segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A Alemanha a caminho do seu lugar natural na hierarquia das potências


Samuel de Paiva Pires
É indispensável ler A Tragédia do Euro de Philipp Bagus (já nas bancas a edição portuguesa) para perceber a ironia da História que é a moeda única ter sido o preço imposto por Miterrand a Kohl pela reunificação alemã, tentando os franceses, desta forma, contrariar a hegemonia económica e monetária da Alemanha e impedir que esta se tornasse novamente demasiado forte no contexto da hierarquia das potências europeias, para agora o euro ser precisamente o instrumento político que permite à Alemanha fazer dos franceses o que quer e vir a controlar cada vez mais toda a UE. As lições da História e da Geopolítica parecem ser algo que não assiste a muita gente. No contexto dominado pelo economês em que vamos vivendo, onde muitos vociferam violentamente contra o mercado e os especuladores, parece que pouca gente se recorda do processo de unificação alemã no séc. XIX, do aparecimento de Bismarck e da crença deste que, citando Políbio Valente de Almeida, "a hegemonia germânica podia ser aceite pelos outros estados através de uma negociação moderada e credível", e das consequências da paz de Versailles que Lord Keynes bem assinalou que acabariam por levar a outro desastre. Quem não percebe que a humilhação da Alemanha e a tentativa de lhe colocar amarras está e estará sempre fadada ao fracasso, dado não só o carácter dos alemães - uma nação que no espaço de um século provoca duas guerras mundiais e recupera o seu país das cinzas em tempo recorde, elevando-o a potência dominante no espaço europeu e mundial, é, de facto, uma nação com uma certa superioridade - mas também a sua posição geopolítica - convém recordar a Escola Alemã de Geopolítica promovida por Karl Hausofer, que teorizou sobre a noção de Heartland desenvolvida por Mackinder, encontrando-se a Alemanha no Heartland da Europa Ocidental, e o célebre espaço vital ou Lebensraum, assim como a ideia de Mackinder que uma Alemanha aliada da Rússia controlaria o mundo, não senso despiciendo referir as boas relações existentes entre os dois países - não percebeu ainda o que se está a passar. Permitam-me conjecturar que talvez não haja uma reacção lenta da Alemanha à crise.
Ao contrário do que muitos poderíamos pensar, parece-me cada vez mais que Angela Merkel tem estado a colocar em ponto de rebuçado a restante Europa, preparando-se para devolver as vinganças e humilhações que foram impostas aos alemães. Atenção que não estou a falar em teorias da conspiração. As circunstâncias e os acasos que nos trouxeram até aqui são, certamente, fortuitos e o resultado não desejado das intenções e políticas de muitos líderes europeus. Mas a Alemanha saberá, com toda a certeza, aproveitar as oportunidades que lhe são servidas de bandeja. Talvez muitos analistas, especialmente aqueles que têm orgasmos intelectuais quando falam dos BRIC, estejam enganados quanto à ascensão destes ao longo do presente século, a par com o declínio americano e europeu. Diz-me a minha intuição que as próximas décadas serão talvez as da ascensão da Alemanha ao seu lugar natural, de potência mundial, não só a nível económico mas também político e militar. Queriam alta política e liderança? Aí a têm.
Título e Texto: Samuel de Paiva Pires, no blogue "Estado Sentido", 04-12-2011
Colaboração: Ari

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