terça-feira, 20 de maio de 2014

As próximas eleições (Europeias)

Luís Naves
Há muitas razões para o descontentamento e acredito que os partidos pró-europeus serão duramente penalizados no domingo por um invulgar voto de protesto. O povo arrastou um pesado fardo.


Por outro lado, parte da elite nacional com acesso aos meios de comunicação tem repetido a crítica à Europa e muitos intelectuais entraram numa deriva populista de ataque sistemático ao projecto europeu, à moeda única e até ao sistema partidário. Segundo estas visões, os políticos nunca foram tão maus e os partidos tradicionais são incapazes de resolver os problemas do País. A moeda única foi uma cedência de soberania que nada trouxe de bom e que está na origem da falência de 2011. A Europa, tal como existe, não promete nada e deve até acabar em breve.

Na realidade, o euro trouxe inflação baixa e o acesso fácil a um mercado gigantesco; a economia não aproveitou estas vantagens, mas isso foi devido a erros estratégicos, o atraso nas reformas e a falta de compreensão da exigência de competitividade. A saída do euro, agora, daria liberdade monetária, mas seria um recuo político de vinte anos, implicava o isolamento e tinha graves riscos. Abandonar a União Europeia seria um outro erro histórico: desde a adesão, o País teve estabilidade política e apoios financeiros equivalentes a 3% do PIB por ano. A não-Europa, para nós, era um desastre sem precedentes. Apesar dos mitos persistentes sobre a crise, Portugal nunca foi tão desenvolvido e moderno como agora. O País não tem hipótese nesta Europa? Claro que tem, desde que regresse à convergência com o rendimento médio europeu.

Os partidos tradicionais estão sob pressão em todos os países com problemas económicos. Sobre a Europa tombou uma cortina de pessimismo. E, no entanto, os europeus nunca foram tão prósperos e as suas sociedades jamais tiveram o actual grau de segurança e estabilidade. No final das contas, os europeus não quererão trocar a sua riqueza por aventuras retóricas. Os populistas, à esquerda e à direita, não têm uma verdadeira alternativa à actual Europa.

Alguns analistas defendem a tese de que a União Europeia evoluiu para um directório de potências, que de facto existiu durante a crise do euro. As potências têm mais poderes, pois a UE cresceu, mas o que me parece verdadeiramente novo é o mecanismo emergente da responsabilização dos países que fazem parte da moeda única. Em Portugal, todos falam muito da solidariedade europeia, mas ninguém menciona a responsabilidade de cada um e, no entanto, a crise das dívidas soberanas teve na sua origem não a falta de solidariedade mas os comportamentos irresponsáveis de alguns países, que arrastaram os restantes para uma região demasiado perto do abismo.

É sempre possível recusar esta Europa da responsabilidade, mas o isolamento não será a melhor opção. Os partidos têm defeitos, mas não se vislumbra nada melhor. E os políticos parecem hesitantes e não citam os clássicos, mas não há grandes diferenças em relação aos tribunos que no passado nos levaram a outras bancarrotas, quando não existia a desculpa da moeda única. Em Portugal, todas as gerações cometeram os erros crónicos do excesso de despesa pública. Aderir à Europa da responsabilidade podia mudar isso.
Título, Imagem e Texto: Luís Naves, Fragmentário, 20-05-2014

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