segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Nervos de aço

Felizmente, o chefe do governo revelou nervos de aço, adoptou um discurso limpo e assumiu a realidade de frente, partilhando-a com os portugueses

Agência Lusa
Rui Costa Pinto
A realidade inquietante na UE é diariamente ultrapassada por novas ameaças catastróficas em que a existência de planos de emergência para o fim do euro já é assumida abertamente.
Em Portugal também não faltam exemplos simbólicos desta degradação, dos mais graves até aos mais prosaicos, entre os quais se destacam os recentemente noticiados: sinais alarmantes de pobreza; aumento do desemprego; medicamentos em falta para tratar doenças crónicas nos hospitais públicos; ministro que chegou em duas rodas à tomada de posse desloca-se agora num potente carro de luxo; justiça exaurida de recursos realiza inquéritos com base em cópias para avaliar a autenticidade de documentos; crescente insegurança; e distúrbios registados num simples jogo de futebol por causa das medidas de segurança adoptadas para os prevenir.
Neste clima de nervosismo e desvario, o primeiro-ministro deu uma entrevista a José Gomes Ferreira, na SIC, (vídeo abaixo) para reafirmar que a realidade é mais forte do que os discursos palavrosos de quem continua a julgar que vale a pena continuar a iludir um país inteiro.
 Passos Coelho dirigiu-se aos portugueses para reafirmar que as incertezas continuam a ser maiores que as esperanças, começando a prepará-los para novas medidas de austeridade caso o clima internacional se agrave ainda mais.
Esta é a atitude adulta que tem faltado em Portugal. Felizmente, o chefe do governo revelou nervos de aço, adoptou um discurso limpo e assumiu a realidade de frente, partilhando-a com os portugueses. E ainda teve tempo para colocar a Presidência da República no seu devido lugar, aplainando futuras polémicas entre órgãos de soberania.
É neste quadro medonho que pequenos progressos são de enaltecer, sobretudo quando estão a montante das contas públicas. Entre eles, de sublinhar os dados revelados pela Transparência Internacional, cujo índice reflecte como a população avalia a corrupção.
Não é certamente por acaso que a opinião dos portugueses sobre este flagelo evoluiu positivamente, afastando o cenário dantesco registado nos últimos anos, com pico em 2009. Ainda de acordo com estes dados, é possível constatar que os países com mais corrupção são precisamente os mais pobres, como são, entre outros, os casos da Grécia e de Angola.
Se Portugal ainda está longe de atingir o nível dos menos corruptos – Dinamarca, Finlândia, Singapura e Nova Zelândia ­–, a verdade é que algo está a mudar. Cinco meses depois da tomada de posse de Passos Coelho, esta melhoria da percepção do fenómeno da corrupção é um facto digno de destaque.
Mas a necessidade de perseguir os que roubam e empobrecem o país, consensual em todos os extractos sociais, não se realiza apenas com palavras corajosas, nem se cumpre com melhores indicadores estatísticos.
Passos Coelho tem de potenciar este denominador comum para mobilizar a sociedade, porventura o único que não necessita de betão e nomeações, e que permitiria meter muito dinheiro nos cofres públicos sem ser à custa dos sacrifícios de quem trabalha.
O sucesso da governação também passa por abraçar esta luta, garantindo que os ganhos do crime revertam a favor da investigação criminal, sem medo de desagradar a lóbis partidários e poderosos interesses económicos e financeiros.
O combate implacável contra a corrupção pode ser o cimento que falta a Passos Coelho para sobreviver politicamente à impopularidade das medidas de austeridade e ao desgaste da governação.
Título e Texto: Rui Costa Pinto, jornal “i


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