sábado, 19 de julho de 2014

A mensagem de Israel ao mundo árabe mudou



O HAMAS EXIBE UMA FALSA EUFORIA PARA ESCONDER A PREOCUPAÇÃO DE QUE ISRAEL PROVAVELMENTE O EXPULSARÁ DA FAIXA DE GAZA, SE NECESSÁRIO.

Francisco Vianna

O conflito na Faixa de Gaza situa Israel em meio a lados preocupados no mundo islâmico sunita. Se Israel quiser pôr um fim a ele, as regras do jogo precisam mudar, e depressa.

Veículo armado transportador de tropas das FDI a cruzar um campo próximo à fronteira com a Faixa de Gaza no sul de Israel, ontem, 18 de julho de 2014. Foto: Flash90

A iniciativa de cessar-fogo do Qatar ilustra como a contínua escalada do conflito em Gaza, na verdade, não tem nada a ver com Israel em si, mas, tristemente, a nação judaica se viu enredada e envolvida numa guerra que tem proporções muito mais amplas, e que vem como um reflexo da disputa sem fim entre dois eixos rivais no mundo islâmico sunita.

De um lado estão o Egito e a Autoridade Palestina, com a Jordânia e a Arábia Saudita provavelmente indo se juntar a eles no próximo par de dias. Por outro lado, o Qatar, a Turquia e o Hamas, bem como outros defensores globais da Irmandade Muçulmana. Esta é uma “guerra por procuração” sob todas as intenções e propósitos.

Não se engane o leitor, pois o Hamas continua comprometido com a destruição de Israel e, de um modo mais amplo com o “jihad” ou “guerra santa” contra o Ocidente. Por isso, o Hamas está a disparar foguetes contra Tel Aviv e enviar terroristas através de túneis, no sul de Israel, que aportam, em essência, no Cairo e conta com o apoio de Doha e Ancara.

Ambos os lados usam a população palestina da Faixa de Gaza e agentes infiltrados na Cisjordânia para agredir Israel, na condição de “buchas de canhão”, pois não cabe alternativa a Israel senão a de defender-se com as armas que tem.

O que emerge desse estado de coisas, e das demandas infundadas do HAMAS como aparecem na proposta de cessar-fogo do Qatar, é que esta crise está longe de terminar. O HAMAS está confiante, até mesmo eufórico, e nos últimos dias, as pessoas que entraram em contato com os líderes dessa organização terrorista antissemita que usa os palestinos relatam que a sensação que eles transmitem é a de que o HAMAS está sitiando Tel Aviv e que irá começar a invasão de Israel em breve, e não o contrário, ou seja, admitirem que as FDI estejam varrendo sem maiores dificuldades a Faixa de Gaza com suas tropas terrestres e que deverão eliminar o HAMAS do enclave palestino. 

Num encontro com o Presidente da ‘Autoridade Palestina’ – um arremedo de estado mantido com o dinheiro da ONU –, Mahmoud Abbas, no Cairo na última quarta-feira, Moussa Abu Marzouk, subchefe do escritório político do Hamas, rejeitou os apelos de Abbas para que parasse com o lançamento de foguetes contra Israel visando um cessar-fogo e explicou que, "afinal, o que são 200 mártires em comparação com o levantamento do bloqueio militar naval e terrestre da Faixa de Gaza, que os israelenses consideram tão importante para a sua ilusória segurança”? Abu Marzouk, mais tarde escreveu pelo Tweeter que “não haverá trégua alguma que não reconheça as demandas da ‘resistência’ e que é melhor que Israel ocupe a Faixa de Gaza do que continue com o seu bloqueio militar”. Abu Marzouk, desnecessário dizer, reside no Cairo, longe da ameaça da reação israelense com seus ataques aéreos cirúrgicos, pelos quais, provavelmente já estaria morto.

Sua intenção é fazer com que Israel reconsidere suas “noções pré-concebidas e seus planos de ação em relação ao HAMAS”. O conceito básico que norteou Israel nos últimos anos é o de que o controle do Hamas na Faixa tem sido administrável e, até mesmo "bom para os judeus", e no final das contas, menos risco para a segurança do que qualquer cenário alternativo. Mas Israel já não pode se dar ao luxo de transmitir a mensagem de sempre, qual seja a de que a "calma será recebida com calma". A mensagem, agora, é a de que “a agressão será recebida com a perda do território e o extermínio da organização terrorista”, pois a Israel não resta outra opção para existir.

