terça-feira, 13 de outubro de 2020

Mandetta é um político em campanha eleitoral

Rodrigo Constantino 

O programa Roda Viva, outrora respeitado, virou uma espécie de convescote antibolsonarista, escolhendo a dedo entrevistados que vão detonar o presidente Bolsonaro. Nesta segunda foi a vez de Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde.

Mandetta afirmou que as falas do presidente Jair Bolsonaro minimizando a pandemia do novo coronavírus não são fruto de despreparo, e sim "decisão consciente" do governo. Segundo Mandetta, ainda em março o chefe do Executivo sabia que o país poderia chegar a 180 mil mortos:

Não acho que seja despreparo, acho que foi uma decisão consciente, sabendo dos números, apostando num ponto futuro (...) Ele se abraçou na tese da economia, já para ter uma vacina para ele e falar: 'a economia vai recuperar, fui eu que recuperei, não deixei'. Ele fez uma opção política consciente que colocava em risco a vida das pessoas. Isso foi consciente da parte dele, não tenha dúvidas. 

Em sua metralhadora giratória contra o presidente, sobrou até para Paulo Guedes. Segundo Mandetta, o ministro só pensava em "números" e na sua influência sobre o presidente, enquanto ele, o abnegado, estava focando em vidas humanas: 

Eu precisava que entendessem o contexto da doença para somar esforços e falarmos: 'quando tivermos todas as armas, aí vamos começar a falar da atividade econômica'. Mas era muito difícil. Ele [Guedes] olhava muito para si, muito para dentro de seu próprio ministério, e o grau de influência om o presidente... ele devia chegar no presidente e falar: 'Esse ministro da Saúde vai parar o Brasil, o mundo vai acabar, vai ter desemprego, gente na rua, quebra quebra. Ele deve ter sido de grande influência para o presidente tomar aquelas atitudes. 

Mandetta não estava numa entrevista de fato, mas sim num ambiente amigável em que bolas eram levantadas para ele cortar. Uma "entrevista" feita para render manchetes contra o governo. Por acaso perguntaram sobre a Argentina, que está com um dos mais rigorosos isolamentos do mundo e péssimo resultado? Questionaram o ex-ministro sobre a OMS tirando o corpo fora acerca do lockdown? E sobre o ex-ministro ter mandado ficarem em casa até sintomas graves, o que pode ter ocasionado várias mortes desnecessárias? Pois é. Militância não é jornalismo... 

Quando era ministro, Mandetta mais parecia o Rolando Lero naquelas coletivas infindáveis em que falava até da sua infância. Sua formação técnica é de ortopedista, ou seja, nada ligado a epidemias. Ainda assim, ele se considerava a ciência incorporada no governo, e quando foi demitido chegou a afirmar que a ciência tinha sido exonerada do cargo. Tamanha arrogância não combina com a postura de quem realmente valoriza o método científico, ainda mais em meio a tantas incertezas sobre o vírus chinês. 

Em texto publicado pela Gazeta, John Tierney, do City Journal, mostra como o lockdown foi uma experiência que falhou. O grau de convicção científica jamais seria suficiente para justificar uma medida tão drástica. O autor lembra de algo que os isolacionistas preferem esquecer: 

Em sua pressa inicial para bloquear a sociedade, eles insistiram que não havia tempo para tal análise - e, além disso, essas eram apenas medidas temporárias para “achatar a curva” e não sobrecarregar os hospitais. Mas desde que esse perigo passou, os responsáveis ​​pelo bloqueio encontraram uma razão após a outra para perseverar com fechamentos, proibições, quarentenas, toques de recolher e outras ordens. Anthony Fauci, assessor da Casa Branca, disse recentemente que, mesmo que uma vacina chegue logo, ele não espera um retorno à normalidade antes do final do próximo ano. 

Ele e políticos como o governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, e o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, professam estar seguindo "a ciência", mas nenhum cientista ético conduziria uma experiência tão arriscada sem considerar cuidadosamente os perigos e monitorar os resultados. Depois de fazer isso, um grupo de pesquisadores renomados nesta semana pediu o fim do experimento. Em uma declaração conjunta, a Declaração de Great Barrington, eles previram que os bloqueios contínuos levariam a "mortalidade excessiva nos próximos anos" e alertaram sobre "danos irreparáveis, com os desfavorecidos desproporcionalmente prejudicados". 

Não é ciência. Pode ser um misto de oportunismo político, histeria, medo, cautela excessiva e ideologia, mas não é ciência. A paralisação da economia foi sem precedentes, e o custo disso será gigantesco. Em vidas! Os resultados, do ponto de vista de óbitos evitados, são absolutamente inconclusivos, para dizer o mínimo. 

Quem ainda tenta posar de ícone da ciência e monopolizar as intenções nobres com as vidas humanas depois de tudo que sabemos é um oportunista. Mandetta acusa Bolsonaro e Guedes por cálculo eleitoral. Ele faz oposição ao governo, e tenta preservar uma imagem de técnico focado somente em salvar as vidas, enquanto a dupla Bolsonaro/Guedes seria insensível. Não cola. 

Mandetta não tem futuro político, justamente porque esse truque está manjado. Pode agradar a patota em sua bolha "progressista", a turma da quarentena gourmet que se sentia o máximo por repetir a hashtag "fique em casa". Mas fora da bolha o povo não é trouxa desse jeito. Sabe que esse tipo de medida lhe custou muito caro, e por pseudociência, não ciência de verdade. 

Título e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 13-10-2020, 10h53

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