Valdemar Habitzreuter
No mundo em que vivemos
deparamo-nos com coisas, eventos. Portanto, há coisas, há entes, há
acontecimentos. Ontem mesmo tivemos um acontecimento marcante na nossa política
brasileira com o envolvimento do Presidente Temer na delação da JBS. Isso tudo
está englobado na existência, é pertinente à ontologia, à dimensão do ser.
Normalmente somos rodeados por
coisas concretas. No entanto, há coisas não concretas que também admitimos como
existentes. Podemos dizer que tudo o que a linguagem formula como existente
existe. Pode algo não existir espaciotemporalmente, mas pode existir como
ideia, imaginariamente, ficcionalmente... A moeda bitcoin, por exemplo, tão
propalada por esses dias por conta de hackers fazendo estrago no mundo virtual,
é algo incorpóreo, mas existe, embora exista no sentido virtual. Podemos fazer
transações com ela, tal qual como com outra moeda visual qualquer.
Hoje em dia o virtual,
praticamente, nos domina, já não fazemos distinção rigorosa entre real e
virtual. Percebemos o mundo de hoje num
viés tecnológico em que a tecnologia é um prolongamento de nossa consciência,
nossa consciência alargou-se através da tecnologia, principalmente a
computacional. Mas, ontologicamente,
precisamos tomar cuidado quando falamos de coisas que não sabemos se existem
concretamente, mas afirmamos que existem. É necessário determinar o domínio a
partir do qual estamos falando.
Devemos, assim, distinguir
tipo de entidade de entidade específica... Dando um exemplo: podemos enunciar o
seguinte: há um tipo de entidade chamada árvore. Isso significa que não temos
uma noção exata o que é uma árvore específica, de que existem árvores
concretamente. É um enunciado que diz respeito apenas a um tipo de entidade,
isto é, deve haver algo chamado árvore.
Mas, quando aponto para uma árvore específica, existente, verifico que
árvores existem, sim.
De outro lado, podemos falar
de tipos de entidade sem que possamos verificar in concreto sua existência. Por
exemplo, Deus, alma... são tipos de entidade dos quais podemos falar ou ter uma
ideia, mas não saberíamos apontar como entidades existentes, como e onde
existem. Não nos defrontamos com algo que nomeamos Deus ou alma.
Para que possamos admitir a
existência de entidades não verificáveis teoricamente – toda teoria almeja a
certeza - necessitamos posicionar-nos em outro domínio discursivo para falar
dessas entidades, onde a certeza é induzida por convicções subjetivas e não
objetivas. No exemplo de Deus e alma só
podemos aceitar sua existência através de um discurso religioso, no âmbito das
religiões, que nos leva a crer nessas entidades.
Criações ficcionais na
literatura romanesca também são coisas inexistentes in concreto, mas que estão
aí existindo no âmbito ficcional. Os personagens fictícios Riobaldo e Diadorim
no romance ‘Grande Sertão: Veredas’ de Guimarães Rosa existem. Não no âmbito da
vida concreta, mas no domínio ficcional.
Portanto, convém que
coloquemos ordem em nossa consciência quando falamos das coisas. Sempre saber
de que domínio partimos para falar das coisas que a linguagem nos traduz como
existentes.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 18-5-2017
Colunas anteriores:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-