domingo, 5 de outubro de 2014

A ‘revolução dos guarda-chuvas’ enfrenta repressão

Povo de Hong Kong, na China, enfrenta a repressão da ditadura socialista chinesa por democracia autêntica.
Luis Dufaur

“Revolução dos guarda-chuvas” não quer os “dois ou três” candidatos mais ou menos idênticos escolhidos e aprovados pelo politiburo de Pequim e pelas artimanhas políticas do PCC.

Hong Kong, uma das grandes capitais financeiras do mundo, é proa de violentos enfrentamentos entre a polícia de um lado, e de estudantes e jovens de outro. O caso se arrasta há vários anos, mas adquiriu desta vez uma proporção inigualável. Está sendo chamado de “revolução dos guarda-chuvas”, porque os manifestantes se valem deles para se defenderem dos jatos d’água e dos gases lançados da polícia chinesa.

O bairro Central, centro das instituições financeiras, assemelha-se a um campo fortificado pelos manifestantes, informou o jornal “Libération” de Paris. Centenas de policiais da tropa de choque tentaram desalojá-los, utilizando escudos, cassetetes e gases. Os jovens responderam “armados” com guarda-chuvas, máscaras caseiras, óculos de mergulho e barricadas improvisadas.

A disputa é por uma questão vital: a cidade terá eleições e o governo de Pequim cerceou drasticamente o seu significado. O voto será universal, mas os candidatos foram escolhidos através de um alambicado e obscuro processo. Todos os candidatos, uns mais, outros menos, representam a mesma coisa: a vontade do governo socialista de Pequim. Os manifestantes se sentem ludibriados: Que democracia é essa, na qual todos os candidatos dizem mais ou menos as mesmas coisas e obedecem no fundo a uma mesma ideologia?! Os candidatos a cada cargo ou função não poderão ser mais de “dois ou três” e todos devem ser aprovados pelo Partido Comunista Chinês.

A “revolução dos guarda-chuvas” teme que Pequim acabe enviando tanques, como fez para esmagar o movimento pela liberdade na Praça da Paz Celestial, em 1989. Ainda assim, os jovens decidiram lançar uma “campanha de desobediência civil” antes do previsto. O jogo é do tipo “tudo ou nada”. É mais difícil os tanques aparecerem agora, quando ainda há um resto de liberdade, do que amanhã, quando o socialismo terá consolidado suas posições no território e fatalmente Hong Kong entrará em declínio, com a fuga de capitais e de mão de obra qualificada.

Como é de praxe nas ditaduras comunistas, o regime pôs a culpa da rebelião de seus cidadãos na “ingerência estrangeira”, leiam-se EUA e Grã-Bretanha.

“Revolução dos guarda-chuvas” resiste às tentativas de repressão policial

“Hong Kong é China” e os assuntos do território “pertencem à soberania chinesa”, afirmou Hua Chunying, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, durante uma coletiva de imprensa. Hua se referia às reações de várias nações livres diante da repressão violenta às manifestações democráticas de seus habitantes. O território está em processo de reintegração à China desde 1997, com salvaguardas explícitas das liberdades adquiridas e do sistema de capitalismo privado.

O porta-voz insistiu que o governo chinês recusa qualquer tipo de apoio às iniciativas do movimento democrático, qualificadas arbitrariamente por ele de “atividades ilegais”, segundo noticiou o jornal espanhol “El Mundo”. Hua qualificou de “assembleia ilegal” os sucessivos protestos que estão acontecendo em Hong Kong, os quais, segundo o ditatorial sistema chinês, “debilitam a ordem social e o estado de direito”, coisas que o socialismo chinês jamais levou ou leva a sério.

Até o presente, a polícia havia utilizado a violência maciça e gases lacrimogêneos contra a população de Hong Kong. Seria preciso remontar aos tempos da repressão maoísta dos anos 1960 para encontrar algo igual, escreveu o jornal “Le Figaro” de Paris.

As manifestações estão se espalhando pelos bairros populares e aguarda-se uma passeata gigante para o 1º de outubro, aniversário da instalação do poder comunista.

“A população está encolerizada”, diz Jean-Pierre Cabestan, professor da Universidade Batista de Hong Kong. “Ela se sente enganada. Nós lutaremos até o fim para impedir que vire uma cidade chinesa como as outras”, onde não há liberdade, acrescentou.

O movimento havia organizado um referendo não reconhecido pelo governo, contra os projetos liberticidas de Pequim, e recolheu 700.000 votos de apoio em junho.

Surpreendida pela extensão do protesto, Pequim mandou recolher sua tropa de choque. Mas a multidão continua em pé de guerra.

“Revolução dos guarda-chuvas” diz “não” ao liberticídio socialista de Pequim

Para o jornal francês “Le Monde”, a lembrança de Tiananmen (abril a junho de 1989) está viva em muitas pessoas, inclusive nos dirigentes do Partido Comunista. Naquelas manifestações, foram trucidadas centenas de jovens, massacrados na Praça da Paz Celestial, a maior de Pequim. 

Passar os tanques por cima dos manifestantes de Hong Kong não parece provável, diz “Le Monde”, mas há vozes no politburo socialista chinês que pedem essa solução.

Como o Partido Comunista não goza de simpatias dignas de nota no território de Hong Kong, ele confia em partidos camuflados com nomes enganosos, como o DAB (em inglês: Aliança Democrática pela Melhoria e pelo Progresso de Hong Kong).

Tsang Wai Hung, chefe da polícia local, após os enfrentamentos que mandaram 26 jovens ao hospital, garantiu que só fará um “uso mínimo” da força.

Por sua vez, o movimento democrático Occupy Central condenou a conduta “unilateral” das autoridades e exigiu que a polícia pedisse desculpas. A violenta repressão está suscitando muitas simpatias na opinião pública chinesa e internacional.

Título e Texto: Luis Dufaur, "Pesadelo chinês", 30-9-2014

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