quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O homem das duas coroas

Luís Almeida Martins
Rei de Portugal e Imperador do Brasil, D. Pedro IV fez mais do que ninguém pelos dois países.
Tem uma estátua altíssima no Rossio lisboeta e outra, equestre, no centro do Porto. Nenhum outro rei mereceu tamanhas honras. E, no entanto, D. Pedro IV não é assim tão conhecido do cidadão comum como, por exemplo, D. João I ou mesmo D. Dinis, apesar de estes terem vivido muitos séculos antes.

Rossio, Lisboa, © William Dudziak, http://www.dudziak.com
Porque D. Pedro IV é, mais coisa menos coisa, um contemporâneo nosso. Paradoxalmente, governou o País apenas durante pouco mais de dois meses e meio, entre 10 de março e 28 de maio de 1826, mas foi quanto bastou para que ficasse na História como um dos grandes reformadores (para não dizer revolucionários) que alguma vez por cá ocuparam o poder. Já agora, nesta sucessão de fenómenos bizarros, acrescente-se que faleceu com apenas 35 anos.

Afinal, o que notabilizou D. Pedro IV? Acima de tudo, o ter pegado em armas para combater o próprio irmão, D. Miguel, que se apoderara ilegitimamente do trono e restaurara o absolutismo, ou seja, a forma de Governo anterior à instauração do parlamentarismo. Na guerra civil que se travou entre 1832 e 1834, as forças liberais, comandadas por D. Pedro, venceram as absolutistas, comandadas por D. Miguel, e permitiram que Portugal começasse a viver – digamos – em democracia. Este regime de liberdade, com partidos, eleições e parlamento, duraria até 1926 (com a monarquia transformada em República em 1910) e, depois de 48 de regresso a uma ditadura, seria, como sabemos, restaurado em 1974.

Mas D. Pedro não foi notável apenas por isso. Do outro lado do Atlântico tornou-se o primeiro imperador do Brasil independente. Tinha partido para lá aos 9 anos, em 1807, com os pais e toda a Corte, para escapar à invasão napoleónica. Os pais eram D. João VI e a espanhola D. Carlota Joaquina, embora as más-línguas afirmem que em boa verdade ele era filho do jardineiro do Palácio de Queluz.

Quando D. João regressou a Portugal, D. Pedro, já com 23 anos, decidiu ficar e proclamar-se imperador do novo país, que estava maduro para a independência. Permitiu assim não só que o imenso Brasil – um verdadeiro continente – se mantivesse unido sob a sua coroa. Como também que permanecesse dinasticamente ligado à mãe-pátria. Nada de semelhante ocorreu com os países da América Espanhola. Nem, é claro, com os Estados Unidos da América. Conseguindo fazer dois em um, este homem tornou-se assim admirado tanto em Portugal como no Brasil, onde governou com o nome de D. Pedro I.

D. Pedo I, óleo sobre tela, cerca de 1830, de Simplício Rodrigues de Sá. Atualmente no Museu Imperial de Petrópolis, RJ, Brasil
Foi vitimado pela tuberculose pouco depois da vitória liberal que protagonizara do lado de cá do oceano e de ter confiado o trono à sua filha, D. Maria II. Mas o seu corpo seguiu para o Brasil em 1972, quando se comemoravam os 150 anos da independência que ele construíra. O corpo menos o coração, que está na igreja da Lapa, no Porto, cidade em que resistiu com as suas tropas a um grande cerco miguelista, durante a guerra civil. Foi um homem repartido entre dois continentes, mas nunca hesitante quanto ao sentido progressista do futuro.
Ah, e não esqueçamos que o nome oficial do Rossio, em Lisboa, é mesmo… praça D. Pedro IV.
Título e Texto: Luís Almeida Martins, in “365 dias com histórias da História de Portugal”, páginas 281 e 282.
Digitação: JP, 26-9-2013

Um comentário:

  1. Carlota Joaquina era vigiadíssima até seu terceiro filho ... depois disso, não são a más línguas que dizem que seus filhos não eram também, filhos de D. João VI ... apesar de dela viver em Queluz e ele no Palácio da ajuda, e de, essa separação ter continuado no Rio de Janeiro - ele vivia no Paço da Cidade e ela numa chácara em Botafogo, deduz-se portanto, que seus vários filhos e filhas a partir daí, não eram de D. João VI. O Rei nunca iludiu-se quanto a isso, sabia bem que era impossível esses filhos serem seus e costumava dize que o único que acreditava ser mesmo seu era, justamente o mais velho, D. Pedro I/IV, que da mãe, herdou a volúpia e por isso era pai de mais de 50 filhos, todos registrados com o sobrenome de "Brasileiro". Todos que carregam "Brasileiro" no sobrenome são descendentes bastardos de D. Pedro I/IV: Antônio Carlos Brasileiro Jobim, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza ... para citar apenas esses dois.

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