
voltaram para as lideranças islâmicas antiocidentais. Os nossos pensadores
adoram odiar a liberdade que lhes garante o direito de pensar. Quando me dou
conta da quantidade de absurdos que um Michel Foucault escreveu sobre a
revolução iraniana, chego a ficar de estômago embrulhado. Gays, como ele
próprio, eram enforcados em guindastes em praças públicas — e ele, não
obstante, via palpitações verdadeiramente eróticas nos fanáticos de Khomeini.
Esse Caetano que tenha mais cuidado ao lidar com as ideias — se pretende
mesmo continuar nesse terreno. Paulo Francis está morto há 16 anos. Evocá-lo,
hoje, como ele fez, deve ser visto como um pedido de desculpas? Francis vivo, o
então “só um quase-jovem baiano” respondeu a uma crítica cultural chamando o
outro de “bicha amarga” e “boneca travada” — e olhem que o jornalista, então,
teceu elogios ao artista Caetano Veloso, criticando apenas, como chamou, seu
ser totêmico.
Enquanto Caetano não se desculpar, a sua imagem fantasiado de black bloc segue sendo uma aceitação tácita de uma
tática e um convite a uma forma de ação. Num célebre e então muito bem colocado
discurso num festival, em 1968, o cantor baiano reagiu à boçalidade da plateia,
que o impedia de cantar “É proibido proibir”. Disse que aquela gente não se
distinguia em nada dos brucutus fascistoides que haviam invadido a peça “Roda
Viva” e espancado os atores. E não se distinguiam mesmo.
O que se fez daquele Caetano? “Isso foi em outro país, e aquele rapaz
morreu”, para lembrar as palavras finais do artigo de Francis.
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, 16-9-2013
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