O HAMAS vem operando na suposição básica de que Israel acabará por agir para preservar seu domínio sobre a Faixa de Gaza e, daí a atual confiança do grupo terrorista e, mesmo, sua euforia. Também acredita que Israel não quer, de fato, eliminá-lo ou matar seus líderes.

Para forçar esses líderes a reconsiderar a sua atitude, portanto, Israel deverá, no entanto, agilizar o que começou, e depressa. O HAMAS precisa entender que as regras do jogo já mudaram e que Israel está disposto a destruí-lo bem como o seu regime local, reincorporando toda a Faixa de Gaza ao país, se necessário.

Tzipi Livni deu o primeiro passo nessa direção, para a surpresa de seus entrevistadores, ao dizer pelo Canal 2 da mídia judaica, nesta última sexta-feira à noite, que não descartou a ideia de eliminar o HAMAS, caso isso seja preciso para restaurar uma calma sustentada no seio da população palestina de Gaza.

O que há, todavia, até o momento, não é uma recomendação explícita para as FDI reocupar e reincorporar o pequeno território litorâneo de Gaza ao pai, mas, apenas a missão de pôr fim ao conflito pela única opção deixada aos judeus, eliminar o HAMAS como grupo terrorista, o que implica a levá-lo a crer que o seu desaparecimento será iminente, caso ele não deponha suas armas. Certamente, seus líderes, por enquanto, não pensam em nada parecido com nisso no momento.

A proposta de cessar-fogo apresentada pelo Qatar se constitui mais ou menos dos mesmos termos que o HAMAS vem exigindo desde o início da operação, inclusive com algumas exigências adicionais, como a libertação de prisioneiros como ocorreu no acordo de troca de Gilad Shalit, onde os libertados foram presos novamente na recente varredura da Cisjordânia pelas FDI. Também exige a abertura da passagem de Rafah com o Egito, além da construção de um porto em Gaza e muito mais. Tais exigências devem ser cumpridas paralelamente com um cessar-fogo.

Esses termos foram encaminhados ao governo americano, que foi convidado pelo Qatar para intermediar as tratativas com Israel. Um dos objetivos – embora não o único – era o de manter o Egito fora do esforço de cessar-fogo.

O tratamento desta questão pelos norte-americanos, no entanto, tem sido tipicamente hesitante e pouco claro, como, por sinal, têm sido as posições de Barak Obama em relação ao habitual apoio a Israel por parte da Casa Branca. Washington flertou tanto com Doha como com o Cairo.
Foi só depois que Israel exigiu que o Qatar ficasse de fora das negociações e a partir da imagem de que os EUA teriam ao anunciar seu apoio à iniciativa egípcia, com suas cláusulas que, que em grande parte ignoram as exigências do HAMAS, que Israel, a Liga Árabe, os EUA rapidamente se entenderam.

Empresas do Qatar dão apoio contínuo ao HAMAS, o que explica a sua retirada plena da proposta egípcia. No Egito, o ministro do Exterior Sameh Shukri entendeu bem isso e acusou diretamente Doha e Ancara de tentarem minar deliberadamente seus esforços de cessar-fogo. A Turquia reagiu ferozmente, com o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan chamando o presidente egípcio, Abdel-Fattah el-Sissi, de ditador.

E assim, as iras sunitas da guerra são claras com a possibilidade de um cessar-fogo entre o HAMAS e Israel, tornando o cessar-fogo mais remoto. Abbas ainda está tentando preencher a lacuna entre as partes – entre Qatar, Turquia e Egito, ou seja, não entre o HAMAS e Israel. Mas é duvidoso que ele venha a ser o homem capaz de reunir o mundo sunita, amargamente dividido.

Aliás, a sorte de Israel – muitos já disseram isso com boa dose de razão – consiste na aparente incapacidade de unificação do mundo árabe, fortemente dominado pelo islã. 
Não tendo mais o que fazer e fustigado pela barragem de foguetes meia-bocas que Gaza tem despejado sobre o estado judaico, Israel foi forçado a seguir a única opção de sobrevivência que lhe restou e a mensagem que agora passa aos árabes é a de que “quem com ferro fere, com ferro será ferido”, isso para dizer o mínimo.

Tel Aviv sabe que, por outro lado, a reincorporação da Faixa de Gaza o obrigará a repensar com cuidado o destino da população palestina que lá habita, acostumada a pensar que quanto maior for o sofrimento mais créditos terão junto a Allah e que a imolação da guerra vai garantir a essa gente pobre e miserável as maravilhas do paraíso islâmico.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional), 19-07-2014

Ler, ainda, em inglês:

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