domingo, 11 de setembro de 2016

Tratar da caspa com guilhotina

José Milhazes

Portugal precisa de estar pronto para enfrentar graves desafios a qualquer momento. Por isso, necessita de umas Forças Armadas (incluindo Comandos) bem equipadas e treinadas para responder a eles

O Bloco de Esquerda e a sua dirigente Catarina Martins, tal como o Partido Comunista Português e Jerónimo de Sousa, podem fazer as declarações mais desastrosas para ganhar apoio, mas espero que não se esqueçam que nem todos os portugueses, muito longe disso, se deixam levar por soluções fáceis ou tenham memória curta.



A extrema-esquerda nunca teve grande simpatia pelos Comandos portugueses pelo papel que eles desempenharam na travagem de Portugal para uma guerra civil e na luta pela democracia em 1975. E esta é uma das razões principais que a leva a pedir a sua extinção.

Ao propor o fim dos Comandos, Catarina Martins propõe que se trate da caspa com a guilhotina e não a solução de problemas reais que existem dentro das Forças Armadas. Diz a líder do BE que “reconhecer a tragédia exige extinguir o batalhão de Comandos”, mas, se esta frase for levada à letra, não haverá profissão, nem ocupação que escape. Morrem muitos mais bombeiros do que militares em Portugal e ninguém veio exigir que se acabe com os “soldados da paz”.

É verdade que Portugal não está em guerra e está literalmente a arder, mas isso não é também argumento para se acabar com as tropas especiais. Deve-se, sim, reforçar as medidas preventivas e o apoio aos bombeiros nos combates aos incêndios e não levantar falsos problemas.

A extrema-esquerda, ao fazer semelhantes declarações, passa a si própria um atestado de incompetência ou, o que é mais provável, fá-la com a má intenção de enfraquecer as Forças Armadas portuguesas.

Os Comandos não são uma tropa qualquer, mas um corpo militar altamente preparado para participar em operações de grande risco. O facto de Portugal não ter necessidade agora, neste momento, de empregar esses soldados de elite, não significa que não seja obrigado a fazê-lo a qualquer momento. Bastar estar minimamente atento às notícias que nos chegam do mundo para compreender que ele está cada vez mais instável, menos seguro. Os Comandos são como os socorristas: devem estar sempre prontos a actuar, embora não sejam chamados a fazê-lo a toda a hora. E, como diz o povo, “homem prevenido vale por dois”.

Além disso, é de salientar que os homens e mulheres que ingressam nos Comandos fazem-no voluntariamente e sabem para onde e para o que vão, o mesmo sucedendo com fuzileiros navais ou polícias. Sabem que poderão ter de actuar em situações de alto risco e devem ser sujeitos a treinos especialmente duros e exigentes.

Claro que a morte dois soldados dos Comandos, tal como a morte de qualquer pessoa, é sempre um acto lamentável, e, por isso, a posição da extrema-esquerda face a isto é ainda mais demagógica e desonesta.

Após esta tragédia, mais importante do que exigir a extinção dos Comandos, é apurar as verdadeiras causas que levaram à morte dos dois soldados, determinar se houve violação ou não das normas de treino e se existem responsáveis por isso. Como afirmou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, “não está em causa a extinção dos Comandos, mas uma coisa são as instituições outras coisas são as práticas e comportamentos. Há que apurar quais as práticas e comportamentos de tudo o que aconteceu”.

Neste processo, o Ministério da Defesa e os militares em geral são os mais interessados em esclarecer cabalmente o sucedido e tomar medidas para que tragédias semelhantes não se repitam.

Não quero augurar desgraças, mas Portugal precisa de estar pronto para enfrentar graves desafios a qualquer momento. Por isso, necessita de umas Forças Armadas bem equipadas e treinadas para responder a eles. Os Comandos são uma das partes fundamentais da organização castrense e devem merecer todo o apoio e estimação.

Por isso, aconselho a extrema-esquerda (BE e PCP) a procurarem causas mais úteis ao país. Por exemplo, o apuramento de responsabilidades na Caixa Geral de Depósitos.
Título e Texto: José Milhazes, Observador, 11-9-2016

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