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Agência Lusa |
Rui Costa Pinto
A realidade inquietante na UE
é diariamente ultrapassada por novas ameaças catastróficas em que a existência
de planos de emergência para o fim do euro já é assumida abertamente.
Em Portugal também não faltam
exemplos simbólicos desta degradação, dos mais graves até aos mais prosaicos,
entre os quais se destacam os recentemente noticiados: sinais alarmantes de
pobreza; aumento do desemprego; medicamentos em falta para tratar doenças
crónicas nos hospitais públicos; ministro que chegou em duas rodas à tomada de
posse desloca-se agora num potente carro de luxo; justiça exaurida de recursos
realiza inquéritos com base em cópias para avaliar a autenticidade de
documentos; crescente insegurança; e distúrbios registados num simples jogo de
futebol por causa das medidas de segurança adoptadas para os prevenir.
Neste clima de nervosismo e
desvario, o primeiro-ministro deu uma entrevista a José Gomes Ferreira, na SIC, (vídeo abaixo) para reafirmar que a realidade é mais forte do que os discursos palavrosos de
quem continua a julgar que vale a pena continuar a iludir um país inteiro.
Passos Coelho dirigiu-se aos portugueses para
reafirmar que as incertezas continuam a ser maiores que as esperanças,
começando a prepará-los para novas medidas de austeridade caso o clima
internacional se agrave ainda mais.
Esta é a atitude adulta que
tem faltado em Portugal. Felizmente, o chefe do governo revelou nervos de aço,
adoptou um discurso limpo e assumiu a realidade de frente, partilhando-a com os
portugueses. E ainda teve tempo para colocar a Presidência da República no seu
devido lugar, aplainando futuras polémicas entre órgãos de soberania.
É neste quadro medonho que
pequenos progressos são de enaltecer, sobretudo quando estão a montante das
contas públicas. Entre eles, de sublinhar os dados revelados pela Transparência
Internacional, cujo índice reflecte como a população avalia a corrupção.
Não é certamente por acaso que
a opinião dos portugueses sobre este flagelo evoluiu positivamente, afastando o
cenário dantesco registado nos últimos anos, com pico em 2009. Ainda de acordo
com estes dados, é possível constatar que os países com mais corrupção são
precisamente os mais pobres, como são, entre outros, os casos da Grécia e de
Angola.
Se Portugal ainda está longe
de atingir o nível dos menos corruptos – Dinamarca, Finlândia, Singapura e Nova
Zelândia –, a verdade é que algo está a mudar. Cinco meses depois da tomada de
posse de Passos Coelho, esta melhoria da percepção do fenómeno da corrupção é
um facto digno de destaque.
Mas a necessidade de perseguir
os que roubam e empobrecem o país, consensual em todos os extractos sociais,
não se realiza apenas com palavras corajosas, nem se cumpre com melhores
indicadores estatísticos.
Passos Coelho tem de potenciar
este denominador comum para mobilizar a sociedade, porventura o único que não
necessita de betão e nomeações, e que permitiria meter muito dinheiro nos
cofres públicos sem ser à custa dos sacrifícios de quem trabalha.
O sucesso da governação também
passa por abraçar esta luta, garantindo que os ganhos do crime revertam a favor
da investigação criminal, sem medo de desagradar a lóbis partidários e
poderosos interesses económicos e financeiros.
O combate implacável contra a
corrupção pode ser o cimento que falta a Passos Coelho para sobreviver
politicamente à impopularidade das medidas de austeridade e ao desgaste da
governação.
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