sexta-feira, 19 de maio de 2017

[Para que servem as borboletas?] Ensaio ontológico...

Valdemar Habitzreuter

No mundo em que vivemos deparamo-nos com coisas, eventos. Portanto, há coisas, há entes, há acontecimentos. Ontem mesmo tivemos um acontecimento marcante na nossa política brasileira com o envolvimento do Presidente Temer na delação da JBS. Isso tudo está englobado na existência, é pertinente à ontologia, à dimensão do ser.

Normalmente somos rodeados por coisas concretas. No entanto, há coisas não concretas que também admitimos como existentes. Podemos dizer que tudo o que a linguagem formula como existente existe. Pode algo não existir espaciotemporalmente, mas pode existir como ideia, imaginariamente, ficcionalmente... A moeda bitcoin, por exemplo, tão propalada por esses dias por conta de hackers fazendo estrago no mundo virtual, é algo incorpóreo, mas existe, embora exista no sentido virtual. Podemos fazer transações com ela, tal qual como com outra moeda visual qualquer.

Hoje em dia o virtual, praticamente, nos domina, já não fazemos distinção rigorosa entre real e virtual.  Percebemos o mundo de hoje num viés tecnológico em que a tecnologia é um prolongamento de nossa consciência, nossa consciência alargou-se através da tecnologia, principalmente a computacional.  Mas, ontologicamente, precisamos tomar cuidado quando falamos de coisas que não sabemos se existem concretamente, mas afirmamos que existem. É necessário determinar o domínio a partir do qual estamos falando.

Devemos, assim, distinguir tipo de entidade de entidade específica... Dando um exemplo: podemos enunciar o seguinte: há um tipo de entidade chamada árvore. Isso significa que não temos uma noção exata o que é uma árvore específica, de que existem árvores concretamente. É um enunciado que diz respeito apenas a um tipo de entidade, isto é, deve haver algo chamado árvore.  Mas, quando aponto para uma árvore específica, existente, verifico que árvores existem, sim.

De outro lado, podemos falar de tipos de entidade sem que possamos verificar in concreto sua existência. Por exemplo, Deus, alma... são tipos de entidade dos quais podemos falar ou ter uma ideia, mas não saberíamos apontar como entidades existentes, como e onde existem. Não nos defrontamos com algo que nomeamos Deus ou alma.

Para que possamos admitir a existência de entidades não verificáveis teoricamente – toda teoria almeja a certeza - necessitamos posicionar-nos em outro domínio discursivo para falar dessas entidades, onde a certeza é induzida por convicções subjetivas e não objetivas.  No exemplo de Deus e alma só podemos aceitar sua existência através de um discurso religioso, no âmbito das religiões, que nos leva a crer nessas entidades.

Criações ficcionais na literatura romanesca também são coisas inexistentes in concreto, mas que estão aí existindo no âmbito ficcional. Os personagens fictícios Riobaldo e Diadorim no romance ‘Grande Sertão: Veredas’ de Guimarães Rosa existem. Não no âmbito da vida concreta, mas no domínio ficcional. 

Portanto, convém que coloquemos ordem em nossa consciência quando falamos das coisas. Sempre saber de que domínio partimos para falar das coisas que a linguagem nos traduz como existentes.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 18-5-2017

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