terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Contos moucos dos loucos (XXIV) – Bem feito!

Nasceu em Cadavão, uma pequenina aldeia no Concelho de Vila Nova de Gaia.
Quando chovia, o caminho que ligava a casa da mãe ao centro da aldeia encharcava e só passavam os carros de bois. Aliás, era um caminho para eles, os bois. Então, como era impossível passar, ele (e outros) tinha que dar uma grande volta, pela Pala.

Era coisa de uma hora até chegar à escola, a pé!
Fez a primária.

Seus pais, pobres, como eram noventa por cento dos portugueses, emigraram para Angola.
Lá, o pai começou como carpinteiro, e ele continuou na escola. Com isenção de propinas, haja vista a condição econômica dos pais.
Fez a secundária.

Aos quinze anos foi trabalhar com o pai, nas obras. Era servente. Mas ele queria chegar à Universidade. Necessário juntar dinheiro para as despesas inevitáveis…

Estudou e se formou em Medicina Pediátrica. E seguiu… Tornou-se um conceituado Pediatra e respeitado pelo trabalho voluntário, uma vez por semana, nos musseques de Luanda. Especialmente o de Sambizanga.

Um dia, passeava em Paris. Era verão. O cordão de ouro com a cruz de Cristo era visível. Ele usava a camisa aberta quase até à barriga… Estava feliz, adorava Paris e a mulher que estava ao seu lado. Bom, adorava a mulher, primeiro, depois, Paris. Mas não foi em Paris.

Foi no Rio de Janeiro, na areia da praia de Copacabana, morreu esfaqueado por causa do ‘maldito cordão com a cruz’.

Foi morto por uma pessoa boníssima, descendente de escravos negros (capturados e negociados pelos malditos caçadores de escravos brancos portugueses), mas que, coitadinha, não pôde estudar, o pai mal ganhava para sustentar a mulher e os… oito filhos.

Ele, o coitadinho, já tinha passagens pela Polícia, nada demais: roubos, assaltos…

Comentaristas e comentadores, sábios da bardamerda, compungidos, afirmavam que a sociedade precisava prestar atenção às “injustiças sociais”, a esses filhos do Brasil sem proteção, sem cuidados, sem carinho…

Um deputado brasileiro, famoso defensor dos oprimidos e excluídos, propôs uma Marcha pela Paz e Solidariedade e que o governo do Brasil arcasse com os custos do fretamento de milhares de ônibus de quase todos os Estados brasileiros que acorrerão a essa histórica Marcha.

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