Diogo Pacheco Amorim
Há tempos sem fim que sigo as
eleições presidenciais americanas. Vi a gente do costume a bater forte e feio
em Nixon, Reagan e Bush. Nunca, mas nunca, assisti a uma campanha tão miserável
contra um candidato que ameaçasse as várias Esquerdas mas, principalmente,
ameaçasse os proventos da canalha da Finança rentista que lhes paga o circo.
Campanha miserável, histérica, um tudo-por-tudo que me espantou, por muito
habituado que esteja a ver este circo. E foi assim que, logo nos primeiros dias
da campanha para as Primárias, a minha escolha estava feita: um tipo que
incomodava tanto o establishment, a esquerda caviar, a Esquerda bronca e toda a
ralé politicamente correcta, só podia ser de apoiar. Apoiar, e com todo o
entusiasmo deste mundo. E tê-lo-ia feito ainda que Trump tivesse o cabelo às
riscas e o ar alheado de um marinheiro rasca afocinhado no chão de uma qualquer
taberna escusa do porto de Amsterdam.
E porquê?
Porque essa canalha maior - e
tão discreta - que manda na canalha menor que faz o barulho, não é dada a
histerismos: não, de forma alguma: quando manda os seus servos da gleba e os
idiotas úteis bater em alguém, é porque esse alguém é perigoso. E quando se
passa o que se passou e- inacreditávelmente - se está a passar com Trump,
perdida que está toda a mais elementar prudência, com os fios das marionettes
integralmente à vista, só posso concluir que Trump é, decididamente, um perigo
mortal para os crocodilos do pântano.
Mas vamos ao aspecto de Trump:
não corresponde, decididamente, ao clássico padrão do gentleman farmer britânico. Mas a questão, clara e incontornável, é
que foram tipos com a aparência de sólidos e respeitáveis sócios dos clubes
londrinos de Pall Mall quem nos trouxe até à borda do abismo onde estamos.
Em 50 anos, duas excepções:
Um ator de quinta ordem com
uma pronúncia a milhas da elegante dicção da Costa Leste, uma delas; a outra, a
pouco elegante filha de um merceeiro de província, com uma pronúncia capaz de
arrepiar o mais surdo dos oxfordianos. Foram esses dois pequeno-burgueses, de uma
tão mal-amanhada aparência quem nos salvou da hecatombe eminente que ia ser o
cair nas unhas da União Soviética. Umas unhas recurvas para onde a estupidez
bem vestida e bem falante dos bostonianos Kennedy nos foi empurrando durante
alguns anos.
Patton [foto], o grande general
americano que nos quis salvar da Guerra Fria e a quem se deve parte substancial
da vitória aliada da 2ª Grande Guerra, era uma espécie de Trump. No polo oposto
estava Eisenhower, o arqui-inimigo de Patton, o imensamente medíocre general bem
compostinho, bem vestidinho e bem falante – emérito jogador de golfe. Foi este
quem ficou com os louros das vitórias de Patton; como foi ele, Eisenhower, o
grande e principal culpado da cortina de ferro que quebrou a espinha da Europa
entregando metade do continente a Estaline.
Claro que gosto de ver gente
bem vestida, que fale baixo e que sorria; gosto dos alfaiates de Saville Row,
de parkas da Barbour já muito gastas e das gravatas dos Marinella de Nápoles
(já vão na 4ª geração); adoro os Bentleys dos anos 50, os jactos de negócios
discretos e belos veleiros de três mastros a cortar as ondas; como detesto
restaurantes in enquanto me sinto em
casa nos bons velhos restaurantes que foram in
nos idos dos anos 40, 50 ou 60 ... e que conseguiram sobreviver, desde o Maxim’s
de Paris até ao Aviz de Lisboa sempre passando pelo Botín de Madrid; nisto, e
em muitas outras coisas, sou tudo o contrário de Trump. Mas, meus amigos, as
qualidades necessárias para que se possa ser um grande Presidente dos EUA
nestes tempos conturbados, mesmo trágicos, mas decisivos, que se vivem, não têm
nada a ver com charme discreto e bom gosto: são qualidades incómodas, mal
vindas num jantar de gente civilizada. São elas: Decisão, Coragem, sentido do
Poder, capacidade de enfrentar e de confrontar. E, principalmente, um saudável
e sideral desprezo, sem qualquer respeito humano, pelo que a CNN e a ralé
comunicativa possa dizer ou achar; last,
but not the least, um igual desprezo pelo barulho e pela agitação da
canalha global das ruas deste mundo.
Essas qualidades, todas elas e
mais algumas, são bem visíveis em Donald Trump.
God Bless America ... and the President Trump!
Título e Texto: Diogo Pacheco Amorim, 22-1-2017
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