A pista que não existia

Alberto José

A passageira da nossa aeronave, com muitos anos de aviação, deu um pulo, se jogou no assento da esquerda e gritou: "Deixa que eu piloto e faço a navegação, eu conheço a rota, conheço a pista e as autoridades de lá são minhas amigas! E eu quero apoio da galera que está sentada aí atrás para me proteger dos críticos e invejosos".

De vez em quando, a navegadora abria um blogue para "conversar" com o seu fã clube que estava lá atrás e informar sobre a rota: "Está tudo limpo, maravilha, céu de brigadeiro, estou no comando de tudo"!

O problema é que ela não mantinha o voo nivelado; subia, descia, dava e tirava potência entre resmungos e imprecações contra alguns passageiros que adentravam a cabine para perguntar se ela fez o plano de voo!

E assim foi a viagem em meio a trancos e barrancos mas com muita esperança, segundo a nossa comandante!

Quando a aeronave só dispunha de 45 minutos de combustível e os passageiros que não eram do fã clube já estavam cansados e de saco cheio, ela avisou que não precisavam se preocupar com alternativa; a pista estava pertinho, bastava fazer um VFR sem estresse. Ela disse que as autoridades, suas conhecidas, já tinham informado pela fonia que uma grande recepção seria prestada no aeroporto para homenagear a amiga e os seus "liderados"!

De repente, quando saiu da perna do vento e entrou na reta final para o pouso a aeronave estremeceu, cabrou, quase no stall, picou e arremeteu com o pouco de potência que ainda restava.

Então, a nossa comandante pálida de pavor e sem ter uma explicação, gritou lá da frente: "Gente, não sei o que aconteceu... tive que arremeter pois lá embaixo não tem pista nenhuma... apertem o cinto que eu vou tentar pousar no mato sem cachorro!"

Título e Texto: Alberto José, membro da ABM, 02-07-2014

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